domingo, 20 de agosto de 2023

Eliane Cantanhêde - A vaquinha vai pro brejo?

O Estado de S. Paulo

Nova frente de investigação: a vaquinha de R$ 17 milhões. Foi lavagem de dinheiro?

Ao quebrar o sigilo bancário e fiscal do ex-presidente Jair Bolsonaro e Michelle, o STF abre uma nova frente de investigação para a Polícia Federal: a história da vaquinha de R$ 17 milhões para pagar uma multa de R$ 1 milhão se sustenta em pé? Ou foi uma saída criativa e parte dos depósitos foi para “esquentar” ou “lavar” o dinheiro vivo do casal?

O esquema de venda de presentes, joias e relógios que funcionava dentro do Planalto é demolidor para o destino e a imagem de Bolsonaro, porque revela crime e reforça o gosto da família por dinheiro em espécie, rachadinhas e compra e venda de imóveis. Mas isso não explica tudo.

Não explica os quase R$ 12 milhões que o tenente coronel da ativa Mauro Cid e seus subordinados na Ajudância de Ordens movimentaram em um ano e meio, nem todos os repasses para Bolsonaro e Michelle. De onde vem o resto?

Em outros tempos, “Anões do Orçamento” na Câmara justificavam estranhas fortunas com… a sorte, a loteria. Agora, a estratégia é dizer que os presentes são “personalíssimos” e o casal ficou milionário com a vaquinha. Só quem acreditou na loteria engole essa. Daí porque a suspeita de que os R$ 17 milhões vieram bem a calhar para Bolsonaro tentar justificar, para a PF, o Supremo e o distinto público, os valores em dinheiro vivo.

Assim vai-se fechando o cerco e juntando as pontas: joias e contas milionárias com as articulações do golpe, revelando, inclusive, o envolvimento de um número crescente de militares e policiais militares, com a cúpula da PM-DF presa na sexta-feira. Quem era, senão o mentor, o grande beneficiário nos dois casos, das joias e do golpe?

De um lado, Bolsonaro é suspeito de receber dinheiro, pelo menos, do relógio de diamantes. De outro, abriu o Alvorada e a Defesa para um hacker estelionatário, que integrou a comissão de militares da ativa que tinha tudo a ver com a minuta de golpe do então ministro da Justiça, Anderson Torres, ao acusar fraude nas urnas. Depois, fechar o TSE, criar uma comissão de civis e militares e anular as eleições.

Com provas e enredos tão claros, Bolsonaro deixou evidente a Weslley Galzo, do Estadão, que a tática jurídica é assumir (por falta de opção) a venda dos presentes e o embolso do dinheiro, alegando que eram “presentes personalíssimos”. Polêmica saída para ele e para Cid, que recua de “confessar tudo”.

Já a estratégia de marketing, entre colares, relógios, diamantes e os R$ 17 milhões, é resgatar o “simplesinho”. Daí a entrevista num boteco, tomando um pingado, falando de boca cheia. Acredite quem quiser. No STF e na PF ninguém é bobo. Mas há milhões de crentes por aí.

 

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