As democracias modernas, sejam presidencialistas ou parlamentaristas, se assentam em instituições essenciais, na Constituição e nas leis. O centro de gravidade reside no parlamento, onde a pluralidade de interesses e visões estão presentes, e nos partidos políticos, organizadores coletivos das diversas correntes de opinião.
A existência de um legislativo forte e de um quadro partidário consistente, enraizado na sociedade e não excessivamente pulverizado é essencial para o bom funcionamento da democracia. Ainda mais no mundo contemporâneo onde a democracia representativa é desafiada pela demanda de participação de uma sociedade cada vez mais exigente, e pelo surgimento das redes sociais que, de certa forma, autonomizaram a sociedade e os cidadãos em relação à intermediação institucional.
No Brasil, o parlamento é extremamente
pulverizado com a presença de 24 partidos políticos médios e pequenos, sem a
definição clara de maioria e minoria. Os partidos políticos são flácidos, sem
grande identidade ideológica – há raras exceções – e com baixa inserção na
sociedade.
Aperfeiçoar as regras do jogo é sempre
positivo. De dois em dois anos há uma Comissão Especial de reforma política no
Congresso Nacional. Nos meus oito anos como deputado federal e considerado um
dos maiores especialistas no tema, participei de quatro comissões (2011,2013,
2015 e 2017). No Brasil é assim, ano par tem eleições, ano impar se instala a discussão
sobre reforma política.
O ano de 2021 não desmentiu a regra. Ano
ímpar, reforma política na pauta. E nada é tão ruim que não possa piorar. Dois
graves equívocos estão em discussão: a adoção do distritão, onde se elegem os
mais votados individualmente sem a lógica da proporcionalidade partidária, e o
voto impresso.
O sistema da urna eletrônica foi implantado
1996 e é um dos mais sofisticados e seguros de todo o mundo. Há reconhecimento
internacional em relação ao moderno, seguro e ágil sistema brasileiro de coleta
e totalização dos votos.
As urnas eletrônicas permitiram a eleição
de FHC, Lula, Bolsonaro, Dilma para a presidência, de governadores dos mais
variados partidos como Zema, Aécio, Serra, Rui Costa, Eduardo Campos e Witzel,
e de prefeitos como Dória, Kalil, Eduardo Paes, entre outros. De onde vem a
desconfiança? O TSE desenvolveu inúmeros expedientes para assegurar a lisura do
sistema. O questionamento feito pelo PSDB em 2014, a meu juízo, foi um
equívoco. O voto impresso só faz sentido se permitir ao eleitor fazer a
conferência antes de depositar na urna. Isto é um retrocesso e dá margem para a
ação daqueles que querem tumultuar o processo eleitoral e abalar a
credibilidade dos resultados.
Por outro lado, o distritão decreta o fim
do sistema partidário. Serão 513 partidos individuais presentes na Câmara dos
Deputados. Só existe no Afeganistão, Jordânia, Vanuatu e Ilhas Pitcairn. Prefiro
me inspirar nos EUA, na Inglaterra, na Alemanha ou na França. Redes sociais
podem até ajudar a eleger e derrubar governos, mas não conseguem governar. A
formação de maioria parlamentar é essencial para a boa governança e a
estabilidade institucional. E isto passa necessariamente pelos partidos.
Aprimorar, sempre! Inovar é saudável! Retroceder, nunca! A adoção do voto impresso e do distritão são retrocessos visíveis que devem ser combatidos.
*Marcus Pestana, ex-deputado federal (PSDB-MG)
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