domingo, 27 de junho de 2021

Ricardo Noblat - Partidos enterram de vez o retorno do voto em cédula

Blog do Noblat / Metrópoles

Mais uma promessa de campanha de Bolsonaro que não será cumprida

Os partidos, por meio dos seus representantes, sabem onde lhes apertam os calos. Cada um tem mais filiados enrolados com a justiça. Todos dependem da boa vontade dos juízes que têm a força para selar o seu destino. A Justiça Eleitoral, mas não só, é contra a volta do voto impresso. Então por que contrariá-la?

É menos arriscado contrariar Jair Bolsonaro que defende a volta do voto em cédula. Tanto mais porque ele, hoje, é um presidente enfraquecido – perde para Lula nas pesquisas de intenção de voto, e acaba de ser atingido pela denúncia de que acobertou a compra superfaturada da vacina indiana Coaxin.

Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, antecipou a Bolsonaro as dificuldades para aprovação no Congresso de emenda à Constituição que troca o voto eletrônico pelo impresso. Na Câmara, com um esforço hercúleo, ela até poderia passar, mas custaria caro. No Senado, dificilmente passaria.

Foi o que se confirmou ontem. Onze presidentes de partidos, mais da metade deles que apoia o governo, reuniram-se em videoconferência e disseram ser a favor da manutenção do voto eletrônico. Os onze partidos: PSDB, MDB, PP, DEM, Solidariedade, PL, PSL, Cidadania, Republicanos, PSD e Avante.

O mais longo dos dias para Bolsonaro, que começou na última quarta-feira 23 por obra e graça dos irmãos Miranda, está muito longe de terminar.

Afinal, os irmãos Miranda gravaram sua conversa com Bolsonaro?

Luis Miranda, o deputado, sugere que a gravação existe. Pode ser blefe. Mas se não for, o destino do presidente está em suas mãos

Pergunta de 1 bilhão de dólares (ou muito mais) que teima em ser feita: os irmãos Miranda, o deputado federal do DEM Luis Miranda, e o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo, gravaram ou não a conversa que tiveram com o presidente Jair Bolsonaro em 20 de março último no Palácio da Alvorada?

Durante semanas, Miranda, o deputado, tentou, em vão, reunir-se com o presidente. Só conseguiu naquele sábado depois que disse a um auxiliar de Bolsonaro possuir documentos capazes de derrubar o governo. O resto é história conhecida. Só não se sabe, e o deputado faz mistério a respeito, é se a conversa foi gravada.

Em entrevistas concedidas ontem, Miranda insinuou que pode haver gravação da conversa. Numa delas chegou a dizer: “Não estamos mentindo e não há por que mentir, mas se forçar demais a gente certamente tem como mostrar a verdade e de um jeito que vai ficar muito ruim para o presidente. Ele sabe a verdade”.

Pode ser blefe de um deputado com uma longa folha corrida de processos. Mas se não for? Bolsonaro vai pagar para ver? Miranda é esperto, com apurado senso de timing. Em depoimento à CPI da Covid, primeiro negou-se a dar o nome citado por Bolsonaro como implicado na compra superfaturada da vacina Coaxim.

Os senadores passaram o resto do tempo cobrando para que desse o nome, e ele respondia, sem convencer, que o esquecera. Pressionado por último pela senadora Simone Tebet (MDB-MS), cedeu e revelou: Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara dos Deputados. Convenhamos: foi um “grand finale”!

Se não existir gravação, Miranda se protege só por sugerir que ela existe, e protege seu irmão, servidor público concursado. Se existir, o destino de Bolsonaro está em suas mãos.

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