sexta-feira, 20 de outubro de 2023

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Brasil conduziu com competência negociação na ONU

O Globo

Mesmo que resolução tenha sido rejeitada no Conselho de Segurança, esforço diplomático não foi em vão

Os ataques do grupo terrorista Hamas e a subsequente reação de Israel ocorreram no momento em que o Brasil ocupa a presidência rotativa do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A coincidência histórica deu à diplomacia brasileira a oportunidade — e a responsabilidade — de assumir o protagonismo nas negociações em torno do conflito. A primeira resolução proposta pelo Brasil foi rejeitada na última quarta-feira, em razão do veto dos Estados Unidos. Mas o esforço diplomático brasileiro não foi em vão.

A resolução brasileira foi uma contraproposta à formulação da Rússia, que manifestava preocupação com o agravamento da situação humanitária na Faixa de Gaza, mas nem mencionava os ataques do Hamas que mataram mais de 1.400 pessoas na semana anterior ou os quase 200 reféns que os terroristas haviam capturado em Israel. Os termos eram obviamente inaceitáveis para os integrantes do Conselho. O Brasil tomou a iniciativa de produzir um texto alternativo que contemplasse três pontos. Primeiro, condenasse explicitamente o terrorismo do Hamas. Segundo, exigisse libertação imediata dos reféns. Terceiro, mantivesse foco na questão humanitária em Gaza.

Tudo isso foi feito. Na votação, a proposta brasileira foi apoiada por 12 dos 15 integrantes do Conselho, entre eles dois permanentes: França e China. Rússia e Reino Unido se abstiveram, e apenas os Estados Unidos a rejeitaram. Como os americanos têm poder de veto, não foi adotada. O pretexto alegado é que ela não reconhecia o direito de Israel à autodefesa, para lutar contra o Hamas. Desde o início, porém, os Estados Unidos resistiam à aprovação de qualquer texto, para não desvalorizar a iniciativa diplomática promovida pelo presidente Joe Biden. No mesmo dia em que o texto brasileiro foi rejeitado, Biden anunciou ter acertado com Israel e Egito a abertura de um corredor humanitário em Gaza. Os Estados Unidos preferiram agir de forma unilateral a obter aval da ONU.

Drama causado pela seca a ribeirinhos na Amazônia exige ação urgente

O Globo

Governos federal e estadual precisam coordenar ajuda a 800 comunidades inacessíveis por terra ou pelos rios

Diante da seca histórica na Amazônia, as autoridades têm tomado as providências de praxe. O governo liberou R$ 400 para custear abrigo temporário de cada morador que não pode voltar para casa pela falta de transporte fluvial. Deslocou brigadistas para combater os incêndios que se multiplicam pela vegetação ressecada. O vice-presidente Geraldo Alckmin, em viagem à região, garantiu que não faltará energia e prometeu dragar os rios Solimões e Madeira para facilitar a navegação.

A dragagem ainda levará tempo para tornar os rios novamente navegáveis. A gravidade da situação exige ação urgente. No estado do Amazonas, 55 municípios e pouco mais de meio milhão de habitantes são afetados de alguma forma pela seca — a pior já registrada em Manaus. O Rio Negro, que banha a cidade, havia alcançado a vazante recorde de 13,63 metros em 24 de outubro de 2010, na pior seca desde que medições começaram a ser feitas, em 1902. Agora, a marca foi alcançada já em 16 de outubro. O Negro continua a baixar 13 centímetros por dia. O transporte de cargas gerado na Zona Franca de Manaus é prejudicado porque embarcações maiores não podem mais operar no porto da cidade. Em novembro, deverá começar a temporada de chuvas, mas ela pode ser insuficiente para recuperar por completo o nível dos rios amazônicos.

A seca dramática transformou alguns trechos em grandes areais, inviabilizando o principal meio de transporte amazônico, com reflexos profundos na economia da região e na vida de incontáveis habitantes que não podem trabalhar para seu sustento. É o que acontece com 5 mil famílias da Floresta Nacional de Tefé, da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã e da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, a 700 quilômetros de Manaus.

