A que distância, na região em que moro, estamos da exaustão da capacidade hospitalar?
Modelos matemáticos sofisticados, e por isso mesmo mergulhados num oceano de incertezas, ajudaram personalidades atormentadas como Boris Johnson, no Reino Unido, e Donald Trump, nos EUA, a despertar do negacionismo em relação ao potencial de devastação da Covid-19.
Mas, para governantes psiquicamente equilibrados, bastaram informações bem mais simples e intuitivas: o crescimento das internações por síndrome respiratória aguda grave se tornou anormal, exponencial e ameaçava arrebentar com a capacidade dos sistemas de saúde.
O que dá nos nervos no Brasil é a escassez dessas informações palpáveis. Somando todo recurso disponível —leitos, respiradores, itens de proteção, pessoal treinado—, a que distância, neste minuto, a capacidade de resposta da região em que eu moro está da exaustão?
Não sei, mas será que o prefeito da minha cidade, Bruno Covas, e o governador do meu estado, João Doria, sabem? Tenho certeza de que monitoram dia a dia o quanto pinga de imposto nos cofres municipal e estadual. Se ainda não organizaram um sistema parecido de controle dos recursos da saúde, o buraco é mais embaixo.
Se o organizaram, mas não divulgam os dados diários de modo claro e objetivo, continuamos a ter um problema. Como serei convencido de que a cidade ou o estado precisam apertar as restrições à circulação sem conhecer a situação atual e projetada da capacidade hospitalar?
A quarentena não é um fim em si. É um meio de preservar a infraestrutura e salvar vidas. Se os paulistas estão 50% ou 70% confinados, isso não me diz diretamente nada sobre o objetivo final. Preciso agregar premissas, sujeitas a incerteza e incompreensão, para tentar chegar lá.
Já quantos leitos de UTI, respiradores e profissionais estão disponíveis e estarão nas próximas semanas é uma resposta que incide no cerne do motivo da mobilização. Pessoas normais serão facilmente persuadidas a ficar em casa caso esses indicadores se aproximem de níveis críticos.
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