O Globo
O governo Bolsonaro acabou diante dos olhos
da Nação. Hoje, duas pessoas tentam dar a ele sobrevida por estarem em postos
estratégicos: Augusto Aras e Arthur Lira. A popularidade despencou, os abusos
do presidente contra a vida humana são reiterados por ele mesmo. É repulsivo
ver o presidente expondo duas crianças ao vírus. O golpe de morte foi dado na
CPI, na sexta-feira, quando ficou claro que Bolsonaro sabia que havia corrupção
no Ministério da Saúde, e que um dos responsáveis era seu líder na Câmara. Há
uma aposta feita por governistas, a de que a economia o salvará. Alguns
indicadores vão de fato melhorar nos próximos meses, mas o desconforto
econômico permanecerá e há outros elementos poderosos na perda de competitividade
eleitoral de Jair Bolsonaro.
A economia não salva um presidente responsável por uma tragédia humanitária, que ameaça a democracia e ainda tem o governo envolvido em corrupção. A economia sempre será importante na avaliação dos governos e no resultado eleitoral. Por isso ficou tão famosa a expressão do estrategista eleitoral James Carville de que “é a economia, estúpido”. E é nisso que se agarra o governo no momento. Afinal, os bancos estão aumentando a projeção de crescimento do PIB para este ano. O crescimento vai permitir a recuperação da popularidade de Bolsonaro? O economista José Roberto Mendonça de Barros não acredita nisso e dá três razões:
— O crescimento é uma retomada baseada
antes de tudo nas commodities e não chega ao mercado de trabalho. As
commodities — agricultura, mineração e petróleo — são capital intensivo,
empregam pouco e estão fora das grandes cidades que concentram o desemprego.
Segundo, a recuperação está sendo revista para cima este ano, mas diminui no
ano que vem e pode ficar abaixo de 2%. Terceiro, boa parte dos instrumentos do
governo não atingem os chamados “invisíveis”. A soma disso é que eu não
acredito em recuperação mais sistemática da popularidade.
O desemprego tem redução sazonal no segundo
semestre, mas não será uma queda sustentada. A inflação está alta, tirando
capacidade de consumo. Ela bateu muito em alimentos e, agora, energia. O
mercado financeiro está otimista, mas seu horizonte é curto, de dois meses.
Para o mercado, é o suficiente que haja mais negócios, a venda de um lote de
ações de uma grande empresa estatal, os juros subindo e derrubando o dólar. Não
é uma avaliação de que a situação do país vai de fato melhorar. A ação da
Eletrobras subiu, porque ela vai ser privatizada, apesar de o modelo de venda
ser um desastre e o país estar entrando na pior crise hídrica da história.
Márcia Cavallari, diretora do Ipec, o
instituto de pesquisa de opinião que mostrou uma forte queda de popularidade do
presidente, acha que a pesquisa que divulgou reflete tudo ao mesmo tempo.
— É a percepção do todo. Há a CPI, 500 mil
mortos, desemprego, inflação. É o pior momento. A economia é sempre o
carro-chefe de qualquer eleição, mas o importante é o bem-estar. Não adianta
crescer a indústria e isso não chegar no bolso das pessoas neste momento. Hoje,
inflação, emprego e pandemia são as que afetam mais diretamente, diretrizes de
sobrevivência das pessoas.
O Ministério da Economia segue seu plano de
reeleger Bolsonaro, a qualquer custo. Foi isso que Paulo Guedes avisou naquela
reunião ministerial de abril de 2020. O governo virou sócio da inflação e
espera gastar o que a alta do índice criará de “espaço no teto”. Alguns truques
orçamentários serão utilizados. Dificilmente serão suficientes para cobrir o
fosso que se abriu entre o país e um governo calamitoso. O principal
responsável por termos tido milhares de mortes evitáveis nesta pandemia. A
questão agora é se o governo Bolsonaro chegará ao fim do mandato.
A economia ajuda a definir o destino dos governos. Mas agora é mais do que a economia. Bolsonaro enfrenta o desgaste da pior gestão da pandemia no mundo, os ataques sistemáticos à democracia e foi atingido no peito por uma acusação de corrupção vinda de um deputado que era governista. A popularidade despencou. Se no começo do governo 67% dos brasileiros diziam confiar em Bolsonaro, agora, 68% dizem não confiar. Esse conjunto de fatos desfavoráveis explica os chiliques frequentes do presidente da República. Principalmente contra as jornalistas, seus ataques têm sido estúpidos.
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