Bolsonaro
está se empenhando para se tornar cada vez menos respeitado
Entre
um país que está quebrado (Bolsonaro, na terça) ou que está uma maravilha (Bolsonaro, na quarta) há uma enorme
diferença. Ela é igual ao tamanho da perda de credibilidade de quem faz essas
afirmações de forma tão inconsequente. Um presidente que se gaba num dia de ter
poder para quase tudo, e no outro declara que não pode nada.
Por
achar que para governar bastava ser engraçadinho com a claque à qual se dirige
na porta do Alvorada – além de animador de auditórios virtuais –, Bolsonaro
arriscou a credibilidade e perdeu a autoridade. Do ponto de vista formal (do
relacionamento entre os poderes, por exemplo), a autoridade do presidente já
vinha sendo encurtada desde o primeiro dia de mandato pela incapacidade dele de
liderar e se articular frente ao Legislativo e ao Judiciário.
Em outras palavras, a caneta do presidente tem menos tinta hoje do que há dois anos. Mas a autoridade política, subjetiva, se deteriorou mais rápido ainda com a pandemia. Uma coisa é ser falastrão diante de desafios da política, como os de levar adiante reformas estruturantes, desatar os nós da economia, derrubar o governo da Venezuela, peitar os críticos internacionais das políticas ambientais, prometer maravilhas e por aí vai.
Outra
coisa completamente diferente é ser falastrão diante de uma crise sanitária sem
precedentes na memória de qualquer geração atual, em escala planetária. Cabe
não confundir autoridade com popularidade, embora em ocasiões uma coisa tenha
influência sobre a outra. A autoridade de Bolsonaro que foi embora é preciosa:
é aquela atribuída a quem se confia ser capaz de ajudar a resolver uma crise
aguda de vida ou morte para milhares de pessoas.
Ao
tratar assuntos (pandemia), pessoas (adversários políticos), instituições
(chefes de outros poderes), eventos externos (eleições em outros países) com
declarado desprezo ou desrespeito, pelos fatos e pela ciência, o presidente
brasileiro em boa parte incentivou a atmosfera atual, na qual a ele se dá pouco
respeito. De novo, estamos diante de um fator político difícil de quantificar,
mas palpável: a ridicularização do personagem político, como acontece hoje com
Bolsonaro, é um indício claro de perda de autoridade.
Dela
ele precisará bastante se for capaz – há uma aparente unanimidade no mundo
político de que ele não será – de proceder às difíceis escolhas que tem pela
frente para, por exemplo, equilibrar as contas públicas ao mesmo tempo
garantindo uma renda mínima e uma alta taxa de investimentos. Bolsonaro vacilou
diante de qualquer decisão abrangente até aqui, uma característica detectada
pelo apurado olfato das feras do Centrão, em que está depositada no momento o
que existe de autoridade política do presidente.
Não
se pode criticar políticos, como Bolsonaro, que confundem índices de
popularidade com autoridade. De fato, é difícil governar sem uma ou sem outra,
em qualquer lugar. São fatores reais no mundo da política. Da mesma maneira,
não se pode condená-los simplesmente pelo comportamento tão normal assumido por
eles, que é aderir ao curto prazo deixando a visão de longo alcance para um
eterno “depois”.
Bolsonaro sacrificou autoridade em busca de popularidade efêmera e volátil. Corre o gravíssimo risco de acabar ficando sem as duas.
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