Folha de S. Paulo
Agora o tumor está perto, muito perto, de
explodir
A morte a tiros do guarda municipal Marcelo
de Arruda, em Foz do Iguaçu, evidencia o quanto a violência associada à
campanha eleitoral já está disseminada e tende a piorar. Mas o assassinato do
militante petista pelo bolsonarista Jorge José Guaranho não é o primeiro ato de
violência política neste Brasil inoculado pelo vírus da brutalidade.
É preciso recuar no tempo. O marco zero do
ciclo de barbárie é 14 de março de 2018, com o assassinato da vereadora Marielle
Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, quando o Rio de Janeiro
estava, havia um mês, submetido à intervenção federal na segurança pública,
algo inédito desde a Constituição de 1988.
A operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) fora decretada por Michel Temer, diante do que considerou o colapso das polícias no Rio. Temer nomeou como interventor o então comandante Militar do Leste, Braga Netto. Como se sabe, a GLO não resolveu o problema da criminalidade no Rio (que surpresa!). Bolsonaro foi eleito, Braga Netto tornou-se seu ministro e agora pode ser o vice na chapa do chefe. Até hoje, não se sabe quem mandou matar Marielle.
Outro momento de paroxismo de violência em
2018 foi a facada em Bolsonaro. Nem o fato de ter sido vítima de um atentado
arrefeceu sua retórica do ódio, reiterada ao longo da campanha ("vamos
fuzilar a petralhada", "vai tudo vocês pra ponta da praia" etc.)
e potencializada por meio de ações concretas de seu governo.
A inundação de armas na sociedade, a
multiplicação dos clubes de tiro, o salvo-conduto para milícias e as operações
policiais que afrontam o STF e promovem banhos de sangue em bairros pobres
incorporam a selvageria no cotidiano e nos trazem até aqui.
Em agosto de 2020, escrevi neste espaço que
Bolsonaro foi assimilado pelas instituições e pela imprensa como ator político
natural da democracia assim como um corpo doente se acostuma a hospedar um
tumor. Eis aonde chegamos. Agora, o tumor está perto, muito perto, de explodir.
2 comentários:
Mais mortes que devem-se ao estímulo presidencial: A de dois travestis em 2019 um em São Paulo Larissa Rodrigues, e outro na Bahia Rosinha do Beco ambos assassinados a pauladas. No Rio de Janeiro, Barra da Tijuca, foi assassinado por espancamento, o refugiado congolês, Moise. E o escritor de dois livros um sobre Marielle e outro sobre Bolsonaro, Leuvis de Olivero. Essa cultura de quem se diz especialista em matar tem que acabar. Com rima e tudo.
O capoeirista Moa do Katendê foi assassinado em 2018 por um bolsonarista.
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