Reportagem do GLOBO relatou a situação crítica das comunidades de Amanã, situada onde o Rio Japurá se une ao Solimões. Há nela 35 comunidades isoladas sem água potável. Alcançar o leito dos rios, que se distanciou das comunidades, é uma empreitada arriscada. Há casos em que é necessário percorrer até dois quilômetros, descer pelos barrancos equilibrando-se em tocos para andar com lama às vezes até a cintura, com o risco de ser atacado por arraias que se escondem no lodo. Produtores locais de farinha de mandioca não têm como vender sua produção nem conseguem trabalhar.

O governo estadual tem distribuído cestas básicas, kits de higiene, água potável e medicamentos à população, mas o alcance da ajuda é prejudicado pela impossibilidade de usar os rios para chegar às comunidades ribeirinhas afastadas. A sensação dos moradores da floresta é que foram esquecidos. Para ter uma dimensão da crise dos ribeirinhos, há 800 comunidades situadas em unidades de conservação inacessíveis por terra ou rios. É preciso que o governo mobilize socorro aéreo. Daí a necessidade de coordenação entre órgãos estaduais e federais. É urgente as autoridades darem à seca a dimensão que ela tem para os povos da floresta.

Argentina vai às urnas em busca de saída para a crise

Valor Econômico

O modelo econômico atual, estatista e intervencionista, promovido pelo kirchnerismo (a ala esquerda do peronismo), fracassou

A Argentina vai às urnas neste domingo em meio a incertezas e profundamente dividida sobre que rumo tomar. O país está atolado numa grave crise econômica e social, e precisa agir com rapidez para evitar um colapso financeiro. Mas as definições provavelmente terão de esperar até o segundo turno, em novembro. O candidato dito libertário, Javier Milei, parece estar um pouco à frente na disputa pela Presidência, mas seu favoritismo vem diminuindo.

Os três principais candidatos a presidente são: o peronista Sergio Massa (atual ministro da Economia, de esquerda), o ultraliberal Milei e a direitista Patricia Bullrich (ligada ao ex-presidente Mauricio Macri). Para vencer no primeiro turno, é preciso obter 45% dos votos, ou então 40% desde que, nesse caso, a distância para o segundo colocado seja de ao menos dez pontos percentuais.

A divulgação de pesquisas de intenção de voto na Argentina é proibida na semana que antecede as eleições. As últimas sondagens apontavam um provável segundo turno entre Milei e Massa. Das dez principais pesquisas divulgadas neste mês, Milei liderava em sete, enquanto Massa estava à frente nas outras três. Seis delas indicavam empate técnico em primeiro lugar entre os dois. Em apenas uma, Bullrich aparecia numericamente em segundo lugar. Nessas dez sondagens, Milei tinha de 25,2% a 35,5% das intenções de voto; Massa, entre 26,2% e 32,3%; e Bullrich, entre 20,9% a 28,9%.

As pesquisas na Argentina precisam ser vistas com cautela, depois do fracasso nas previsões para prévias partidárias, em agosto. À época, Milei era dado em terceiro lugar, com cerca de 20% das intenções de voto, mas acabou vencendo, com quase 30%. Bullrich, que liderava as pesquisas, ficou em terceiro.

Todas as pesquisas sugerem, porém, que Milei agregou pouco ou nenhum apoio desde as prévias partidárias. Isso possivelmente tem a ver com dois fatores. O primeiro é o receio dos argentinos em relação ao seu programa de governo, considerado radical, que contempla medidas como um corte profundo de gasto público (em meio a uma recessão) e apostas arriscadas, como o fechamento do Banco Central e uma dolarização completa da economia.

Além da desconfiança em relação a suas propostas, Milei parece estar sofrendo ainda com a agressividade de sua campanha eleitoral. Em entrevista em setembro, ele disse que não fará negócios com países comunistas e socialistas, e citou China e Brasil (os dois principais parceiros comerciais da Argentina, além de Pequim ser um dos maiores credores do país). Milei tem também um histórico de ataques ao papa Francisco, que é argentino. Ele já afirmou que o papa “encarnou o maligno” e que tem “afinidades com ditaduras sangrentas”. No encerramento da campanha eleitoral, o economista Alberto Benegas Lynch, uma espécie de guru de Milei, sugeriu que a Argentina deveria romper relações com o Vaticano enquanto perdurar o “espírito totalitário” atribuído ao papa Francisco.

São declarações que talvez ajudem a mobilizar a base de apoio mais extremista de Milei, mas que podem prejudicar seu eventual governo e que corroboram uma certa imagem de pessoa desequilibrada, que assusta boa parte do eleitorado argentino, inclusive do empresariado.

No caso de um segundo turno entre Milei e Massa, as pesquisas indicam leve favoritismo do libertário, mas sugerem que ele tem dificuldade de atrair uma ampla maioria dos eleitores de Bullrich, como seria o esperado.

Seja quem for o vencedor, terá de lidar com um Congresso dividido. As eleições de domingo vão renovar pouco mais de metade da Câmara e um terço do Senado. A expectativa é que peronismo e macrismo continuem sendo as duas maiores forças políticas no Legislativo, com a bancada de Milei logo atrás. A formação de uma maioria será difícil, especialmente para a aprovação de medidas polêmicas.

O quadro político regional também está fragmentado. Das 23 províncias argentinas, a maioria já elegeu seus governantes. O peronismo ficou com sete, a oposição macrista, com sete, e partidos locais, com quatro. Assim, caso Milei seja eleito presidente, ele também não terá apoio fácil nas províncias. Isso é particularmente importante na questão da segurança pública, já que os governos locais controlam a polícia, e espera-se uma onda de protestos contra as prováveis medidas de ajuste do próximo governo.

A Argentina está em recessão e deverá fechar o ano com queda do PIB entre 2,5% e 3%. Para 2024, economistas locais preveem que a situação deve piorar ainda mais no primeiro semestre. A inflação em 2023 deverá ficar perto de 200%. A pobreza no país está crescendo e já atinge 40% da população.

O modelo econômico atual, estatista e intervencionista, promovido pelo kirchnerismo (a ala esquerda do peronismo), fracassou. O governo do presidente Alberto Fernández acabou e está apenas tentando sobreviver até a passagem de bastão, em dezembro. Um swap cambial com a China, anunciado nesta semana, deve permitir que o governo chegue a dezembro sem um colapso financeiro, mas esse risco vai persistir por todo o começo do ano que vem. A agonia lenta e exasperante da Argentina parece longe de acabar.

CPI sem impacto

Folha de S. Paulo

Diante de tema explosivo, comissão sobre o 8 de janeiro não aprofundou investigação

CPI destinada a investigar o ataque de bolsonaristas às sedes dos Poderes em 8 de janeiro não chegou além do que se esperava —e o que se esperava não era muito.

Reconheça-se, por uma questão de justiça, que a comissão produziu um relatório muito verossímil, que aponta o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e alguns de seus principais assessores como fomentadores das invasões ao Palácio do Planalto, ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal, em Brasília.

O texto também pede a responsabilização, por ações e omissões, de cerca de seis dezenas de pessoas, entre civis e militares.

Lamentavelmente, porém, a CPI não foi capaz de se aprofundar nas investigações, ficando a reboque de inquéritos de Polícia Federal, Procuradoria-Geral da República e STF. O próprio Bolsonaro e antigos comandantes das Forças nem foram convocados a depor, assim como o ministro da Justiça, Flávio Dino, alvo do lado oposto.

Num toque de surrealismo, a oposição chegou a produzir dois relatórios alternativos, que responsabilizavam membros do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo ocorrido. Não é difícil apontar falhas em desastres passados, mas daí a culpar a vítima pela violência vai enorme diferença.

Na pletora de CPIs criadas a cada legislatura, uma minoria proporciona resultados mais palpáveis. Entre os casos virtuosos estão comissões de menor voltagem político-partidária, nas quais os parlamentares se debruçam sobre um tema a fim de buscar propostas legislativas —como as da Pirataria (2004) e da Pedofilia (2008).

A situação é bem mais complexa quando os trabalhos dos colegiados estão no centro da disputa pelo poder. Nesses casos, as chances de sucesso são menores.

CPI da Covid (2021), por exemplo, embora não tenha gerado resultados jurídicos concretos, foi importante para evidenciar ao país o modo infame como Bolsonaro tratou a pandemia, enquanto órgãos de controle estavam inertes.

Há razões diversas que dificultam o funcionamento de comissões parlamentares de inquérito. A maioria dos deputados e senadores não tem expertise em investigações, tarefa que requer algum conhecimento técnico.

Mesmo os que têm experiência prévia como delegados e membros de ministérios públicos costumam estar mais interessados nas repercussões políticas de suas ações do que em apurar os fatos.

Ademais, situacionistas e oposicionistas desenvolveram técnicas para limitar estragos.

