Folha de S. Paulo
Resta saber se virá um progressista e se bons
quadros da pasta continuarão no governo
Qual o futuro do Ministério da Justiça e Segurança Pública no cenário pós-Flávio Dino? Não há como negar seus feitos à frente da pasta. Como pontuou em nota o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Dino reagiu ao ataque em Brasília com altivez; combateu o armamentismo bolsonarista, investindo na rastreabilidade; fortaleceu o papel da Polícia Federal na Amazônia; atuou diante dos ataques violentos no âmbito escolar; e abriu frentes de diálogo nas áreas de acesso à Justiça, refugiados e políticas de drogas.
Ressalvas, por óbvio, cabem. Dino errou ao
apoiar, junto com a bancada da bala, a nova lei
orgânica das PMs, que enfraquece o controle destas, estabelece na
prática um teto para mulheres e privilegia mais diploma em direito do que
expertise em segurança pública. Ele igualmente errou ao investir nas mesmas
velhas soluções ineficazes para o Rio de Janeiro, como o uso da Força Nacional.
Durante sua gestão, o governo abriu as portas dos incentivos à privatização de presídios com decreto de Alckmin em
abril; outro erro.
Rei sabatinado, rei posto. Lula precisará
decidir se põe, finalmente, um progressista à frente do ministério, o que não
fez no caso da PGR,
ou se o entrega à mesmice do terraplanismo da turma que quadruplicou as
mortes pela polícia na Bahia. O presidente, igualmente, precisará decidir se
separa ou não Justiça de Segurança Pública. Se for para separar e
entregar a segunda ao centrão, de nada adianta. Lula não parece disposto agora,
como nunca esteve, de efetivamente propor a desmilitarização da segurança no
país.
Dino deixa uma equipe competente no
ministério, e ainda resta a dúvida se esses quadros continuarão na pasta. Falta
ao governo Lula, ademais, mostrar a que veio na área de segurança pública: a
forma como o presidente preencherá o vácuo de poder deixado pela saída do seu
forte ministro da Justiça é uma oportunidade criada por ele mesmo. Como todo
vácuo de poder, não deve durar mais do que um dia, e as raposas já estão à
espreita do galinheiro.
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