terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Alvaro Costa e Silva - Vendo o sol nascer redondo

Folha de S. Paulo

De frente ao mar, ex-governador poderá curtir seu legado de corrupção

No Rio toda criança em idade escolar —mesmo que no momento não esteja estudando por falta de vagas no ensino público— já decorou a lição extracurricular de história recente: nos últimos seis anos, seis governadores ou ex-governadores foram presos ou afastados do mandato. Eles ficam um tempo (que pode ser curto ou longo) atrás das grades, recorrem das condenações e respondem a elas em liberdade. Enquanto isso, o esquema de corrupção que os levou ao cárcere segue em moto-contínuo.

Último dos moicanos ainda vivendo em regime fechado em decorrência das apurações da Lava Jato, Sérgio Cabral conseguiu a revogação da prisão preventiva por 3 votos a 2 no STF —o voto de desempate foi dado pelo ministro Gilmar Mendes ressaltando que a decisão não significa absolvição.

Condenado a 436 anos e depois de passar mais de 2.200 dias na cadeia, ele vai morar num apart-hotel com vista para o mar, entre Copacabana e o Arpoador. Longe dali, na zona norte, ergue-se um monumento à corrupção legado por Cabral à cidade: o horroroso novo Maracanã, construído para a Copa de 2014 ao preço superfaturado de 1,2 bilhão, sem contar as propinas. O ex-governador costumava cobrar 5% do valor de cada contrato, percentual que ficou conhecido como "taxa de oxigênio".

Homem disposto a tudo para enriquecer, a ascensão de Sérgio Cabral é um retrato da prática política no Brasil: ganância, estupidez e soberba mescladas a uma enorme vaidade e à certeza de ficar impune no futuro. Sua primeira eleição a governador em 2006 —quando suas relações indecentes eram sabidas até pelos postes da rua da Mercado— se revestiu de uma rede impensável de cumplicidade com a velha máquina do MDB fluminense ao lado de tucanos, petistas, brizolistas, comunistas, evangélicos e setores da imprensa.

Um movimento orquestrado que em tudo lembra o apoio eleitoral a Cláudio Castro, atual governador ainda em liberdade.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Rio de Janeiro adora eleger...