quinta-feira, 30 de março de 2023

Bruno Boghossian - Desembarque dirá pouco sobre o futuro político de Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Ex-presidente queria encenar retorno heroico no 1º dia, mas teste será feito nos 1.284 dias seguintes

Jair Bolsonaro queria uma festa em seu retorno ao país. Planejou recepção no saguão lotado do aeroporto, desfile em carro aberto e discurso para uma multidão. A ideia era encenar uma espécie de retorno heroico, como se o isolamento de três meses nos EUA não tivesse sido a escolha livre de um político abatido.

O programa foi vetado por órgãos de segurança de Brasília, mas não seria prudente descartar uma nada espontânea quebra de protocolo. A experiência bolsonarista já mostrou que o líder e seus seguidores se alimentam de um desafio infantil a autoridades e regras em geral.

O primeiro dia de Bolsonaro em solo brasileiro como ex-presidente dirá pouco sobre seu futuro ou sobre o vigor da extrema direita. Esse teste será feito nos 1.284 dias seguintes, até 2026. O capítulo desta quinta (30) será apenas uma demonstração de como ele pretende ser visto.

Como movimento populista, o bolsonarismo precisa de um líder cultuado. A derrota para Lula em 2022 caiu mal dentro do grupo porque as urnas quebraram essa imagem, somando-se ao incômodo com a ausência do ex-presidente durante o autoexílio americano.

Bolsonaro gostaria que o roteiro de seu retorno fosse uma prova de que não houve popularidade perdida nesse processo. O ex-presidente quer criar e manter a ilusão de que seu nome tem apoio majoritário —um adjetivo que ele não consegue reivindicar, ainda que seja um dos políticos mais populares do país.

Aliados vêm dando pistas da plataforma que Bolsonaro pretende explorar na oposição. O ex-presidente deve buscar principalmente más notícias na economia para atacar o discurso de campanha de Lula, além de enfrentar o governo em temas ligados à segurança pública. Nessas horas, deixará de lado o fiasco de seus quatro anos no Planalto.

Bolsonaro, aliás, passará os próximos tempos assombrado pelo passado. As ações de inelegibilidade e as investigações sobre as joias sauditas estarão na porta da mansão que o PL alugou para abrigá-lo.

 

3 comentários:

Anônimo disse...

E a puliça desbolsonarizada também vai estar lá

Anônimo disse...

O Minto apenas espera a chegada do próximo oficial de justiça. Vão fazer fila na porta da casa dele. Depois virão os julgamentos e as condenações, e então os recursos e a PRISÃO. Contagem regressiva já iniciada... Vai voltar a choramingar e se dizer perseguido!

ADEMAR AMANCIO disse...

Pois é.