domingo, 25 de junho de 2023

Bruno Boghossian - Direita, direita, negócios à parte

Folha de S. Paulo

Ninguém imagina que o centrão conservador vestirá camisa vermelha se receber o Ministério da Saúde

Políticos que faziam negócios com Jair Bolsonaro andam dizendo que o problema de Lula com o Congresso passa pela ideologia dos deputados e senadores. Pouco depois de entrar em conflito com o governo, Arthur Lira (PP) sentenciou que o Planalto precisa aprender a "conviver com quem pensa diferente".

Semanas mais tarde, dois presidentes de partidos seguiram a mesma linha. Marcos Pereira (Republicanos) afirmou que Lula tem que se acostumar com o fato de que "o Congresso é de centro-direita", e Ciro Nogueira (PP) declarou que a maioria dos parlamentares "não tem identificação nenhuma com o governo".

A matemática empresta coerência à avaliação do trio. O eleitor mandou para a Câmara 189 deputados do centrão de direita (PL, PP e Republicanos) e outro bom punhado de parlamentares conservadores em outras siglas (MDB, PSD e União Brasil).

Lula realmente encara um Congresso que restringe a ação de seu governo na esquerda. O presidente sabe que terá menos sucesso na aprovação de pautas com essa coloração do que em itens com tintas políticas mais suaves.

Nessa segunda categoria, o Planalto já percebeu que consegue garantir fidelidade alta dentro dos partidos de sua base e ainda beliscar dissidentes em outras legendas —alguns que concordam com a agenda petista e outros que apoiam o governo por sobrevivência (como deputados e senadores do Nordeste).

Mas a análise dos cardeais do centrão faz água diante da cobrança estridente por verba para parlamentares "de centro-direita" ou pela entrega de cargos para o grupo que "não tem identificação nenhuma com o governo". Ninguém imagina que essa turma passaria a ser de esquerda de uma hora para outra se tivesse o controle do Ministério da Saúde.

O presidente do Republicanos já explicou que um deputado de direita terá mais "boa vontade" com Lula se receber benefícios. "Se ele já tem uma pauta contrária e ele não está sendo atendido, a tendência de ele ser mais reativo é natural também."

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Se a pauta for boa para o País todos deviam votar com o presidente.