O Estado de S. Paulo
Equipe de transição terá almirante e general em meio a manifestações de militares da ativa
Luiz Inácio Lula da Silva se aproxima da
posse com manifestantes nas portas de quartéis enquanto generais demonstram
pouca disposição para contrariar o movimento. Questiona-se a legitimidade da
eleição do futuro comandante das Forças Armadas.
Há ainda quem abrigue em rede social
xingamentos ao futuro chefe. O coronel Alberto Ono Horita, que chamou Lula de
ladrão e acusou Alexandre de Moraes de favorecer a eleição de Geraldo Alckmin,
não é o único.
O coronel André Luiz Rodrigues Garcia, da 8.ª Região Militar, publicou no dia 12 no Twitter: “Janja deixa Mula mais envergonhado do que na cadeia”. Três dias depois, o general Luiz Alberto Cureau Junior, do Centro de Capacitação Física do Exército, compartilhou crítica do senador eleito Hamilton Mourão a Lula pelo uso do jatinho de um empresário para ir ao Egito. E até o chefe do Centro de Inteligência do Exército, o general Luiz Gonzaga Viana Filho, mantém publicação na qual critica a imprensa com os dizeres: “Extra, extra! Comedor de capim do PT postando merda”.
Enfim, o eleito e seus assessores na
transição sabem que estão diante de um desafio: há oficiais da ativa que
desrespeitam a resolução de 2019 sobre o uso das redes sociais, bem como o
Estatuto dos Militares, que proíbe manifestações político-partidárias. Para
eles, a vitória no voto popular não apaga o passado de Lula. O petista procurou
oficiais generais para a equipe de transição na Defesa – de preferência,
ex-comandantes das Forças – a fim de restabelecer a confiança entre o futuro
governo e a caserna. A maior dificuldade até ontem era achar alguém na Força
Aérea – os nomes da Marinha e do Exército já foram escolhidos. Para comandar, o
futuro governo precisará de exemplos.
Pode-se buscá-los na biografia de Manoel
Luis Osório, do historiador Francisco Doratioto. Acossado pela imprensa
liberal, o Barão de Uruguaiana procurou Osório, em 1858, para que assinasse um
manifesto militar em defesa de seu governo provincial. Osório recusou. “Se não
acompanho meus amigos nos seus desmandos, também não tenho alma para coadjuvar
a empurrá-los na lama.” E concluiu: “Não assinei esse papel, porque o Exército
que tivesse o direito de aprovar as qualidades do seu governo, o teria também
para as reprovar; e eu não desejo ao Exército de 1858 a sorte e crédito do de
1830 e 1831”. O patrono da Cavalaria se referia à anarquia do início da
Regência.
Lula também devia ler o livro para entender por que andar de jatinho emprestado ajuda a sua segurança pessoal, mas prejudica a de seu governo. Em carta ao filho Fernando, em 1866, Osório advertiu: “A época é tal que até as boas maneiras e comportamentos excitam inimigos”.
Um comentário:
O partido devia ter pago uma passagem a Lula,ou ter pago do próprio bolso.
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