Por isso é previsível que tenha dificuldades com os setores mais radicais do bolsonarismo
Haver quatro ministros da Educação em um ano e meio de governo não estimula expectativas otimistas. Convertido em plataforma de apoio à atuação de ideólogos bolsonaristas na “guerra cultural” sem fim que travam contra tudo aquilo que consideram de esquerda, o MEC está imobilizado, mesmo com uma agenda sempre estratégica para o país, agravada pelos efeitos da Covid-19 no sistema de ensino. Mas neste ambiente, o novo ministro, Milton Ribeiro, assume pelo menos com um discurso animador, se for considerado tudo o que aconteceu e deixou de acontecer na pasta desde a posse de Bolsonaro.
Pastor presbiteriano, com formação acadêmica ligada à religião e à educação, tendo sido vice-reitor da Universidade Mackenzie, Milton Ribeiro chega ao Ministério com alguma experiência na área. O mais animador, porém, foi, no discurso de posse, o novo ministro propor um “grande diálogo para ouvir acadêmicos e educadores, que, como eu, estão entristecidos com o que vem acontecendo com a educação no país”. E fez referência às más colocações crônicas dos estudantes brasileiros no teste internacional Pisa.
Para contrabalançar o currículo, Milton Ribeiro destacou que assumia levando em conta “os valores constitucionais da laicidade do Estado e do ensino público”. Fez bem. Afastou a priori o risco de que o MEC passe a se submeter a referenciais de outra ordem que não os das técnicas pedagógicas e afins. Ou seja, não se repetirá a experiência da pastora Damares Alves no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. É o que se espera.
Bem como as gestões desastrosas de Ricardo Vélez e Abraham Weintraub, escolhidos apenas pelas afinidades ideológicas com o bolsonarismo de raiz, extremista. Com Weintraub, ficou evidente que sua missão era destruir a máquina do MEC, que ele e seu grupo “ideológico” consideram estar irremediavelmente contaminada pelo esquerdismo.
A tentativa desastrosa com Carlos Alberto Decotelli, implodido por fraudes curriculares, apadrinhado pelos militares da cúpula do governo, já demonstrou a preocupação com a escolha de alguém ligado ao ramo. Mas consideradas, é certo, exigências de um governo conservador e com ligações evangélicas. Se Bolsonaro nunca escondeu a admiração por Weintraub, talvez por influência da família, é verdade que a aceitação de Milton Ribeiro parece mais um gesto de sensatez nesta fase de autocontrole do presidente.
O novo ministro da Educação vai precisar de apoio e de que não o atrapalhem, e nisso Bolsonaro precisa ajudá-lo, para evitar que representantes do radicalismo que foram colocados dentro do MEC não sabotem o trabalho de quem precisa recuperar muito tempo perdido. É sintomático que Milton Ribeiro tenha sido criticado em hostes bolsonaristas por defender um “pacto nacional” pela educação, ao aceitar o convite de Bolsonaro. Isso dá bem a ideia das forças que se movimentam em torno do MEC.
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