O Estado de S. Paulo
Compilação indica que teremos eleições em pelo menos 76 países neste ano, Brasil incluso
Por uma coincidência de calendário, metade
dos cidadãos do mundo deve ir às urnas neste ano para escolher seus
representantes. O tema será tão debatido que o Estadão preparou uma série
especial para cobrir o ano eleitoral. Temos desde Donald Trump voltando depois
de ter perdido a reeleição para desafiar o agora incumbente Joe Biden, passando
por eleições em Taiwan que explicitam a tensão geopolítica com a China até
eleições supranacionais para o Parlamento Europeu. Bangladesh iniciou o
calendário eleitoral agora no último dia 7 de janeiro.
A revista The Economist listou 76 países que terão eleições neste ano. Destes, a revista categorizou 43 como tendo eleições justas e livres, elencando falhas em sistemas eleitorais mesmo nos países bem ranqueados, como nos Estados Unidos.
Por aqui, vamos ter eleições municipais.
Vamos escolher prefeitos e vereadores que nos acompanharão por quatro anos. É
época de nos divertirmos com campanhas políticas que beiram ao tragicômico – e
também época de teste para o governo Lula e para a oposição. Será que o PT e
seus aliados vão conseguir expandir sua base municipal? Como a direita sensata
no Brasil vai tentar se reorganizar em um mundo com Bolsonaro inelegível? Vamos
cair no mesmo problema dos Estados Unidos, em que um lado do espectro político
parece consolidado com um dos seus piores representantes?
Entre todas as questões fundamentais que
serão debatidas neste ano, penso que existe uma, talvez mais discreta, mas de
grande importância para o nosso bem-estar. Quais de nós, em quais países, vamos
conseguir viver as eleições como se elas fossem apenas mais uma parte do nosso
cotidiano, e não a coisa mais importante do mundo? Claro, em muitas situações,
os custos e benefícios das eleições serão altíssimos. Mas, apesar disso, e
principalmente por isso, será que conseguiremos passar por este ano sem mais
uma rusga em nosso tecido social?
Uma sociedade que, como um todo, respira e
vive a política está doente. A maioria de nós quer acordar, ter orgulho do seu
ofício, tempo de qualidade com quem se ama, algum tempo para o lazer e para
reflexão. A vivência da política como algo comum ao cotidiano é reflexo da
insatisfação, da falta de perspectiva ou até da dificuldade de canalização de
frustrações coletivas de uma forma mais efetiva.
Por um 2024 em que exista espaço para
discórdia, sem violência. Que nos almoços de domingo das famílias paulistanas
nenhum laço seja desfeito em nome de Nunes, Amaral, Boulos, Suplicy, Datena ou
quem quer que seja. Que outros assuntos sejam debatidos durante o cafezinho.
*Professora do Insper, PH.D. em economia pela
Universidade de Nova York em Stony Brook
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