Grupo que representa US$ 4 trilhões em ativos advertiu governo sobre incertezas para investir no país
Governo e Congresso dão sinais de que pretendem se concentrar, a partir de agosto, no necessário equilíbrio fiscal, com reforma tributária, renda mínima e privatizações. É inquestionável a relevância dessa agenda. Porém, será incompleta e à margem do redesenho do capitalismo no mundo pós-pandemia, se no topo não estiver a mudança de rumo na política ambiental.
Deixou de ser opção de governança, porque se acumulam ameaças ao país, cujas fragilidades econômicas já estão expostas. Tem razão o presidente do grupo Itaú Unibanco, Candido Bracher, que alertou: “As consequências do perigo ambiental até podem vir de uma maneira mais lenta do que o da Covid-19, mas são mais duradouras e difíceis de reverter. Precisamos nos mover contra isso.”
Um grupo de 29 instituições (US$ 4 trilhões em ativos) de Estados Unidos, Japão, França, Reino Unido, Noruega, Suécia, Dinamarca e Holanda advertiu o governo, por escrito, a respeito da “incerteza generalizada sobre as condições de se investir ou fornecer serviços” no país. Repetiu o aviso já dado por 230 fundos globais.
Crescem incêndios e desmatamento na Amazônia (60% neste ano). A má governança produziu uma escalada de intimidações ao agronegócio, motor de 21% do PIB, origem de 42% das exportações e responsável por 20% dos empregos (18 milhões).
O governo somou incompetência ao arcaísmo de facções do sindicalismo rural, algumas vinculadas a obscuros negócios na grilagem de terras (23% da Amazônia), contrabando de madeira e comércio irregular de gado. É preciso parar os predadores. Estão pondo em xeque todo um esforço de cinco décadas.
O agronegócio, hoje, representa o lado moderno do capitalismo no Brasil. Avançou baseado em pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica. O resultado está num modelo sustentável e competitivo de agricultura, sem paralelo nos trópicos.
Desde 1968, quando uma incapacidade produtiva dos EUA provocou um choque global de preços dos alimentos, o Brasil ampliou em mais de 500% sua produção agroindustrial apenas duplicando a área cultivada. Conquistou-se o Cerrado, três vezes a área da França. Fez-se a tropicalização da soja chinesa, do gado indiano e de forrageiras africanas. Hoje, o país produz alimentos em quantidade suficiente para suprir seis vezes a sua população, de 211 milhões.
É esse patrimônio que está em jogo. Ampliam-se boicotes a produtos brasileiros no exterior, crescem vetos a negociações de acordos de livre comércio e as dúvidas sobre investimentos. Não há mais espaço para acordos patrimonialistas.
Os três Poderes precisam unir esforços, com urgência, para ações protetivas e de repressão à criminalidade no campo. Caso contrário, o país corre o risco de ter um ambiente de negócios contaminado por incertezas que nem a melhor agenda para o equilíbrio fiscal será capaz de mitigar.
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