Em nota, ministro Luís Roberto Barroso diz que agir para impedir as eleições configura crime de responsabilidade; Em queda nas pesquisas, presidente ameaçou não aceitar eleições, xingou Barroso e disse que há fraude na Corte eleitoral
Mariana Muniz / O Globo
BRASÍLIA — O presidente do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, rebateu os ataques
" lamentáveis quanto à forma e ao conteúdo" feitos pelo presidente
Jair Bolsonaro nesta sexta-feira. Em nota, o ministro rebateu em cinco pontos
as ameaças feitas por Bolsonaro, e disse que a "acusação leviana de fraude
no processo eleitoral é ofensiva a todos" os ministros que já presidiram a
Corte eleitoral.
"Desde a implantação das urnas
eletrônicas em 1996, jamais se documentou qualquer episódio de fraude. Nesse
sistema, foram eleitos os presidentes Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio
Lula da Silva, Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro. Como se constata singelamente,
o sistema não só é íntegro como permitiu a alternância no poder", diz a
nota encaminhada à imprensa.
Ainda na nota, o presidente do TSE afirma
que a realização de eleições, na data prevista na Constituição, é pressuposto
do regime democrático. "Qualquer atuação no sentido de impedir a sua
ocorrência viola princípios constitucionais e configura crime de
responsabilidade", afirma.
No comunicado, Barroso ainda esclarece que
em relação às eleições de 2014, o PSDB, partido que disputou o segundo turno
das eleições presidenciais, realizou auditoria no sistema de votação e
reconheceu a legitimidade dos resultados.
"A presidência do TSE é exercida por Ministros do Supremo Tribunal Federal. De 2014 para cá, o cargo foi ocupado pelos Ministros Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Luiz Fux, Rosa Weber e Luís Roberto Barroso. Todos participaram da organização de eleições. A acusação leviana de fraude no processo eleitoral é ofensiva a todos", disse.
O ministro também lembrou que o
Corregedor-Geral Eleitoral, ministro Luís Felipe Salomão, já oficiou Bolsonaro
para que apresente as supostas provas de fraude que teriam ocorrido nas
eleições de 2018, mas que até agora não houve resposta.
Após a manifestação de Barroso, o ministro
Alexandre de Moraes, que será o presidente do TSE durante as eleições de 2022,
também disse que atos contra a democracia não serão admitidos "por
confirgurar crimes comum e de responsabilidade".
"Os brasileiros podem confiar nas
Instituições, na certeza de que, soberanamente, escolherão seus dirigentes nas
eleições de 2022, com liberdade e sigilo do voto. Não serão admitidos atos
contra a Democracia e o Estado de Direito, por configurar crimes comum e de
responsabilidade", escreveu Moraes, no Twitter.
Em desvantagem
em pesquisas de intenção de voto, o presidente Jair Bolsonaro voltou
a colocar em dúvida a segurança das eleições nesta sexta-feira, novamente sem
apresentar provas. Bolsonaro repetiu que há a chance de não serem realizadas
eleições em 2022 e chamou de "idiota" e "imbecil" o
presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso.
— Não tenho medo de eleições. Entrego a
faixa a quem ganhar. No voto auditável. Nessa forma, corremos o risco de não
termos eleição no ano que vem. Porque é o futuro de vocês que está em jogo —
disse Bolsonaro, em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada.
De acordo com o presidente, os institutos
de pesquisas participariam de uma fraude ao lado do TSE para beneficar Lula:
— Daí vem os institutos de pesquisas,
fraudados também, botando ali o nove dedos lá em cima. Para que? Para ser
confirmado o voto fraudado no TSE — disse, acrescentando depois: — Já está
certo quem vai ser presidente no ano que vem. A gente vai deixar entregar isso?
Bolsonaro defende que é preciso imprimir um
registro do voto, após a votação na urna eletrônica. Ele, contudo, nunca
apresentou nenhuma prova de fraude no modelo atual. O presidente também atacou
Barroso, dizendo que os argumentos dele contra a proposta de voto impresso são
de um "imbecil" e "idiota":
— É uma resposta de um imbecil. Eu lamento
falar isso de uma autoridade do Supremo Tribunal Federal. Só um idiota para
fazer isso aí.
Bolsonaro também voltou a dizer, sem
provas, que houve irregularidade nas eleições de 2014, quando Dilma Rousseff
(PT) venceu Aécio Neves (PSDB), e disse que "a fraude está no TSE". A
afirmação de Bolsonaro foi contestada nesta semana pelo próprio Aécio, hoje
deputado federal, que disse não acreditar que tenha ocorrido fraude naquela
eleição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário