Valor Econômico
Educação, aqui, sempre foi para muito
poucos
Quem frequenta ou frequentou escolas
públicas no Brasil sabe que a violência nessas instituições não é episódica,
mas, sim, uma característica nacional, inscrita no caráter desta sociedade
desde sempre. Não é difícil entender o porquê, ainda que um ou outro caso não
se enquadre nas razões que explicam mais uma das nossas tantas chagas sociais.
Quem já frequentou escola pública neste
país certamente testemunhou casos de violência envolvendo alunos, professores,
funcionários e pais dos estudantes. Trata-se de algo diário, tão cotidiano
quanto a sucessão dos dias no calendário escolar.
Ora, a maneira como esta sociedade lidou e ainda lida com a educação de seu povo explica quase tudo. Durante a vigência da escravidão, portanto, por quase 400 anos, escravos eram proibidos de estudar. Aos alforriados era permitido frequentar escolas, desde que tivessem renda, propriedades e uma determinada quantia em dinheiro, uma fortuna inalcançável para a maioria dos cidadãos na segunda metade do século XIX. Estados como o Rio de Janeiro proibiam negros e pessoas com doença contagiosa de estudar em suas escolas.'
No fim daquele século, os negros, sendo que
a maioria absoluta entre eles eram escravos, já representavam o maior grupo
populacional do país. Não permitir a alfabetização dos negros era, portanto, um
projeto político, e isso ficou ainda mais claro pouco antes da promulgação da
Lei Áurea, em maio de 1888.
Quando a classe política percebeu que o
movimento abolicionista sucederia, afinal, o Brasil era o único país das
Américas que ainda não tinha acabado com a infâmia da escravidão, logo tratou
de assegurar seu projeto de poder pós-abolição. E como foi feito isso? O
Parlamento aprovou a Lei Saraiva, em janeiro de 1881, instituiu o título de
eleitor as eleições diretas para todos os cargos eletivos do Império e a
proibição do voto de analfabeto.
Bem, em 1888, apenas 2% da população
brasileira era alfabetizada. Este é um dado chocante, mas, visto em
perspectiva, é algo que não poderia ser diferente, dada a natureza da sociedade
que se forjou aqui desde a chegada dos europeus em 1500. Durante mais de um
século, inclusive, depois de instaurada a "República", em 1889, uma
minoria de brasileiros, a maioria branca, decidiu os destinos deste país - já
passou da hora de colocarmos aspas na palavra República ao nos referirmos ao
regime político instaurado nestes tristes trópicos.
A Lei Saraiva foi escrita para manter os
africanos escravizados e seus descendentes em seus lugares: à margem da
sociedade. Como se sabe, o voto do analfabeto só foi reinstituído em novembro
de 1985, quando foram realizadas as primeiras eleições municipais após o fim do
regime militar iniciado em 1964.
Aquele foi o marco inicial de um longo
processo de mudanças institucionais em direção à construção de uma sociedade
menos injusta. A Constituição de 1988 veio em seguida ao inscrever como
cláusula pétrea a proibição de qualquer forma de discriminação. Desde então,
inúmeras leis foram aprovadas pelo Congresso para dar consequência aos direitos
e garantias fundamentais previstos na Carta Magna. Além disso, mecanismos de
inclusão e reparação histórica de prejuízos sofridos pela população negra, como
a lei de cotas nas universidades públicas, foram adotados em decorrência da
permanente luta política empreendida por movimentos negros.
Durante esse período, não foram poucas as
tentativas de setores superconservadores da sociedade de dificultar a
regulamentação dos capítulos de direitos e garantias fundamentais da Constituição.
Esses movimentos eram caracterizados por um silêncio, digamos, obsequioso. Com
a ascensão de Jair Bolsonaro ao poder, em 2019, o silêncio foi rompido.
O médico patologista e doutor em educação
Nizan Pereira Almeida estudou a fundo o tema da exclusão dos negros do sistema
educacional. Sua tese - “A construção da invisibilidade e da exclusão da
população negra nas práticas e políticas educacionais no Brasil” - é
esclarecedora. Almeida descobriu a origem da "naturalidade" com que,
desde os tempos Império, a exclusão racial passou a ser encarada no Brasil.
Entre a Constituição de 1824, que instituiu
o acesso de brasileiros à escola, com exceção dos negros, e a de 1891,
promulgada já no período republicano, perdurou sistema escolar que reservava
aulas domiciliares aos ricos; escolas públicas aos pobres e livres nascidos no
Brasil, ou cursos em seminários católicos, para poucos.
A tragédia da Escola Thomazia Montoro, em
São Paulo, teve no racismo a motivação da violência. Obviamente, há outros
fatores envolvidos nesse caso. De toda maneira, vivemos uma situação
"endêmica", segundo levantamento realizado no ano passado pela “Nova
Escola”, quando foram ouvidos 5.300 educadores de todo o país.
Os números são os seguintes: oito de cada
10 professores relatam casos de violência nas escolas onde trabalham; sete
percebem aumento na violência nas escolas pós-pandemia, especialmente entre os
próprios alunos; entre os educadores que foram alvos, 51,23% relatam terem
sofrido violência verbal.
A violência psicológica é relatada por
22,89% dos entrevistados; já a violência física representa 7,53% dos casos. De
acordo com os profissionais, 50,46% dos agressores são estudantes. Em seguida,
vêm os pais dos alunos - 25,6% do total; 11,4% dos agressores são gestores das escolas
e cerca de 9% são os próprios professores.
O racismo é, segundo outra pesquisa da
“Nova Escola”, esta realizada em novembro de 2022, com a participação de 1.847
educadores, é uma prática cotidiana nas escolas: 53,2% dos profissionais pretos
e pardos declararam ter presenciado situações de racismo em ambiente escolar
nos últimos cinco anos; 23,71% dos professores negros alegam que já foram alvo
de discriminação.
Um comentário:
Que lixo de artigo, cheio de argumento contraditório kklkk. Vc eh muito bosta.
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