Folha de S. Paulo
O Brasil não teme suas carrancas, coturnos
e tanques
Generais, brigadeiros e almirantes deveriam
ser os primeiros a querer esclarecer as gravíssimas denúncias de corrupção, reveladas
pela CPI da Covid, que batem à porta de Bolsonaro e de uma penca de fardados.
Mas o que estamos vendo é bem o contrário.
Como em outros momentos da nossa história, a cúpula das Forças Armadas e o Ministério da Defesa preferem esconder a sujeira embaixo do tapete, peitar as instituições democráticas e afrontar a Constituição e a sociedade civil. É esse o sentido da nota assinada pelo ministro Braga Netto e pelos três comandantes militares após a declaração do presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), de que há um "lado podre das Forças Armadas envolvido com falcatrua dentro do governo".
Alguém duvida disso? A pior gestão da
pandemia no mundo foi a de um militar brasileiro, o general da ativa Eduardo
Pazuello. Agora, sabemos também que a alta hierarquia do ministério na gestão
dele, toda fardada, aparece no "vacinagate", notadamente
seu ex-secretário-executivo, o coronel da reserva Elcio Franco.
Depois de tantos anos restritos aos
quartéis e às suas atribuições profissionais, os militares voltaram ao poder de
braços dados com um sujeito desqualificado, medíocre, notoriamente ligado a
esquemas criminosos, que vão de rachadinhas a milicianos, e que é sustentado no
Congresso pelo centrão.
Cúmplices e agentes ativos de tudo isso, os
militares vêm cantar de galo, atribuindo-se o status de "fator essencial
de estabilidade do país". Ora, é exatamente o contrário. Senhores
fardados, vocês deixarão uma herança de morte, doença, fome e corrupção. Querem
enganar quem? Acham que estão em 1964?
Baixem o tom, senhores. O Brasil não tem medo de suas carrancas, de seus coturnos e de seus tanques. Generais, vistam o pijama e, quando a pandemia passar, organizem um campeonato de gamão na orla de Copacabana. É o melhor que podem fazer pelo país.
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