O Globo
Governo enfrentou apagão, aumento dos
combustíveis e a declaração de Haddad azedou o clima nas negociações com o
Congresso
O governo Lula viveu a sua pior semana na economia. Ela começou na segunda-feira, com a declaração infeliz — ainda que com ares de verdade — do ministro Fernando Haddad, que disse que nunca viu a Câmara dos Deputados com tantos poderes. A frase azedou as negociações da pauta econômica e obrigou o ministro a jogar na defensiva com o presidente da Casa, Arthur Lira. Depois, na terça-feira, foi a vez de um apagão nacional ainda mal explicado, em paralelo a um forte reajuste nos preços dos combustíveis pela Petrobras. A tese de que a companhia é autossuficiente e não precisa seguir a cotação internacional não prevaleceu sobre os impactos no caixa da empresa. Para completar, o cenário internacional virou, e isso fez o real voltar para perto de R$ 5,00 e a bolsa brasileira cair por 13 sessões seguidas.
'Se sabe que muda o tempo’
A lição da última semana para o governo é
que os ventos da economia mudam rapidamente. Haddad conseguiu chegar ao mês de
agosto com três grandes vitórias: redução da taxa de juros pelo Banco Central,
aprovação na Câmara da reforma tributária, e a aprovação nas duas Casas do
Arcabouço fiscal. Mas o projeto do arcabouço ainda precisará passar por nova
votação na Câmara, e a reforma tributária ainda terá uma longa batalha no
Senado. Além disso, há uma série de projetos cruciais de aumento de arrecadação
que vão demandar muita negociação com o Congresso. Não é hora para escorregões.
PIB mais alto
AMB Associados revisou de 2,1% para 2,5% a
estimativa para o PIB do Brasil este ano. O que mais surpreende na projeção,
diz o economista Sérgio Vale, é a expectativa de alta de 0,1% no segundo
trimestre, depois da forte alta de 1,9% no primeiro. “As commodities seguem
sendo as estrelas do crescimento. Não apenas as agrícolas, mas a indústria
extrativa (mineração e petróleo) deverá ter resultado importante este ano, também,
com expansão de 6,3%”, disse o economista em relatório.
Vem de fora
O gráfico mostra como o real está pegando
carona na onda negativa internacional. O dólar tem se valorizado em relação às
moedas de países exportadores de commodities este mês. Se a moeda americana
ganhou 5,31% em relação ao real, saindo de R$ 4,72 para R$ 4,97, também teve
ganhos em relação ao rand sul-africano, dólar australiano, e os pesos
colombiano, chileno e mexicano. De um lado, o mercado financeiro prevê juros
mais altos nos EUA, o que fortalece o dólar. De outro, a China dá sinais de
problemas, o que pode diminuir a importação de produtos desses países,
enfraquecendo as suas moedas.
Impacto nos alimentos
O aumento dos combustíveis deve ter impacto
sobre os preços dos alimentos, segundo a Associação Brasileira de Supermercados
(Abras). A estimativa da entidade é de que os produtos hortifrutigranjeiros
sejam impactos mais rapidamente, porque os estoques duram apenas de dois a três
dias. “Outros alimentos, como carnes e laticínios, devem ter um aumento de
preço no início de setembro, enquanto os itens industrializados podem subir em
cerca de 30 dias”, diz a associação.
Pequeno alívio
Ontem, o Ibovespa fechou em leve alta, de 0,31%, depois que a China anunciou um pacote de estímulos para atrair mais investimento estrangeiro. Segundo o economista Eduardo Velho, da JF Trust Gestora de Recursos, também trouxe alívio ao mercado brasileiro a expectativa de que o governo consiga chegar a um acordo com o centrão para a reforma ministerial: “Isso evitaria maiores perdas fiscais no Congresso de curtíssimo prazo”, disse.
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