sábado, 4 de fevereiro de 2023

Alvaro Gribel - Lula contra os moinhos de vento

O Globo

A cruzada de Lula contra o Banco Central lembra a cena clássica do livro “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes. Após fugir de casa em busca de aventuras, Quixote confunde 30 moinhos de vento com terríveis gigantes e parte para o confronto, ignorando os apelos de seu fiel escudeiro Sancho Pança, que o alerta sobre o engano, em vão. O BC, neste momento, pode ser tudo para Lula, menos um inimigo. Ao contrário, a confiança que Roberto Campos Neto e sua diretoria passam aos agentes econômicos — não só ao mercado financeiro — vem ajudando a manter o dólar e as expectativas de inflação sob controle, a despeito dos equívocos de discurso que Lula tem cometido na área.

Se existe um problema na economia, ele não está na política monetária. Os juros altos são a consequência dos desequilíbrios, e não a sua causa. A inflação subiu porque houve dois choques externos de oferta, um pela pandemia, outro pela guerra na Ucrânia, mas no Brasil eles são agravados pela forte indexação e pela crise fiscal crônica que permanece no país desde o segundo governo Dilma.

“Na prática, o que Lula faz é contratar mais inflação”, me relatou de forma precisa um economista que passou pelo Banco Central. Isso já pode ser visto nas expectativas de mercado, que servem de parâmetro para as decisões do Copom. Como mostra o gráfico, nas últimas quatro semanas, as projeções deram um salto de 2023 a 2027. Em economês, isso se chama “desancoragem de expectativas”. Em linguagem coloquial, “a pasta de dente saiu do tubo e será difícil colocá-la de volta”.

Com as expectativas em alta, o Banco Central alertou que poderá manter a Selic em 13,75% por mais tempo, podendo até elevar a taxa, em um cenário extremo. No mercado futuro, onde os investidores compram e vendem títulos do governo, os papéis com vencimento em 2050 atingiram o maior patamar desde 2016. Se esse cenário permanecer, os investimentos de longo prazo na economia real serão afetados, porque a renda fixa ficará atrativa. Um paraíso rentista.

Como já escrevi neste espaço, a equipe de Haddad tem feito um enorme esforço para passar credibilidade e ganhar confiança entre empresários e investidores. Em evento de um grande banco em São Paulo esta semana, o secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, reforçou a importância do ajuste fiscal, disse que ele será feito com controle de despesas e que a ideia de mudança nas metas de inflação não partiu da Fazenda.

Com suas falas sem filtro e improvisadas, Lula está plantando para todo o seu mandato aumentos de preços e juros, e, consequentemente, menor crescimento do PIB e da renda. Há muitos alertas sendo feitos, como os de Sancho Pança. Resta saber se, ao contrário de Dom Quixote, Lula dará ouvidos aos apelos antes que o estrago aumente.

Nem Freud explica

Depois de cair para R$ 4,96 durante o pregão de quinta-feira, o dólar disparou 2% para fechar em R$ 5,14, ontem. Pesaram sobre o real as falas de Lula, em entrevista à Rede TV!, e os dados de criação de vagas nos EUA, que vieram mais fortes do que o esperado. Até aqui, o Brasil vem se beneficiando de um forte fluxo de entrada de dólares em países emergentes, pela visão do mercado de que o ciclo de alta dos juros nos EUA está perto do fim. Quem entende de câmbio diz que o dólar poderia facilmente estar cotado entre R$ 4,60 e R$ 4,80, não fossem os ruídos de comunicação. Quais seriam os ganhos para a popularidade de Lula se o dólar tivesse despencado nos primeiros 30 dias de governo?

Garimpo em Terra Indígena

Somente nos três primeiros anos do governo Bolsonaro, até 2021, as áreas de garimpo dentro de Terras Indígenas dobraram. O crescimento foi de 102%. Eram 9,7 mil hectares em 2018, e agora são 19,6 mil hectares, segundo o Instituto Escolhas. O Banco Central prometeu há seis meses a criação de um grupo de trabalho para monitorar a entrada de ouro ilegal no mercado financeiro. Mas, até agora, nada.

4 comentários:

Anônimo disse...

"Quais seriam os ganhos para a popularidade de Lula se o dólar tivesse despencado nos primeiros 30 dias de governo?"

Se dependesse dos seus textos, Gribel, nenhum, já q vc diria q a queda se deveria a fatores como a sorte.

Lula não é contra a independência do BC, pois, se efetivamente independente, os juros não estariam tão altos. Assim estão porque o BC, objetivando reeleger o genocida, NÃO aplicou os remédios necessários na época certa, ié, durante o desgoverno bozo.
OU SEJA, O BC NÃO FOI/É INDEPENDENTE. O BC, na pessoa de seu presidente, é bolsonarista.
Agora, nos tempos de LULA, o BC aplicará doses mais fortes de remédio amargo acarretando menos emprego e uma contração maior da economia (ou menos crescimento) do q seria possível.
Estes reflexos negativos impactam negativamente o governo Lula quando deveriam ter impactado o do palerma fujão.

Anônimo disse...

"Quem entende de câmbio diz que o dólar poderia facilmente estar cotado entre R$ 4,60 e R$ 4,80, não fossem os ruídos de comunicação."

Pois é, mas estava a $5,80 no final do desgoverno bozo de q se diz q o BC era INDEPENDENTE.
Perceba, seu próprio texto demonstra q o BC NUNCA foi independente pois, se fácil, um BC independente teria feito o dólar ficar naquela faixa. Facinho, né?
Hipocrisia! Hipocrisia!

ADEMAR AMANCIO disse...

Alvaro Gribel.

Anônimo disse...

Pois é. Valeu