sábado, 3 de setembro de 2022

Pablo Ortellado – O risco da violência política

O Globo

O atentado contra a vice-presidente da ArgentinaCristina Kirchner, é mais um sinal de alerta sobre o risco concreto de sociedades polarizadas entrarem num ciclo de violência política.

Um brasileiro radicado na Argentina tentou assassinar Cristina na noite da última quinta-feira. O atentado só não foi bem-sucedido porque a arma apontada para a cabeça dela falhou. Assim como o Brasil, a Argentina vive um belicoso processo de polarização política que, lá, opõe kirchneristas e antikirchneristas. Ele foi chamado de la grieta, ou “a fissura”.

Uma pesquisa da Universidade de Buenos Aires com uma amostra de 3 mil pessoas nos centros urbanos tentou medir como os eleitores dos dois principais antagonistas das eleições de 2019 viam Cristina Kirchner. Enquanto eleitores da Frente de Todos, que a elegeu vice, associavam a ela os sentimentos de admiração, agradecimento, respeito e carinho, os eleitores do Juntos por Mudança, de Mauricio Macri, a relacionavam aos sentimentos de ódio, asco, desprezo e repulsa.

Nos Estados Unidos, que também vivem uma polarização acentuada opondo trumpistas a progressistas, pesquisas têm mostrado um quadro preocupante e perigoso.

Na semana passada, uma pesquisa da revista inglesa The Economist com o instituto YouGov descobriu que 43% dos americanos acreditam, em alguma medida, que o país caminha para uma guerra civil na próxima década. Para 14%, uma guerra civil nos próximos dez anos é “muito provável”, e para 29% “um pouco provável”. Entre apoiadores convictos do Partido Republicano, do ex-presidente Donald Trump, os que acreditam em guerra civil são 54%.

A mesma pesquisa mostra que os cidadãos americanos consideram que a polarização e a violência política estão crescendo. Sessenta e seis por cento creem que o país está politicamente mais dividido depois da eleição do presidente Joe Biden, e 65% acham que depois de 2021 a violência política aumentou.

Uma outra pesquisa, da Universidade da Califórnia, realizada em junho, complementa o cenário. Afirma que 43% dos americanos acreditam em alguma medida que o modo de vida do país está desaparecendo tão rapidamente que algum tipo de uso de força é necessário para salvá-lo. Metade também considerou que nos próximos anos haverá uma guerra civil nos Estados Unidos.

Parte dessa disposição à violência parece estar amparada em convicções conspiratórias. Ainda segundo essa pesquisa, 32% dos americanos concordam em alguma medida que as eleições presidenciais de 2020 foram roubadas e que o presidente Joe Biden é ilegítimo. E inacreditáveis 23% dos americanos creem em alguma medida que “o governo, a mídia e o mundo financeiro são controlados por um grupo de pedófilos adoradores de satã que comandam uma operação de tráfico internacional de crianças para abuso sexual”. Essa última afirmação resume a teoria conspiratória difundida na internet por uma conta anônima que se identifica como QAnon.

No Brasil, vamos aos poucos acumulando episódios de violência política, como o assassinato da vereadora Marielle Franco no Rio em 2018, a facada em Jair Bolsonaro em Juiz de Fora, também em 2018, os disparos contra a caravana de Lula no Paraná, nesse mesmo ano, e o assassinato do petista Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu, agora em julho de 2022. Precisamos investigar mais o tamanho da aceitação de tais ataques no Brasil para avaliar o risco de entrarmos num ciclo de violência política que pode não ter volta. Mais que tudo, precisamos agir para desescalar o antagonismo político na sociedade civil, que aponta para um mundo muito perigoso.

 

6 comentários:

(político) Paulo dos Santos Andion disse...

O risco maior é o de passarem fome nessa gastança que joga dinheiro no lixo e a resposta também é uma pergunta: mas e o PIB que arrecada um trilhão de reais por bimestre?

Anônimo disse...

O mesmo que acuso a Hilary Clinton de comandar um rede de pedófilos em uma pizzaria. Gente da laia do Bannon sujo fisica e pudicamente, ao ponto de vomitar. Foi condenado como será o Trump para a alegria das pessoas que não são White Trash.

Anônimo disse...

Trump simplesmente acabou com o partido Republicano. Nos próximos anos veremos a criação de um novo partido. Guerra Civil só a de Trump tentando se tornar um ditador.

Anônimo disse...

Quem sumiu com 500 crianças imigrantes foi o governo do Trump.

Anônimo disse...

Bolsonaro sonha ser o Trump brasileiro. Só falta a fortuna do americano e a capacidade empresarial dele. Bolsonaro sempre foi um mau militar (bunda suja segundo seus superiores), um péssimo deputado (teve dezenas de funcionários fantasmas que eram parentes ou amigos) e um presidente genocida e sem qualquer capacidade de comando e planejamento.

ADEMAR AMANCIO disse...

A facada em Bolsonaro foi desferida por um doente clínico,o que não deixa de ser terrível também,claro.