Se um lado pede uma quebra de sigilo que pode revelar coisas desagradáveis para o adversário, este ameaça devolver na mesma moeda. Com isso, as investigações não costumam ir muito a fundo —foi o que ocorreu na CPI do 8 de janeiro.

Acerto com o ditador

Folha de S. Paulo

EUA trilham o caminho possível ao afrouxar sanções à Venezuela por eleições

Deve-se encarar com boa dose de cautela o acordo firmado entre a ditadura venezuelana e as forças de oposição do país para a realização de eleições minimamente competitivas no próximo ano.

Segundo o entendimento firmado em Barbados, no Caribe, a disputa pela Presidência poderá ocorrer, no segundo semestre de 2024, com a presença de observadores internacionais. Permanece indefinida, porém, a autorização do regime para que oposicionistas banidos participem do pleito.

Esses são os casos de Henrique Capriles, duas vezes candidato, Juan Guaidó, ex-líder do Legislativo que chegou a ser reconhecido como presidente interino por mais de 50 países, e María Corina Machado, tida hoje como um dos nomes mais fortes do antichavismo.

O histórico do ditador Nicolás Maduro não encoraja otimismo quanto à aceitação da alternância de poder em Caracas. Está no posto há dez anos, período em que radicalizou o populismo de esquerda iniciado por seu antecessor, Hugo Chávez, que governou de 1999 a 2013, quando morreu.

O crescente autoritarismo do regime perdeu os últimos escrúpulos em 2017, quando se forjou uma Constituinte para usurpar os poderes do Legislativo, no qual se formara uma maioria oposicionista.

O que pode fazer diferença agora são negociações com os EUA para o afrouxamento de sanções econômicas, em particular sobre o petróleo venezuelano, em troca dos avanços para a realização das eleições. Nesta semana já foi anunciado um alívio temporário.

Trata-se de um ganho precioso para um país econômica e socialmente devastado —o desastre produzido pelo chavismo tem poucos paralelos no mundo.

Passada e dilapidada a bonança do boom de commodities da década retrasada, o Produto Interno Bruto caiu aterradores 74% entre 2014 e 2020, o que o ensaio de recuperação dos últimos anos está muito longe de compensar. A inflação, que chegou a atingir cifras quase incalculáveis no período, ainda supera os 200% anuais.

A diplomacia se mostra o melhor caminho para lidar com a ditadura e a tragédia humanitária. O período de confronto, sob Donald Trump nos EUA e Jair Bolsonaro (PL) no Brasil, revelou-se contraproducente —além de fornecer ao regime um inimigo externo a quem culpar pelos males que produziu.

Sem tolerância com o golpismo

O Estado de S. Paulo

Mesmo falho, relatório da CPMI do 8 de Janeiro é importante documento histórico, registro do compromisso do Congresso com a democracia. Cabe não engavetar o material levantado

A conclusão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro representa mais do que o simples fim de uma tarefa. Trata-se de firme posicionamento em favor do regime democrático. O Congresso não foi conivente com a tentativa de golpe impetrada no início do ano. E, por mais que não tenha revelado nenhuma grande novidade probatória, a comissão não negou os fatos, como alguns pretendiam. A CPMI confirmou um importante dado histórico: não haveria 8 de Janeiro sem Jair Bolsonaro.

Aprovado por 20 votos a 11, o relatório da senadora Eliziane Gama (PSDMA) pediu a responsabilização criminal do ex-presidente Jair Bolsonaro pelos crimes de associação criminosa, violência política, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado. Pode-se dizer que, tendo em vista os julgamentos dos primeiros casos do 8 de Janeiro no Supremo Tribunal Federal (STF), o relatório da CPMI foi bem comedido.

Não cabe ignorar a dimensão dos fatos. O envolvimento de Jair Bolsonaro não se resumiu a um arroubo golpista surgido após o fracasso eleitoral de 2022, o que já seria sumamente grave. Como lembrou Eliziane Gama, ele “descredibilizou o processo eleitoral ao longo de sua carreira política”, tendo responsabilidade direta como mentor moral dos ataques contra as instituições democráticas.

A relatora da CPMI pediu também o indiciamento de mais 60 pessoas pelos atos antidemocráticos do 8 de Janeiro, incluindo 16 empresários que teriam financiado as ações golpistas e 22 militares, entre eles os generais Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa, e Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Bolsonaro. Trata-se de um fato lamentável, mas não há como negá-lo. São muitos os indícios de envolvimento de militares de alta patente na intentona golpista. A comissão fez bem em jogar luzes sobre essa participação de membros das Forças Armadas, o que pode ser importante fonte de aprendizado para todos.

Louvável por sua plena aderência à Constituição, o encaminhamento da CPMI do 8 de Janeiro mostrou também suas deficiências e limitações. Frustrou-se quem tinha a pretensão de que a comissão entregasse um conjunto probatório completo sobre a responsabilidade de Jair Bolsonaro e das lideranças bolsonaristas. Ou que revelasse a exata dinâmica da intentona golpista, com a identificação precisa das diferentes responsabilidades.

O importante agora é dar o devido destino ao material levantado. Na próxima semana, o relatório da CPMI do 8 de Janeiro deve ser entregue à Procuradoria-Geral da República (PGR), à Polícia Federal (PF) e ao STF. Cabe a esses órgãos não serem omissos. Há exatos dois anos, a CPI da Covid também pediu o indiciamento de Jair Bolsonaro por crimes que somavam 38 anos de prisão. Na ocasião, a PGR, então chefiada por Augusto Aras, engavetou as investigações abertas em função do relatório. Espera-se agora outro desfecho.

O Brasil não pode ser o país da impunidade, especialmente quando se trata de crimes contra o Estado Democrático de Direito, que afetam diretamente o presente e o futuro de toda a população. Ainda que seja incompleto em termos de investigação, o relatório da CPMI do 8 de Janeiro não é uma peça de ficção.

Não deixa de ser irônico que a teoria do domínio do fato, anos depois de ter sido usada para condenar diversos petistas no mensalão, seja agora utilizada no relatório da CPMI para responsabilizar criminalmente Jair Bolsonaro. E, num repeteco da história, o ex-presidente recorre ao mesmo argumento que foi na época utilizado pelo PT. Bolsonaro disse ser responsável apenas pelo que assinou.

Ora, a responsabilidade criminal não se resume ao que uma pessoa assinou em documentos oficiais. Como diz o Código Penal, o resultado de um crime é imputável a quem lhe deu causa, e “considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”. Os órgãos de investigação têm ainda muito trabalho a fazer, mas definitivamente o futuro criminal de Jair Bolsonaro, a esta altura, é bastante previsível.

A opção dos EUA pelo unilateralismo

O Estado de S. Paulo

Ao vetarem a boa resolução do Brasil sobre o conflito entre Israel e Hamas, os EUA tomam para si a tarefa de solucionar a crise e acentuam a inoperância do Conselho de Segurança da ONU

O veto dos Estados Unidos à proposta de resolução do Brasil sobre o conflito entre Israel e Hamas, anteontem, expõe a vitória do unilateralismo e a inoperância do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A via de concertação diplomática multilateral diante de graves agressões e emergências internacionais praticamente se fechou. Se os interesses próprios de seus integrantes com poder de vetar decisões ainda hoje impedem a censura a Moscou, passados 20 meses de guerra contra a Ucrânia, agora tornam inviável a condenação do ato de terrorismo do Hamas contra os israelenses e, igualmente, os eventuais abusos da retaliação de Israel contra os palestinos.

A decisão de Washington reforça o “silêncio e a inação” do Conselho de Segurança, como ressaltou o embaixador do Brasil nas Nações Unidas, Sérgio Danese. Afinada ao longo de horas de conversações com os membros do Conselho, presidido neste mês pelo Brasil, a proposta limou atritos e trouxe legível a condenação ao Hamas pelo atentado que causou 1.400 mortes em Israel e o sequestro de cerca de 200 pessoas. Não houve dissenso sobre essa questão, nem mesmo dos EUA.

Tampouco houve desaprovação à pausa humanitária no conflito, para garantir a assistência aos civis em Gaza, e à pronta liberação dos sequestrados pelo Hamas – dois outros tópicos relevantes da proposta. A redação final pecou, aos olhos dos Estados Unidos, por não reiterar o direito de autodefesa de Israel. A rigor, trata-se de garantia inerente a qualquer país atacado, expressa no artigo 51 da Carta das Nações Unidas, até medidas serem acordadas pelo Conselho de Segurança.

A própria embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, ressaltou esse direito ao explicar seu voto. Se incluído no papel, dificilmente a resolução sobreviveria ao veto de outros membros permanentes, como Rússia e China. A posição americana pode ser entendida considerando-se sua aliança histórica com Israel, ao qual jamais negaria sua couraça nem permitiria brechas que o fragilizassem. Há, entretanto, um aspecto a ser ressaltado no mais recente conflito no Oriente Médio: a diplomacia presidencial de Joe Biden.

A visita de Biden a Israel nesta semana teve o objetivo de conter os ímpetos de revanche militar do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu sobre a Faixa de Gaza, o que levaria a uma escalada de agressões. À primeira vista, o americano teve êxito. Mesmo que não tenha conseguido se encontrar com os líderes da Autoridade Palestina, da Jordânia e do Egito, como pretendia, Biden teve êxitos. Enquanto a proposta brasileira de resolução era avaliada nas Nações Unidas, Biden anunciava à imprensa a permissão do Egito para a entrega de ajuda humanitária à Faixa de Gaza.

Os movimentos de Biden e da diplomacia americana indicam que os Estados Unidos tomaram para si a solução desse conflito e querem resolvê-lo à sua maneira – não conforme uma resolução do Conselho de Segurança, potencialmente influenciada por seus adversários geopolíticos. A imensa incógnita está nos resultados factíveis dessa equação unilateral, que notavelmente fragiliza o sistema multilateral sem garantir a paz, mesmo que provisória.

O desapontamento com o veto dos EUA, porém, está longe de macular o significativo trabalho da diplomacia brasileira ao conduzir o Conselho de Segurança – em especial, ao construir e negociar uma proposta que muito contribuiria para aliviar as tensões no Oriente Médio e para demonstrar que o órgão máximo das Nações Unidas ainda é capaz de alcançar consensos. Dadas as circunstâncias, a atuação do Brasil ultrapassou limites antes tidos como insuperáveis.

O voto negativo dos Estados Unidos traz o conflito entre Israel e Hamas para o mesmo limbo da guerra da Rússia na Ucrânia. O Conselho de Segurança submerge ainda mais em sua insignificância como garantidor da paz e da segurança internacionais. Resta, como assinalou Tor Wennesland, enviado especial da ONU para Israel-Palestina, a beira de um “abismo profundo e perigoso” que pode arrastar todo o Oriente Médio.

Segurança em xeque

O Estado de S. Paulo

Furto de armas do Exército em São Paulo impõe urgente revisão de protocolos de guarda

No dia 10 passado, o Exército notou uma “discrepância no controle” de armas acauteladas no Arsenal de Guerra de São Paulo, localizado em Barueri. Durante uma inspeção, verificou-se o sumiço de 8 fuzis calibre 7,62 e 13 metralhadoras calibre .50, um dos mais temidos armamentos de guerra por sua alta capacidade de destruição. Imediatamente, o Comando Militar do Sudeste (CMSE) ordenou o “aquartelamento de prontidão” da tropa (cerca de 480 militares) e instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar o furto.

O fato é gravíssimo e deve ser rigorosamente apurado e punido. Cada dia que passa sem que essas armas sejam recuperadas é um dia a mais de vulnerabilidade para a população e para as próprias forças de segurança do Estado.

O destino de um arsenal como esse, obviamente, só pode ser alguma, ou algumas, das facções criminosas mais perigosas do País, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) ou o Comando Vermelho (CV). Afinal, só quadrilhas bem organizadas e com muito dinheiro teriam condições de patrocinar a façanha de desviar de uma armaria do Exército nada menos que 21 armas de guerra que, juntas, pesam mais de meia tonelada.

Não foi o primeiro caso, mas se trata do mais grave desvio de armas da Força Terrestre desde 2009. É hora de o Exército recorrer a instituições mais bem preparadas para conduzir a investigação, como a Polícia Civil de São Paulo ou a Polícia Federal. Ao que tudo indica, criminosos muito bem articulados estão envolvidos no furto. Um IPM, por mais relevante que seja no caso, pois é evidente que houve envolvimento direto de militares na empreitada delitiva, não se presta a ir tão longe.

