Folha de S. Paulo
Não é de protecionismo estatal que a
indústria precisa para ganhar produtividade
‘A discussão da política econômica do momento
é a respeito do Nova Indústria Brasil, programa
que destina R$ 300 bilhões para impulsionar a indústria a partir de
linhas de crédito, subsídios e exigências de conteúdo local.
José
Luís Gordon, diretor do BNDES, rebateu as primeiras críticas dizendo
que as entidades dos setores beneficiados aprovaram a nova política (jura?) e
que quem criticou se valia da "velha retórica dos economistas neoliberais
anacrônicos". Ao mesmo tempo, não contrapõe os argumentos colocados por
diversos economistas.
O economista
Bernardo Guimarães escreveu uma coluna explicando alguns pontos sobre
a proposta. O primeiro deles é que simplesmente colocar mais recursos em um
setor econômico não necessariamente vai gerar maior produtividade e
crescimento.
Por isso, ter critérios claros para a escolha dos beneficiários, metas e avaliação constante seria fundamental. Assim, poderíamos evitar o contínuo desperdício de bilhões de reais em políticas que não fortalecem a indústria nem geram crescimento para o resto da economia.
A economista Zeina Latif também apresentou pontos pertinentes, como a falta de foco
do programa. Ao todo, ele inclui os setores de agroindústria; complexo
industrial de saúde; infraestrutura, bioeconomia, saneamento, moradia e
mobilidade; transformação digital e tecnologia de defesa.
Latif lembra que a política industrial (PI)
deveria ter um foco mais preciso, com metas claramente definidas, e dar
preferência a iniciativas de menor escala —ao contrário do que foi apresentado
até o momento.
Além disso, a abrangência gera a necessidade
de que cada objetivo tenha instrumentos que não prejudiquem outras áreas.
Mas, na prática, as regras de conteúdo
nacional devem encarecer e comprometer a modernização da agricultura familiar e
a adoção da transformação digital pelas empresas, ao restringir o acesso à
tecnologia estrangeira e de ponta.
Na mesma semana, o governo restringiu ainda
mais o acesso ao mercado internacional, aumentando a taxa de importação acima
do valor do Mercosul para compras feitas de empresas de países fora do bloco.
Isso quer dizer que vai ficar mais difícil
para consumidores e negócios importarem os produtos que necessitam ao custo de
proteger alguns setores que dificilmente trarão crescimento e os empregos necessários.
As críticas não ficaram apenas nos
economistas. Segundo apuraram jornalistas da Folha, o próprio presidente Lula (PT) expressou
insatisfação com o pacote industrial apresentado.
O presidente teria destacado justamente a
falta de pontos concretos na proposta, abrindo espaço para críticas de que se
tratava de uma reedição de medidas antigas.
Também teria apontado falhas, incluindo
problemas nos prazos para cumprimento das metas estabelecidas. Seria Lula um
"neoliberal anacrônico"? Certamente não.
Diante de tantas críticas e evidências
contrárias, cabe perguntar qual será o resultado do Nova Indústria Brasil. Se
seguir ouvindo apenas o setor, vai ser um mero Robin Hood às avessas.
Precisamos de uma política industrial que
estimule a inovação, a competitividade e a integração com o mundo.
Sem foco, metas claras e constante avaliação
de resultados, o velho novo programa do governo federal tem boas chances de
entrar no numeroso rol de políticas ineficientes criadas pelo Estado
brasileiro.
Para ganhar produtividade, não é de
protecionismo estatal que a indústria precisa, mas de um choque de exposição ao
livre mercado.
*Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres
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