Folha de S. Paulo
Matérias primas e dólar limitam carestia;
se governo ajudar, Selic pode cair rápido
A inflação estava
em 11,7% ao ano em maio de 2022. Baixou a 3,9% em maio de 2023. "Ao
ano": a inflação acumulada em doze meses. Há um pouco de ilusão neste
número baixo. Mas
há indícios de que o IPCA possa cair mais e meios para fazer com que a
inflação e expectativas diminuam, com ajuda do governo em especial.
Assim, sairiam do radar os motivos pelos
quais o Banco
Central mantém a taxa a Selic, em 13,75%.
Não deve haver corte na reunião do BC de junho. Se a redução da Selic virá em 2 de agosto ou em 20 de setembro não é lá relevante para o andamento da economia, nem no curto prazo. É melhor cortar devagar, 0,25 ponto percentual a partir de agosto, ou partir para um confiante e regular talho de pelo menos 0,5 ponto, a partir de setembro?
É melhor criar condições para um corte
rápido. Nas estimativas compiladas pelo BC, economistas do setor privado ainda
preveem Selic a horríveis 10% no final de 2024; os mais otimistas da praça
preveem 9%.
Antes de mais nada, repita-se que a
inflação de 3,9% ao ano até maio é um pouco ilusória. A conta do IPCA nesses 12
meses inclui uma desinflação artificial, a baixa de 1,3% de julho a setembro de
2022, a redução eleitoreira do preço dos combustíveis pelo governo das trevas.
Sendo otimista, o IPCA acaba este ano em torno de 5%.
Além disso, os preços livres ainda sobem
5,7% em 12 meses. É aquela medida de inflação que desconsidera a variação de
preços de algum modo influenciados por governos: água, luz, combustíveis,
transporte público, pedágio, plano de saúde etc. A inflação de serviços foi de
6,5% e cai devagar.
Mas há boas notícias. A inflação no atacado
vem despencando. Nos 12 meses até maio, o Índice de Preços de Atacado (IPA,
medido pela FGV) baixava 8,9%, em parte considerável graças a minério de ferro,
diesel, milho, soja e boi.
O
preço do dólar anda se comportando na casa de R$ 4,9. O PIB cresce mais do
que o previsto, mas, pelo bem ou pelo mal, não de modo a pressionar mais a
inflação (o consumo das famílias anda devagar, quase parando, e o investimento
produtivo caiu).
As expectativas de inflação para os
próximos 12 meses baixam desde abril, embora em ainda 4,7%. Para 13 a 24 meses
adiante, caem desde meados de maio, embora em ainda 4,1%. Porém, os números
começam a surpreender para baixo. As expectativas de "o mercado" devem
cair também.
Despiorou a percepção do que Lula 3 vai
fazer de suas contas e déficits. É possível que o governo arrecade mais do que
se previa; é possível obter déficit menor. Não será grande coisa a pesar em
expectativas em geral, mas é alguma coisa —a favor. Caso o governo dê fim a
essa conversa de revisar a meta de inflação do BC, vai ganhar uns pontos nas
expectativas de inflação (vão baixar).
No mercado onde se definem os custos de
financiamento de déficit e dívidas do governo, as taxas de juros caíram bem. A
taxa futura de um ano fora a 14,6% em novembro de 2022, pois Lula subia em
palanque para desancar o controle de gasto público (no final da eleição, a taxa
estava em 13,2%). Foi o maior tiro no pé que o presidente deu desde eleito.
Agora, a taxa de um ano desceu a 12,2%, em parte graças ao arcabouço fiscal, e
está abaixo do nível do "Lula Day" para todos os prazos.
No entanto, como as expectativas de
inflação também baixaram, a taxa real de juros subiu um tanto (taxa futura de
um ano descontada a expectativa de inflação para 12 meses). Rondava os 7% em
abril, está em 7,3%. Um pequeno aperto monetário extra aí.
Há motivos que fundamentam essa baixa da
inflação; há meios de o governo criar condições adicionais para um corte rápido
da Selic. Daí, a responsabilidade fica com o BC.
Um comentário:
Boa análise!
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