O Globo
Instituições naturalizaram crimes e ameaças
de Bolsonaro; discurso de união cívica encobre cumplicidade do poder econômico
com a extrema direita
A carta lida na Faculdade de Direito da USP
afirma que o Brasil passa por um momento de “imenso perigo para a normalidade
democrática”. Os redatores foram otimistas. Os tempos de normalidade já ficaram
para trás. O que se discute agora é se o país conseguirá frear a marcha para o
abismo.
Nos últimos anos, o Brasil despencou em
todos os rankings que medem a qualidade das democracias no mundo. A queda se
intensificou a partir da eleição de Jair Bolsonaro.
“A polarização no Brasil começou a crescer em 2013 e atingiu níveis tóxicos com a eleição do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, em 2018”, afirma o último relatório global do instituto V-DEM (Varieties of Democracy), sediado na Suécia. O documento cita o apoio do presidente a manifestações que pedem golpe militar e fechamento do Congresso e do Supremo. E alerta sobre os ataques reiterados ao sistema eleitoral, com o objetivo de minar a confiança popular no resultado das urnas.
A Freedom House tem feito as mesmas
advertências. Fundada em 1941, a entidade americana lista o Brasil entre os
países governados por líderes que se empenham em sabotar a democracia.
“Enquanto o Brasil se prepara para as eleições de outubro, Bolsonaro ecoa
Donald Trump ao alegar antecipadamente que a votação será fraudada”, afirma. O
relatório lembra que o capitão já fazia acusações sem provas antes de chegar à
Presidência. “Hoje essas alegações foram naturalizadas”, adverte.
As instituições brasileiras sempre
naturalizaram as ameaças de Bolsonaro. O Superior Tribunal Militar não quis
expulsá-lo do Exército após a descoberta do plano para explodir uma adutora do
Guandu. A Câmara não quis cassá-lo por defender o fuzilamento do presidente
Fernando Henrique Cardoso. Repetiu a dose quando ele exaltou um dos
torturadores da presidente Dilma Rousseff.
O autoritarismo de Bolsonaro continuou a ser normalizado no Planalto. Isso permitiu que ele capturasse os órgãos de investigação e avançasse em seu projeto autocrático. Ontem um dos organizadores da carta, figura séria e respeitável, celebrou a aliança entre capital e trabalho em defesa da democracia. Essa é uma uma visão idealizada, que omite a cumplicidade de grande parte do poder econômico com a extrema direita. Ainda assim, vale saudar o desembarque dos retardatários às vésperas da eleição. Antes tarde do que ainda mais tarde.
Um comentário:
É,antes tarde do que ainda mais tarde.
Postar um comentário