sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Bernardo Mello Franco – O capitão e o hacker

O Globo

Mais cedo, hacker mostrou a bolsonaristas que foi má ideia insistir na CPI do Golpe

O depoimento de Walter Delgatti Neto mostrou aos bolsonaristas que não foi boa ideia insistir na CPI do Golpe. O hacker acusou o ex-presidente de encarregá-lo de montar uma arapuca contra a Justiça Eleitoral. De quebra, disse que o capitão mandou grampear o telefone do ministro Alexandre de Moraes.

As palavras de Delgatti não podem ser tomadas pelo valor de face. Ele é um criminoso preso, com passagens anteriores por estelionato e falsidade ideológica. Mas já tinha essa folha corrida quando Bolsonaro reservou duas horas para recebê-lo no Palácio da Alvorada.

O capitão não buscava um santo. Procurava gente disposta a ajudá-lo numa tramoia para melar a eleição. O hacker já estava no bolso da deputada extremista Carla Zambelli. E o ex-presidente, assombrado pela iminência da derrota, fazia ataques diários ao sistema eletrônico de votação.

Delgatti descreveu um plano rocambolesco. Deveria programar uma urna fake para sustentar que era possível fraudar a eleição. A farsa seria encenada no 7 de Setembro, diante de uma massa que urrava por golpe e ditadura. Parece absurdo, mas combina com as trapalhadas de Bolsonaro e seus aloprados.

O hacker também disse ter recebido garantias para cometer outro crime. Se ele assumisse a autoria do grampo contra Moraes, seria perdoado com um indulto presidencial. Depois do que o capitão fez por Daniel Silveira, fica difícil duvidar.

O depoimento deixou os bolsonaristas atordoados. Sergio Moro chamou Delgatti de “bandido” e “estelionatário profissional”. Pode ser, mas foi ele quem revelou as trapaças do ex-juiz em Curitiba. Damares Alves disse que o hacker “não tem credibilidade”. Faltou explicar por que o ex-presidente pediu sua ajuda às vésperas da eleição.

Os bolsonaristas pensavam que a CPI seria um espaço seguro para produzir factoides e cortinas de fumaça. Ontem a comissão virou palco para uma delação explosiva, com transmissão ao vivo na TV.

O dia terminou com uma notícia ainda pior para Bolsonaro. O ex-ajudante de ordens Mauro Cid dirá à Justiça que agiu a mando dele ao vender um Rolex roubado da Presidência. Se a confissão se confirmar, o capitão ficará mais próximo de fazer companhia ao tenente-coronel no xadrez.

 

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