O Globo
O atentado contra a vice-presidente
da Argentina, Cristina
Kirchner, é mais um sinal de alerta sobre o risco concreto de
sociedades polarizadas entrarem num ciclo de violência política.
Um brasileiro radicado na Argentina tentou
assassinar Cristina na noite da última quinta-feira. O atentado só não foi
bem-sucedido porque a arma apontada para a cabeça dela falhou. Assim como o
Brasil, a Argentina vive um belicoso processo de polarização política que, lá,
opõe kirchneristas e antikirchneristas. Ele foi chamado de la grieta, ou
“a fissura”.
Uma pesquisa da Universidade de Buenos Aires com uma amostra
de 3 mil pessoas nos centros urbanos tentou medir como os eleitores dos dois
principais antagonistas das eleições de 2019 viam Cristina Kirchner. Enquanto
eleitores da Frente de Todos, que a elegeu vice, associavam a ela os sentimentos
de admiração, agradecimento, respeito e carinho, os eleitores do Juntos por
Mudança, de Mauricio Macri, a relacionavam aos sentimentos de ódio, asco,
desprezo e repulsa.
Nos Estados Unidos, que também vivem uma polarização acentuada opondo trumpistas a progressistas, pesquisas têm mostrado um quadro preocupante e perigoso.
Na semana passada, uma pesquisa da revista inglesa The Economist com o instituto
YouGov descobriu que 43% dos americanos acreditam, em alguma medida, que o país
caminha para uma guerra civil na próxima década. Para 14%, uma guerra civil nos
próximos dez anos é “muito provável”, e para 29% “um pouco provável”. Entre
apoiadores convictos do Partido Republicano, do ex-presidente Donald Trump, os
que acreditam em guerra civil são 54%.
A mesma pesquisa mostra que os cidadãos
americanos consideram que a polarização e a violência política estão crescendo.
Sessenta e seis por cento creem que o país está politicamente mais dividido
depois da eleição do presidente Joe Biden, e 65% acham que depois de 2021 a
violência política aumentou.
Uma outra pesquisa, da Universidade da Califórnia, realizada em
junho, complementa o cenário. Afirma que 43% dos americanos acreditam em alguma
medida que o modo de vida do país está desaparecendo tão rapidamente que algum
tipo de uso de força é necessário para salvá-lo. Metade também considerou que
nos próximos anos haverá uma guerra civil nos Estados Unidos.
Parte dessa disposição à violência parece
estar amparada em convicções conspiratórias. Ainda segundo essa pesquisa, 32%
dos americanos concordam em alguma medida que as eleições presidenciais de 2020
foram roubadas e que o presidente Joe Biden é ilegítimo. E inacreditáveis 23%
dos americanos creem em alguma medida que “o governo, a mídia e o mundo
financeiro são controlados por um grupo de pedófilos adoradores de satã que
comandam uma operação de tráfico internacional de crianças para abuso sexual”.
Essa última afirmação resume a teoria conspiratória difundida na internet por
uma conta anônima que se identifica como QAnon.
No Brasil, vamos aos poucos acumulando
episódios de violência política, como o assassinato da vereadora Marielle
Franco no Rio em 2018, a facada em Jair
Bolsonaro em Juiz de Fora, também em 2018, os disparos contra a
caravana de Lula no Paraná, nesse mesmo ano, e o assassinato do petista Marcelo
Arruda em Foz do Iguaçu, agora em julho de 2022. Precisamos investigar mais o
tamanho da aceitação de tais ataques no Brasil para avaliar o risco de
entrarmos num ciclo de violência política que pode não ter volta. Mais que
tudo, precisamos agir para desescalar o antagonismo político na sociedade
civil, que aponta para um mundo muito perigoso.
6 comentários:
O risco maior é o de passarem fome nessa gastança que joga dinheiro no lixo e a resposta também é uma pergunta: mas e o PIB que arrecada um trilhão de reais por bimestre?
O mesmo que acuso a Hilary Clinton de comandar um rede de pedófilos em uma pizzaria. Gente da laia do Bannon sujo fisica e pudicamente, ao ponto de vomitar. Foi condenado como será o Trump para a alegria das pessoas que não são White Trash.
Trump simplesmente acabou com o partido Republicano. Nos próximos anos veremos a criação de um novo partido. Guerra Civil só a de Trump tentando se tornar um ditador.
Quem sumiu com 500 crianças imigrantes foi o governo do Trump.
Bolsonaro sonha ser o Trump brasileiro. Só falta a fortuna do americano e a capacidade empresarial dele. Bolsonaro sempre foi um mau militar (bunda suja segundo seus superiores), um péssimo deputado (teve dezenas de funcionários fantasmas que eram parentes ou amigos) e um presidente genocida e sem qualquer capacidade de comando e planejamento.
A facada em Bolsonaro foi desferida por um doente clínico,o que não deixa de ser terrível também,claro.
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