O Estado de S. Paulo.
Tantas foram as promessas a respeito da
qualidade do arcabouço fiscal, responsável por substituir o critério do teto de
gastos, que o risco é de que não seja suficientemente confiável e que acabe em
decepção. A conferir.
O governo Lula tem insistido em que não se
pode deter a inflação apenas com a alta dos juros. Nada mais certo. Só não se
vê até agora nenhum passo decisivo nessa direção. Mas vamos ao que poderia ser
feito para ajudar a segurar ou, até mesmo, a derrubar os preços, sem pressionar
demais os juros.
As providências mais importantes escorreriam para o lado fiscal. O presidente Lula não esconde sua resistência a práticas de austeridade fiscal. Para ele, as prioridades são as despesas sociais que aliviem a pobreza e os investimentos em obras públicas que produzam crescimento econômico e emprego. E, no entanto, despesas sociais e investimentos baseados em despesas públicas, sem receitas que lhes correspondam, despejam recursos no mercado e fazem o contrário do que tenta o Banco Central.
Proposta alternativa insistente é a de que
o governo deve refazer estoques reguladores, especialmente de alimentos. Mas
essa é uma proposta adequada quando há ameaças de escassez, o que não ocorre no
Brasil. Além disso, essa estocagem de alimentos exigiria recursos públicos –
esses, sim, mais escassos do que os produtos em alta.
O novo presidente da Petrobras, Jean Paul
Prates, é um sistemático defensor da criação de um fundo de estabilização dos
preços do petróleo e derivados. Só que a formação de um fundo dessa natureza
também exigiria recursos públicos. Além disso, preços mais baixos dos derivados
concorreriam para reduzir a arrecadação dos Estados.
Um dos fatores de alta é a desvalorização
do real (queda do dólar), que puxa para cima não só os preços dos importados,
mas, também, os dos produtos nacionais amarrados ao dólar, como soja, milho,
trigo e petróleo. Mas, para estabilizar a cotação do dólar, o Banco Central
teria de vender reservas. E convém anotar que a contrapartida a uma
revalorização do real baratearia o produto importado e, assim, levaria o risco
de reduzir a competitividade da indústria.
Outro caminho para segurar a inflação que
dispensasse a alta dos juros seria reduzir a indexação (correção automática de
salários e de preços), antigo vício da economia brasileira, nunca extirpado,
apesar dos esforços nessa direção. O problema aí é mais político do que
técnico, porque as pressões por reajustes surgiriam de todos os lados.
E nem se fala em controle artificial de
preços, coisa que não funciona nunca, nem com a ressurreição dos fiscais do Sarney
acionados nos anos 1980.
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