terça-feira, 13 de dezembro de 2022

João Villaverde* - ‘De uma vez por todas’ dá o tom da diplomação

O Estado de S. Paulo

O clima era “de uma vez por todas”. Quem acompanhou a cerimônia de diplomação da chapa Lula-Alckmin no TSE seguramente terminou o evento com essa sensação. Alexandre de Moraes, o presidente do tribunal, balizou todo o seu discurso como se estivesse dizendo “de uma vez por todas” que todos aqueles que atentam contra as eleições e a democracia pagarão criminalmente. Diplomado presidente, Lula falou “de uma vez por todas” que o resultado eleitoral foi claro e deve ser respeitado.

A eleição foi a mais apertada de nossa história. Jair Bolsonaro teve o melhor resultado que um segundo colocado jamais registrou. Mas Lula teve mais votos que ele. Lula venceu e Bolsonaro perdeu. Pronto. A cerimônia da tarde de ontem, um protocolo que normalmente tinha pouca (ou nenhuma) importância, serviu de marco simbólico relevante nesses tempos incertos.

Diante de uma parcela de extremistas que bloqueiam rodovias e destroem patrimônio público e privado, o País assistiu no TSE duas falas seguidas que capturaram perfeitamente o tom do momento. Era preciso dizer uma última vez, como quem fala “de uma vez por todas”, que as eleições acabaram. Lula venceu e Bolsonaro perdeu.

A fala do presidente eleito foi a mais cerimoniosa entre as três das quais ele participou (as anteriores ocorreram em dezembro de 2002 e dezembro de 2006). Agora, o rito em si da diplomação importava. Lula se emocionou, mas foi quando falou seriamente que sua mensagem foi mais clara: o País permanece rachado, mas dezenas de milhões de eleitores que votaram em Bolsonaro estão dispostos a aceitar o resultado eleitoral. Os que promovem baderna são minoria. Barulhentos, mas minoritários. Lula sabe disso. O discurso claramente foi orientado aos que não votaram na chapa da frente ampla. Bom sinal.

Desde o governo José Sarney que há democracia plena: todos os adultos, mesmo os analfabetos, podem votar em quem quiserem. Isso não existia mesmo antes da ditadura militar. Foi simbólico, portanto, que Sarney lá estivesse acompanhando a cerimônia do TSE.

Alexandre de Moraes foi direto: ao marcar que o tribunal lutou para “impedir que a desinformação maculasse” as eleições, ele também cravou que aqueles que espalham notícias falsas e atentam contra a democracia serão responsabilizados. Ele está certo. Por mais que seja óbvio – criminosos, afinal, devem pagar por seus crimes – era preciso repetir “de uma vez por todas”.

*Professor de administração pública e governo na FGV-SP

Um comentário:

Anônimo disse...

Direto no centro da 'táubula de tiro ao árvaro'.
Boa, João Villaverde!