O Estado de S. Paulo
A alta rejeição à polarização Lula-bolsonaro pode gerar surpresas nas eleições de 2022
Há cinco anos, um candidato desconhecido
conseguiu surpreender o mundo ao vencer as eleições para a presidência da
França. Esse candidato nunca havia sido eleito para qualquer cargo eletivo, não
dispunha de um aparato partidário e lançou sua candidatura apenas quatro meses
antes das eleições, o que fazia dele um azarão e improvável vencedor.
O mercado eleitoral já estava muito
congestionado, com pelo menos quatro candidaturas aparentemente mais
competitivas. O “Parti Socialiste” havia escolhido Benoît Hamon com uma
plataforma considerada de esquerda radical. Ainda mais à esquerda, havia a
candidatura de Jean-luc Mélenchon, pelo movimento “La France Insoumise”. A
centro-direita havia escolhido o ex-primeiro ministro François Fillon pelo
partido “Les Républicains”. Já a extrema-direita foi ocupada por Marine Le Pen
pelo então “Ressemblement Nacional”.
Embora Emmanuel Macron tivesse sido ministro da economia do governo socialista de François Hollande, ele concorreu pelo movimento de centro, “En Marche”, que ele mesmo definia como não sendo nem de esquerda nem de direita, em alternativa à intensa polarização política na França. Macron foi eleito em segundo turno com uma esmagadora vitória, alcançando 66,1% dos votos contra 33,90% de Le Pen.
No Brasil, os partidos do chamado “centro
democrático” finalmente conseguiram se coordenar e montar uma chapa liderada
pelos senadores Simone Tebet (MDB-MS) e Tasso Jereissati (PSDB-CE) para
disputar a presidência como alternativa às candidaturas afetivamente polares de
Lula e de Bolsonaro.
De acordo com a última pesquisa do Ipespe
(01/06/22), o potencial de voto de Simone seria de 32%: a soma dos 7% dos
eleitores que indicaram que votariam nela com certeza e 25% que sinalizaram que
poderiam votar na senadora. Além do mais, a sua rejeição é consideravelmente
menor (31%) quando comparada com os 43%, 59% e 40% que não votariam de jeito
nenhum em Lula, Bolsonaro e Ciro, respectivamente. A pesquisa também indica que
36% dos eleitores não conhecem Simone o suficiente, o que sugere um potencial
de crescimento.
Pesquisa Genial/quaest de junho/2022 indica
que 42% dos eleitores ainda estão indecisos sobre em quem votar e que 35% de
eleitores podem ainda mudar seu voto (23% em Lula, 71% nem Lula nem Bolsonaro e
28% em Bolsonaro). Simone é a segunda opção de voto entre 26% dos eleitores de
Lula, 9% dos de Bolsonaro, 19% de Ciro e 14% de indecisos.
É difícil prever se o Brasil terá um
fenômeno Macron em 2022. Mas, se tiver, tudo indica que será uma mulher.
*Cientista político e professor titular da Escola
Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE)
Um comentário:
Pois é,unanimidade nem Jesus Cristo.
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