Governador iniciou entrevista coletiva nesta sexta-feira fazendo um discurso direcionado a Bolsonaro e disse não ter medo dos filhos do presidente
Silvia Amorim | O Globo
SÃO PAULO - O governador de São Paulo, João Doria, condenou nesta sexta-feira a campanha em rádio e TV preparada pelo governo federal que recomenda que a população retorne às ruas e que as quarentenas decretadas nos estados sejam flexibilizadas. O tom adotado pelo tucano foi o mais grave desde o início da crise na saúde ocasionada pelo novo coronavírus. Ele atribuiu as ameaças que recebeu ontem ao Palácio do Planalto e a "bolsominions" e disse não ter medo dos filhos do presidente Jair Bolsonaro.
- Não tenho medo de 01, 02, 03 e 04 - disse, durante entrevista coletiva nesta tarde, referindo-se aos apelidos que o próprio presidente usa ao mencionar os filhos.
O governador registrou um boletim de ocorrência na noite de quinta-feira por ameaça e injúria. Segundo o B.O., ele recebeu mensagens em seu telefone celular que indicavam possíveis atos violentos a serem realizados em frente à sua casa. Integrantes do governo paulista enxergam a ligação entre apoiadores do presidente e as ameaças recebidas por Doria.
Doria acusou nesta tarde o governo Bolsonaro de "desprezar vidas" na condução das ações de combate à pandemia.
- O Brasil não pode parar para lamentar a irresponsabilidade de alguns que preferem desprezar vidas. Mais de 50 países estão em quarentena. É a pior crise de saúde no mundo. Quase metade da população do planeta está em casa. O mundo inteiro está errado? E o certo é o presidente Jair Bolsonaro? - disse Doria, durante entrevista coletiva nesta tarde.
Para Doria, a campanha publicitária do governo federal "desinforma" a população e é "irresponsável".
- A campanha do goveno hoje nas TVs e rede social prega justamente o contrário. Serão R$ 4,8 milhões para desinformar a população. Deveria ser usado para comprar suprimentos para hospitais públicos e reforçar o atendimento dos mais pobres. Afinal, temos um ou dois governos federais? - questionou o governador.
O governador cobrou do governo federal uma linha de ação clara. Segundo ele, Bolsonaro faz um discurso, e o Ministério da Saúde recomenda o oposto.
- Há um documento do Ministério da Saúde pregando o isolamento. Há um decreto do presidente pregando o isolamento e a decretação de calamidade pública no país.
Sao Paulo tem hoje 1.223 casos de coronavírus confirmados.Ontem era 1.052, um crescimento de 14%. No Brasil são 2.915 casos.
Doria reafirmou a manutenção da quarentena contra o coronavírus no estado.
- Será que vamos precisar enterrar 4.400 pessoas como fez a Itália para ter a certeza de que o convite para irem as ruas é um erro? Antes que isso aconteça, sigam as orientações dos médicos, da ciência e de autoridades que não têm medo de falar a verdade - completou o tucano.
Em São Paulo, autoridades envolvidas nas ações de combate à Covid-19 demonstraram preocupação nesta sexta-feira com um relaxamento da população quanto às recomendações de isolamento social. Alguns verbalizaram que não adiantará endurecer as regras, se preciso for, se não houver adesão dos moradores.
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