É
aconselhável não subestimá-lo
O
presidente Jair Bolsonaro adiantou-se ao anúncio do fracasso do golpe tentado
por seu ídolo Donald Trump para confirmar indiretamente o que muitos acham que
ele fará caso seja derrotado nas eleições do ano que vem.
Sim,
ele está disposto a recusar nesse caso o resultado das eleições e a proclamar
que elas foram roubadas. Exatamente como fez Trump, novamente citado por ele
como seu grande amigo só por tê-lo encontrado menos de meia dúzia de vezes.
Como
de hábito, ao cumprimentar uma cada vez mais rarefeita plateia de devotos às
portas do Palácio da Alvorada, Bolsonaro não apenas disse que a eleição do
democrata Joe Biden foi fraudada como também a que ele disputou aqui há dois
anos.
Não
lhe pediram provas da fraude aqui e nos Estados Unidos, mas ele voltou a
repetir que elas existem, embora nem mesmo Trump tenha apresentado as suas até
hoje. Não fosse a fraude, segundo Bolsonaro, ele teria sido eleito no primeiro
turno.
O
presidente do Brasil foi o último chefe de Estado do mundo a parabenizar Biden
pela vitória que agora chama de fraudulenta. Seu filho Eduardo, o Zero Três,
visitou, esta semana, a Casa Branca acompanhado da mulher e da filha
recém-nascida.
Eduardo
já morou nos Estados Unidos, já tentou ser embaixador em Washington, é lobista
de empresas americanas fabricantes de armas e, ultimamente, depois de
sucessivas visitas a Las Vegas, aposta na legalização dos jogos de azar no
Brasil.
O
que o Brasil ganhou com a falsa amizade entre os Bolsonaro e a família Trump? Nada.
O que poderá perder depois da chegada de Biden à Casa Branca? A ver.
O golpe fracassado de Trump
Se
a democracia ainda funciona nos Estados Unidos depois da infâmia que sofreu
ontem, antes ou ao fim do seu mandato o presidente Donald Trump deveria sair
algemado e preso da Casa Branca. Seria o preço a pagar pela tentativa de golpe
que fez seu país parecer com uma República de Bananas.
Alguns
comentaristas de televisão se referiram ao dia 6 de janeiro de 2021 como um dos
mais controversos e polêmicos dos últimos 200 anos. Não foi. Foi mais que isso.
Foi o dia da vergonha para um povo que se apresenta como guardião planetário da
mais bem sucedida experiência até aqui de autogoverno.
O
que aconteceu pode abrir um grave precedente – a recusa do lado perdedor a
aceitar o resultado de eleições certificadas como limpas e justas de acordo com
as leis. Na eleição de 1876, foram os democratas brancos que usaram a violência
para invalidá-las. Desta vez, os republicanos brancos.
Nas
duas ocasiões o que esteve em jogo foi a manutenção do poder. Quem o detinha –
o Partido Republicano — não queria perdê-lo. Trump é o maior responsável pelo
golpe aparentemente abortado, mas logo abaixo dele vem o Partido Republicano
que aderiu à campanha de mentiras sobre a eleição do democrata Joe Biden.
Sob pena de se repetir, tudo deverá ser investigado à exaustão, assim como a suspeita de cumplicidade de forças policiais que facilitaram a invasão pelos manifestantes do prédio do Congresso. A questão angustiante que fica não terá resposta tão cedo: a democracia estará em declínio inexorável, e logo no seu berço?
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