Novo ministro, com currículo em xeque, acertará se de fato adotar gestão técnica
Dado o ambiente de conflagração instituído pelo governo Jair Bolsonaro na gestão do ensino no país, as palavras iniciais do novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, representaram um alento.
Ainda que o escolhido já esteja às voltas com questionamentos a suas credenciais acadêmicas, importa mais, a esta altura, a sinalização de um MEC mais propenso ao diálogo com o setor —e menos a escaramuças ideológicas pueris ao gosto da militância bolsonarista.
Em outro contexto, soariam como meras platitudes as declarações de Decotelli em favor de trabalho, projetos e respeito ao marco regulatório da educação. Depois da trágica passagem de Abraham Weintraub pela pasta, porém, mostras de temperança e disposição produtiva são boas-novas.
É prematuro, decerto, apostar numa guinada rumo à racionalidade. Parece mais prudente interpretar a nomeação à luz de uma espécie de recuo tático ainda incipiente de Bolsonaro, que tem feito movimentos no sentido de distensionar a cena política e institucional.
Decotelli, informa-se em Brasília, contou com o aval da ala militar do governo, tem perfil conciliador e não desagradaria aos políticos do centrão nem aos discípulos do ideólogo Olavo de Carvalho que atravancam o ministério.
São constrangedoras, para dizer o mínimo, as revelações de que não possui o anunciado título de doutor em administração e de que copiou terceiros na dissertação de mestrado. Sua experiência em gestão pública, ademais, é escassa.
Fará o certo se confiar a condução da pasta a técnicos qualificados, encontráveis na burocracia estatal ou fora dela, e ouvir acadêmicos dedicados aos temas da área, além de restabelecer a cooperação com secretários estaduais e municipais da Educação.
Não se trata de imaginar que só haja sumidades e altruístas do outro lado do balcão. O corporativismo que grassa em todos os níveis do ensino há muito interdita debates importantes, como os relativos à cobrança de mensalidades nas universidades públicas e a premiações por desempenho.
As administrações petistas ampliaram expressivamente as verbas do MEC, em particular com a criação de estabelecimentos e a contratação de professores e funcionários. A dispendiosa expansão, contudo, não se fez acompanhar das devidas preocupações com a qualidade do aprendizado.
O atual esgotamento orçamentário impõe eficiência no gasto, boa regulação de currículos e cobrança de resultados. O ministério aparelhado perdeu um ano e meio enredado na própria falta de ideias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário