O Globo
Em termos de juros reais, a Selic caiu dois
pontos percentuais assim como a projeção de inflação. Ou seja, o país está no
mesmo lugar
O Banco Central reduziu mais meio ponto percentual na taxa de juros, a Selic vai para 11,75% e assim encerra um ano de sucesso na política monetária. A inflação está dentro do intervalo da meta, o que não era a previsão dos economistas no começo do ano. O grande mistério que havia em torno dessa reunião é se o comunicado manteria o plural para dizer que a redução continuaria no mesmo ritmo “nas próximas reuniões”. Foi mantido o plural. O problema é que no ritmo em que está nada aconteceu ainda em termos de juros reais, porque a Selic caiu dois pontos percentuais no ano e a projeção de inflação também caiu dois pontos. O país está, portanto, no mesmo lugar. Talvez fosse o momento de dar um sinal para alguma aceleração de corte de juros.
O próprio BC disse no seu comunicado que,
mesmo estando ainda volátil, o setor externo está “menos adverso do que na
reunião anterior”. Os juros
americanos foram mantidos ontem pelo Fed, e os juros longos
estão em queda. No cenário interno, a economia desacelerou neste final de ano,
o processo de desinflação continuou, “com destaque para as medidas de inflação
subjacente, que se aproximam da meta nas divulgações mais recentes”. Quando olha
para o cenário de três anos, 2023 e os próximos dois, o BC aponta números, no
seu cenário de referência, que indicam cumprimento da meta: 4,6% em 2023, 3,5%
em 2024 e 3,2% em 2025.
Depois de dois anos de descumprimento, o presidente
do BC, Roberto Campos Neto, não precisará escrever uma carta se
explicando por não atingir o objetivo. Isso é a prova mais importante de que a
política monetária cumpriu seu papel. Não foi a única causa desse bom
resultado. O país venceu a inflação de dois dígitos por uma série de fatores. O
BC não se deixou pressionar politicamente mesmo nos momentos mais tensos do
ano, o Ministério da Fazenda formulou e implementou uma política econômica que
reduziu os temores fiscais ocorridos durante a troca de governo, o país teve a
maior safra da história e terminará com o maior saldo comercial da história,
influenciando na estabilidade do câmbio.
A inflação de alimentos foi a primeira a
ceder, exatamente pela supersafra. No dado de novembro, alimentos foi o item
que mais pressionou, 0,63%. Mesmo assim, nos onze meses do ano, este setor tem
inflação zero. A alimentação no domicílio teve no ano uma queda de 1,83%.
Durante muitos meses, os economistas disseram que sim os preços dos alimentos
puxavam a inflação para baixo, mas a de serviços permanecia alta. E só cairia
se houvesse aumento do desemprego. Não foi isso que aconteceu. A inflação de
serviços caiu, apesar de não ter havido queda do emprego. Pelo contrário, houve
redução do desemprego. Este ano foi o ano de muitas boas surpresas.
O cenário é portanto muito positivo. O ano se
encaminha para o final com taxas de juros em queda de 13,75% para 11,75%. E
mais duas reduções pelo menos contratadas, o que levaria em março os juros para
10,75%. Certamente não será o fim do ciclo de queda. As projeções da maioria
dos economistas levam a Selic no ano que vem para taxa em torno de 9%, apesar
de o BC ter dito ontem novamente que a “magnitude total de ciclo de
flexibilização ao longo do tempo” dependerá da “evolução da dinâmica
inflacionária”. Mas a projeção é de inflação controlada.
O ministro Fernando
Haddad ainda luta para aprovar seu pacote de medidas e tudo o
que conseguiu ontem foi um pequeno avanço na tramitação da MP 1185 na Câmara.
Todos os olhos estavam voltados para a longa
sabatina do ministro Flávio Dino e do procurador Paulo Gonet na Comissão de
Constituição e Justiça. Nela, a oposição mostrou em vários
momentos que se organiza em torno de pautas derrotadas, como a de querer jogar
sobre o governo a culpa do atentado de 8 de janeiro. Eles tentaram emplacar
essa mesma tese na CPI e perderam. O que houve a História já registrou. Saiu da
extrema direita os estímulos, as ideias, os militantes e os financiamentos para
o ataque a democracia sofreu. No final, Dino e Gonet foram aprovados no
plenário do Senado.
Na economia, os juros vão continuar caindo e
isso terá um efeito de estimular a economia ao longo do ano que vem. Ela chega
no fim de 2023 com um nível de atividade praticamente estagnado. Em março,
quando os juros forem para 10,75%, o país estará no terceiro trimestre de baixo
crescimento. Hora talvez de fazer um corte mais forte.
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