sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Hélio Schwartsman - Credencialismo universitário

Folha de S. Paulo

Empresas delegam a instituições de ensino avaliação de candidatos a empregos

Reportagem da Folha mostrou que cinco instituições de ensino superior privadas concentram 27% dos alunos de graduação do país. Elas ganharam espaço com o avanço do ensino a distância.

Por que valorizamos diplomas universitários? Em parte, porque as universidades de fato treinam seus estudantes para determinadas carreiras, notadamente aquelas que exigem conhecimentos técnicos específicos e o desenvolvimento de habilidades. É difícil alguém se preparar para ser médico sem passar por laboratórios, simuladores e estágios supervisionados em hospitais, além, é claro, das aulas teóricas.

Há, porém, carreiras em que todo o conteúdo técnico, que às vezes nem é tão grande, está ao alcance de qualquer um em livros. Não são incomuns cursos em que o professor essencialmente pede que o aluno se assenhore de determinada bibliografia e depois o testa para ver se aprendeu.

Em princípio, não seria necessário passar por um curso formal para obter esse tipo de formação. Charles William Eliot, reitor de Harvard de 1869 a 1909, não tinha problema em admitir que uma pessoa podia obter uma educação de primeira só lendo os livros certos. Por isso editou a coleção Clássicos de Harvard. Hoje, Harvard e outras universidades de renome disponibilizam grátis na internet aulas de seus melhores professores.

Por que, então, ainda insistimos nos diplomas mesmo em áreas menos técnicas? É aí que entra o chamado credencialismo, que é o cartorialismo aplicado à academia. Empregadores não se sentem seguros para decidir se os candidatos a uma vaga têm o conhecimento necessário para exercer o cargo, preferindo terceirizar essa tarefa para as universidades, que conferem certificados a quem teve disciplina para pagar as mensalidades e evitar reprovações ao longo de alguns anos.

Não dá para dizer que o intermediário é totalmente inútil, mas também não dá para dizer que essa é a fórmula mais racional e eficiente.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

E tem diplomado que não passa pelos livros,adorei o artigo.