Não tranquiliza a população o fato de o CMSE ter informado que as armas furtadas eram “inservíveis” e estavam “recolhidas para manutenção”. Ora, se o armamento era passível de reparo, decerto as organizações criminosas não teriam dificuldade em deixálo em condições de tiro em questão de dias, talvez semanas. E, ainda que se tratasse de ferro-velho, a revelação de tamanha brecha na segurança de uma instalação militar é inquietante por si só.

Sabe-se bem o que facções como o PCC são capazes de fazer com uma metralhadora calibre .50 em seu poder, que dirá com 13. Foi essa arma que o bando usou para trucidar o traficante Jorge Rafaat Toumani, conhecido como “Rei da Fronteira”, numa disputa pelo controle de rotas do tráfico internacional na cidade de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, em 2016. Um rifle .30 com munição especial foi usado para derrubar um helicóptero blindado da Polícia Militar do Rio por traficantes do Morro dos Macacos, em 2009. Na ocasião, três policiais morreram.

Enquanto essas 21 armas não forem recuperadas, e os responsáveis pelo furto, identificados e punidos, a população e as forças de segurança têm razões de sobra para se preocupar. É vital, literalmente, que o Exército resolva o caso – com auxílio da polícia – e, principalmente, reveja os seus protocolos de segurança para que algo assim jamais torne a acontecer.

Aposta e alerta para a Black Friday

Correio Braziliense

É importante lembrar que, com a Black Friday e os preços convidativos, é crescente o número de golpes registrados durante essa época

Falta pouco mais de um mês para uma das datas mais esperadas do varejo brasileiro. A Black Friday 2023 será em 24 de novembro. Ao que parece, será um bom mês para os comerciantes. Estudo detectou que 86% dos consumidores têm o hábito de gastar durante esse período, e seis em cada 10 pessoas já têm certeza de que realizarão suas compras este ano. Além disso, metade dos respondentes disseram que, mesmo quando afirmam que não comprarão na Black Friday, acabam cedendo aos impulsos e adquirindo um ou outro produto. O levantamento “A Black além da Black”, realizado pela MindMiners em parceria com a Spark, contou com 2 mil entrevistados de todo o Brasil que afirmaram ter conhecimento sobre a data comercial, sendo que a maioria se revelou como consumidor da Black Friday.

Entre os produtos mais vendidos durante a liquidação, estão entre os top 5: equipamentos eletrônicos (58%), vestuário e acessórios (56%), eletrodomésticos (43%), beleza e cuidados pessoais (40%) e livros (31%). Nenhuma surpresa a liderança manter-se firme nos últimos anos.

Um dos aspectos que talvez seja diferente dos anos anteriores é o papel dos influenciadores no sucesso ou fracasso da Black Friday. Segundo a pesquisa, 64% das pessoas que seguem influenciadores depositam um alto nível de confiança neles, e 73% sempre procuram investigar mais sobre produtos ou marcas depois que são recomendados por um influenciador. No decorrer do ano, 58% dos seguidores disseram ter comprado algum produto ou serviço por influência. Não é à toa que parte desses influenciadores ganham rios de dinheiro fazendo “publi”, como eles dizem, de produtos de grandes marcas.

O levantamento mostra também que os brasileiros, além de bons consumidores, estão alertas para os descontos e cashbacks, sendo os últimos adotados por muitas lojas, como supermercados e empresas de departamento. Oito em cada 10 respondentes afirmam gostar de pagamentos que oferecem cashback e acreditam que isso deveria ser aplicado de forma mais ampla pelas lojas que participam da Black Friday. Com relação aos descontos, 76% geralmente realizam uma pesquisa antes para identificar quais lojas estão com as ofertas mais atrativas durante a Black Friday.

Embora as expectativas sejam boas, é importante lembrar que, com a Black Friday e os preços convidativos, é crescente o número de golpes registrados durante essa época. Tanto aquele golpe de aumentar os preços dos produtos uns 10 dias antes para que, durante a liquidação, ele “desça” ao preço normal (o famoso “tudo pela metade do dobro”), como aquela forma de pressionar o consumidor alegando que restam poucas unidades ou que o desconto termina em uma hora.

No caso das compras pela internet (45% dos entrevistados preferem consumir em lojas on-line), são preciosas dicas como observar o cadeado ao final da página e, em caso de dúvida se o site é confiável, recorrer a estratégias como o “Reclame Aqui” ou ainda conversar com os amigos antes de comprar. O importante mesmo é não transformar a Black Friday na famosa "Black Fraude".

 

 

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