quarta-feira, 8 de julho de 2020

Bruno Boghossian – Exemplo vivo

- Folha de S. Paulo

Presidente transforma diagnóstico de coronavírus em espetáculo político

Quando recebeu o diagnóstico positivo para Covid-19, em março, o premiê britânico Boris Johnson disse que, mesmo isolado, continuaria liderando o combate à pandemia. Agradeceu aos profissionais de saúde e elogiou o “grande esforço nacional” para proteger a população. “Vamos vencer e vamos vencer juntos”, disse o primeiro-ministro.

Pouco mais de cem dias depois, Jair Bolsonaro avisou que também foi infectado pelo vírus. O presidente convocou uma entrevista e mal mencionou os esforços para conter a doença, que já matou quase 70 mil pessoas no país. Ao iniciar seu processo de recuperação, ele transformou o anúncio num espetáculo político.

Em 30 minutos, Bolsonaro celebrou o fato de o Ministério da Saúde estar nas mãos de um interino há quase dois meses. Voltou a criticar medidas recomendadas por autoridades da área, fez propaganda de um remédio sem eficácia comprovada e se recusou mais uma vez a reconhecer a gravidade da pandemia.

O presidente se lançou como exemplo vivo de sua longa campanha de negação sobre os riscos do vírus. Disse que só teve sintomas leves, “como a maioria da população brasileira”, e que passou a se sentir “perfeitamente bem” após tomar uma segunda dose de cloroquina. A experiência pessoal tende a reforçar o discurso oficial entre seus apoiadores.

Bolsonaro ainda deu uma cartada política ao dizer que acreditava ter sido infectado antes, devido ao que chamou de uma “atividade dinâmica perante a população”. “Tendo em vista esse meu contato com o povo bastante intenso nos últimos meses, eu achava até que já tivesse contraído e não percebido”, declarou.

No dia em que se somou a 1,6 milhão de brasileiros com diagnóstico positivo, Bolsonaro repetiu que “houve um superdimensionamento” da pandemia. Para minimizar a doença, ele acrescentou que o vírus mataria principalmente idosos e pessoas com outras doenças. “Todo mundo sabia disso”, afirmou o presidente que, em março, previa menos de 800 vítimas na pandemia.

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