- O Estado de S.Paulo
Custo global da crise pode chegar a mais de US$ 3 trilhões. Ou seja, estamos perdendo o ano de 2020
No Brasil e no mundo parece estarmos vivendo o cenário do apocalipse de um filme de ficção de Hollywood ou, então, uma terceira guerra mundial. Países fechando as fronteiras, as Bolsas quebrando, o barril do petróleo abaixo dos US$ 30, falta de mercadoria nas prateleiras dos supermercados, a saúde colapsando e policiais nas ruas impedindo aglomerações. As projeções de crescimento econômico mundial são da ordem de 1,5% e o preço do barril em torno de US$ 35, na média, para 2020 e 2021. É bom lembrar que no início de 2020 o Brent no mercado futuro era precificado a US$ 66. O custo global da crise pode chegar a mais de US$ 3 trilhões. Ou seja, estamos perdendo o ano de 2020. No caso da América Latina, a combinação de queda dos preços do petróleo, colapso da moeda e coronavírus vai manter o crescimento abaixo dos 2% em 2020.
O fato é que as consequências ainda são muito incertas. Até o momento, o que se pode ver é uma total desorganização dos mercados financeiros e produtivos, alcançando custos tão gigantes e sem precedentes que é impossível prever qualquer resultado. O problema não é mais preço nem o valor das empresas. É falta total de liquidez. Ninguém compra – ao contrário, vende. Todos passaram a querer estocar desde alimentos até dinheiro.
Estamos distantes de ter a capacidade de responder qual será o novo patamar de preço do petróleo, quando devemos voltar a comprar ações, quanto tempo teremos de crise econômica e quando chegará a vacina do coronavírus. Ou seja, muitas dúvidas e poucas certezas.
Este clima de histeria e de pânico com as lideranças nacionais e mundiais contaminadas pelo vírus da mediocridade só traz o caos aos mercados e à sociedade, criando um vírus econômico que pode levar a uma terceira guerra. É inacreditável que, diante deste cenário de guerra, não seja convocada uma reunião do chamado G-8. O que os grandes líderes mundiais estão pensando? Lamentavelmente, não temos mais um Churchill e um Eisenhower. E, com isso, o vírus econômico já está promovendo uma crise sem precedentes, que vai causar estragos na economia mundial de proporções incalculáveis e que exigirá prazos mais longos de recuperação do que os provocados pelo coronavírus. Resta aos investidores buscar empresas com balanço sólido o suficiente para atravessar a crise. E esperar os bancos centrais darem assistência à liquidez.
O petróleo continua sendo a principal fonte de energia do mundo. Um barril do produto abaixo dos US$ 30 vai tornar os veículos elétricos menos atrativos para os consumidores. Os preços baixos podem adiar o timing da chamada transição energética. A atual crise do petróleo poderá levar a mudanças nas políticas dos governos em relação às fontes renováveis de energia. Por outro lado, preços muito baixos do barril podem levar várias empresas americanas de óleo de xisto a um estresse financeiro. Dos aproximadamente 13 trilhões de títulos corporativos (Corporate Bonds) emitidos por empresas americanas, 20% são de empresas de óleo de xisto. Com um preço do barril inferior a US$ 35, é enorme a possibilidade de essas empresas sofrerem um downgrade em seus ratings de crédito, levando a problemas de liquidez e mesmo a um default. É bom lembrar que estamos em ano de eleições americanas e o governo Trump vai ter de reagir promovendo políticas de tempos de guerra.
Enquanto isso, no Brasil, o governo demorou a reagir. Não estamos vendo o governo mobilizando a sociedade e criando saídas em conjunto com o Legislativo, governadores e prefeitos. Só pronunciamentos patéticos, que não apresentam soluções de curto prazo para os diferentes setores da economia em tempos de guerra. Isso assusta e preocupa. No setor de petróleo, a crise pode pôr em xeque o calendário dos leilões de petróleo e da abertura do mercado de downstream. Tempos bicudos e tristes com a conjugação de três vírus: o coronavírus, o econômico e o da mediocridade, que atingiu já faz tempo a maioria de nossos líderes políticos no Brasil e no mundo.
*É diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)
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