Folha de S. Paulo
Se apela ao equilíbrio agora, Bolsonaro
poderia ter feito o mesmo a tempo de evitar o 8 de janeiro
A necessidade pautou a prudência convocada
por Jair
Bolsonaro (PL) a seus admiradores no domingo (25) na avenida
Paulista. Conduziu também o discurso dele,
desprovido dos achaques autoritários de quando era protegido por imunidades e
poderio presidenciais e ainda estava razoavelmente longe do alcance da Justiça.
Talvez o ex-presidente não tenha se dado conta de que cometeu um ato falho. O apego ocasional à serenidade contém evidência de que estava mesmo mal-intencionado quando silenciou por 40 dias após a derrota para Luiz Inácio da Silva (PT) e depois fugiu para os Estados Unidos no aguardo dos acontecimentos urdidos aqui por seus comparsas de conspirata golpista.
Foi atendido pelos milhares de apoiadores que
foram ao ato.
Por analogia, teria sido atendido se tivesse exortado a massa de manobra
enlouquecida nas portas de quartéis —notadamente aquela acampada na frente do
QG em Brasília— a voltar para casa, aceitar o resultado das urnas e se preparar
para a disputa eleitoral seguinte.
O destrambelho seletivo desnuda as intenções
anteriores. Mas não só. Mostra como são escassos os instrumentos de reação em
busca de proteção. Na real, resumido a apenas um: a fotografia da multidão que
não aliviará em um milímetro as agruras judiciais de Bolsonaro e companhia.
O chamamento à mobilização por anistia aos
selvagens de 8 de
janeiro (e por extensão a ele que, assim, se inclui na roda dos
reclamantes pela ruptura) não tem a menor chance de prosperar. Não terá apoio
na sociedade; se tivesse, não passaria pelo Congresso e, se passasse, morreria
no Supremo Tribunal Federal.
Além disso, o alimento do bolsonarismo raiz é
a agressividade. A exacerbação de ânimos é o seu motor, que perde tração quando
chamado à moderação —que precisará ser duradoura se o capitão da tropa não
quiser se complicar mais e afugentar políticos que só subiram no trio elétrico
porque a promessa era de fogo baixo.
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