quarta-feira, 20 de maio de 2020

Bernardo Mello Franco - WW, mais uma máscara que cai

- O Globo

Eleito com discurso moralista, Witzel virou alvo de uma investigação por fraudes na Saúde. A exemplo do antecessor Sérgio Cabral, ele se diz vítima de perseguição

Wilson Witzel era um ilustre desconhecido quando despiu a toga para concorrer ao governo do Rio. Aliado à família Bolsonaro, ele usou o título de ex-juiz para se vender como um caçador de corruptos. O discurso colou, e o azarão chegou ao Palácio Guanabara.

A pose de moralista durou pouco. No quinto mês de governo, Witzel criou uma secretaria para abrigar o notório André Moura. Agora o que ainda restava da máscara foi ao chão. O governador foi incluído em investigação no Superior Tribunal de Justiça sobre suspeita de fraude na compra de respiradores. Ontem o estado ultrapassou os três mil mortos pelo coronavírus.

Além de atrasar a entrega dos hospitais de campanha, a Secretaria de Saúde voltou às páginas policiais. Dois subsecretários já foram presos, acusados de superfaturar contratos emergenciais durante a pandemia. No domingo, Witzel demitiu o titular da pasta, Edmar Santos. No dia seguinte, voltou a contratá-lo como chefe de uma secretaria extraordinária.

Não é o único fato que o governador precisa explicar. Em março, ele ignorou dois pareceres jurídicos para reabilitar o instituto Unir Saúde, que estava proibido de receber verbas do estado. A OS é controlada por Mário Peixoto, um empresário que orbitou a campanha de Witzel e foi preso na quinta-feira. O grupo assinou contratos de R$ 120 milhões com a gestão do ex-juiz.

Em escutas enviadas à Procuradoria-Geral da República, o governador é citado como “WW” e “zero um do palácio”. Desde que os auxiliares foram em cana, ele se diz vítima de perseguição. Ontem atacou a proximidade do juiz Marcelo Bretas, que ordenou as prisões, com o presidente Jair Bolsonaro, que virou seu desafeto. “Ele já foi ao Palácio da Alvorada, anda no carro do presidente. Essa não é a postura de um juiz”, disse à CNN Brasil.

A crítica procede, mas Witzel parece sofrer um surto de amnésia. Até romper com Bolsonaro, ele também tratava Bretas como magistrado de estimação. Eles posaram de mãos dadas num jato da FAB e dividiram camarote no Maracanã. Ontem o governador deixou escapar uma queixa pela amizade desfeita. “Ele apagou todas as fotos que tinha comigo na internet”, lamuriou-se.

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