Correio Braziliense
O encontro de Lula com Macron coincidiu com a
eclosão da crise militar russa, que influenciou o seu posicionamento na Cúpula
para um Novo Pacto Financeiro Global
A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à França, na qual se reaproximou do presidente francês, Emmanuel Macron, seu principal aliado na União Europeia, mudou o eixo da política externa, restabelecendo a centralidade do tema da sustentabilidade e da cooperação econômica, em vez de perseguir obsessivamente a condição de negociador da paz na Ucrânia. De certa forma, a reação negativa dos Estados Unidos e demais países europeus à aproximação excessiva com a Rússia e, agora, a crise militar enfrentada pelo presidente Putin, em decorrência da rebelião do Grupo Wagner, o exército mercenário que o líder russo financiou na Ucrânia, provocaram esse reposicionamento.
A rebelião armada do magnata e mercenário
Yevgneny V. Prigozhin, chefe do Grupo Wagner, é um fato novo na Guerra da
Ucrânia, que pode acelerar o seu fim, muito mais do que os esforços de Lula até
agora. O líder rebelde anunciou que tomou a importante cidade de Rostov-on-Don,
no Sul da Rússia, e ameaçou marchar para Moscou. No fim do dia, recuou, para
evitar “um banho de sangue”. Como Prigozhin não encontrou resistência militar,
é evidente a desorganização e a fragilidade do Exército russo naquela zona de
guerra. A origem da crise é o desentendimento com o ministro da Defesa russo,
Serguei Shoigu, que Prigozhin tentou derrubar.
Entretanto, Putin classificou a rebelião
como uma “facada nas costas” e prometeu “punir os traidores”, o que mostra que
seu poder está ameaçado. O Grupo Wagner é formado por ex-militares russos de
elite, alguns deles são veteranos da Chechênia e do Afeganistão, uma verdadeira
empresa paramilitar privada que sempre teve ligações com o Kremlin, tendo
atuado na Síria e na Líbia de forma sanguinária. Quando o Exército russo
começou a perder muitos homens na Ucrânia, o Grupo Wagner recrutou prisioneiros
e civis russos, assim como ex-militares estrangeiros. Estima-se que seu
contingente tenha chegado a 50 mil homens.
Há meses, Prigozhin vinha se desentendendo
publicamente com ministro Shoigu, que se recusou a fornecer armamentos mais
pesados, modernos e estratégicos ao Grupo Wagner. Pode ser que o líder rebelde
tenha agido em sintonia com a plutocracia russa, à qual pertence, que está
descontente com as consequências econômicas da guerra. Prigozhin aceitou cessar
o motim, após acordo no qual o Kremlin anunciou que o processo criminal aberto
contra ele será encerrado. O líder do grupo Wagner se mudará para Belarus.
Consagração
O encontro de Lula com Macron, na sexta-feira,
praticamente coincidiu com a eclosão da rebelião. Apesar de a visita estar
programada com muita antecedência, a crise militar russa certamente influenciou
o seu reposicionamento na Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global. “Eu
queria dizer a você, meu caro Macron, que, desde ontem à noite, eu tenho mudado
o meu discurso. Eu passei a semana na Itália preparando um discurso, mas já
mudei o discurso umas 10 vezes e não vou ler meu discurso”, disse Lula, que
falou de sustentabilidade e economia e, praticamente, ignorou a guerra na
Ucrânia.
Na quinta-feira, num dos momentos mais
consagrados de sua diplomacia presidencial, Lula havia participado do Power Our
Planet, evento que reuniu lideranças mundiais e importantes nomes da música em
defesa de um novo pacto financeiro global para enfrentar o desafio climático.
Lula foi ovacionado por mais de 100 mil pessoas, que lotaram o Campo de Marte,
em Paris, tendo ao fundo a Torre Eiffel.
Lula destacou que a Amazônia, com seus 400
povos indígenas e 300 idiomas, representa 40% das florestas tropicais, 6% da
superfície terrestre e tem o rio mais caudaloso do planeta. “A Amazônia é
responsável por 10% das espécies de plantas e animais estimadas no mundo, e 87%
da matriz energética brasileira é limpa e renovável, contra uma média mundial
de 27%. Cinquenta por cento da energia que consumimos no Brasil já é renovável,
no resto do mundo esse valor é de apenas 15%.”
Depois de reiterar o compromisso de atingir
a meta de desmatamento zero até 2030 e punir quem derrubar a floresta, empolgou
a plateia formada por ambientalistas e militantes de esquerda franceses ao
encerrar o discurso com uma crítica aos países mais desenvolvidos: “Na verdade,
quem poluiu o planeta, nestes últimos 200 anos, foram aqueles que fizeram a Revolução
Industrial e, por isso, têm que pagar a dívida histórica que têm com o planeta
Terra.”
Somente um brasileiro antes dele recebeu
tantos aplausos no Campo de Marte: Alberto Santos Dumont. No final do século
19, a Torre Eiffel já era um símbolo de Paris. O empresário Henry Deutsch havia
lançado um desafio aos primeiros aviadores da época: um prêmio de 100 mil
francos ao primeiro piloto que conseguisse contornar a Torre Eiffel e voltar ao
seu ponto de partida em 30 minutos.
Na tarde de 19 de outubro de 1901, Santos
Dumont cumpriu a façanha. A bordo do dirigível número 6, depois de sucessivas
tentativas, acidentes e adaptações, como no sistema de compensação de ar,
cumpriu o trajeto de ida e volta entre Saint Cloud e a torre no tempo
estabelecido, a uma velocidade de 22km/h. Foi primeira vez que alguém teve a
capacidade de controlar um balão no ar.
Um comentário:
LegaL LuLaLá...
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