O Globo
É possível repudiar a brutalidade da resposta
aos ataques de 7 de outubro sem apelar para a relativização do Holocausto
Há quem atravesse a rua para escorregar na casca de banana do outro lado. Lula, não. Ele cruzou um oceano e um continente para contratar uma crise diplomática — e, de quebra, abrir as comportas de um insuspeitado antissemitismo entre nós. A troco do quê, só ele sabe. Não estava num palanque, onde os ânimos se exaltam e as hipérboles fazem a festa. E não parecia embriagado — a não ser de si mesmo.
Lendo o que sua assessoria escreve, Lula pode
eventualmente posar de estadista. O problema é quando fala de improviso — e diz
o que pensa.
Lula é alegórico e — vai aqui um eufemismo —
não tem nenhum compromisso com a verdade. Não vê diferença entre ato
juridicamente perfeito e golpe, entre mil e milhão. Manipula números e palavras
como se fossem militantes do seu partido. Em sua mitomania, triplica a
quantidade de pobres que diz precisar alimentar, se propõe a construir 186
milhões de casas (mais que o dobro de domicílios do país) e ainda acha tempo
para acompanhar pela TV os jogos do campeonato chinês.
É o tipo de democrata que não pode ver um
ditador que corre para o abraço. A lista de parças é longa: começa com Fidel (e
daí a Raúl Castro e Díaz-Canel), passa por Ortega, Nguema, Ahmadinejad, Kadafi,
se desdobra de Chávez a Maduro, chega a Putin. A simpatia pelo terrorismo vai
das Farc ao Hamas, sem esquecer Cesare Battisti.
Sob sua égide, a esquerda brasileira importou
o racismo à moda americana (o do branco é branco, preto é preto, e a mulata não
é a tal). Contrabandeia agora um ódio antissemita com selo de garantia que
confere ao usuário a sensação de estar do lado do bem, das vítimas, da paz e da
justiça.
É possível repudiar Netanyahu e a brutalidade
com que conduz sua resposta aos ataques de 7 de outubro sem apelar para a
relativização do Holocausto — evento cujos horrores foram tais que levaram a
uma tomada de posição, planetária, quanto à necessidade de estabelecer uma
norma universal de defesa dos direitos humanos. Foi a partir daquela
monstruosidade, única, que se decidiu fazer do genocídio um crime
internacional. Equiparar as violações em Gaza ao
Holocausto não as torna mais hediondas; rebaixa a maior violência jamais
perpetrada contra a Humanidade a barbaridades cometidas no campo de batalha.
A indignação de Lula quanto à dor dos
palestinos soa ainda mais hipócrita e oportunista após sua recusa em defender o
povo ucraniano quando da invasão russa (“Por que vou me preocupar com a briga
dos outros?”) e da sua omissão em relação à crise humanitária na Venezuela (“A
gente precisa respeitar a autodeterminação dos povos”). Vidas que não
interessam a seu delírio de “líder do Sul Global” (o Terceiro Mundo reloaded)
não importam.
Mais de quatro décadas separam o Lula
analógico que fundou o PT, em 1980,
do Lula analógico de agora, com seu antiamericanismo recauchutado — sai a URSS
como farol dos povos, entram China, Irã, Etiópia, Arábia Saudita, África do Sul.
Ele está para 2026 como Getúlio
Vargas para as Diretas Já; como Vicente Celestino para João Gilberto;
como o telefone de 3 ou 4 dígitos — preto, amarrado à parede — para o celular.
Faltam 953 dias para as próximas eleições. Há
tempo de sobra para surgirem opções à esquerda lulista e à direita
bolsonarista. Insistir nessas duas visões ultrapassadas é continuar fazendo
fila no orelhão em tempos de 5G. Essa ficha ainda não caiu.
7 comentários:
Perfeito.
BIBITLER
Também o colunista, ao escrever estas besteiras, "não parecia embriagado — a não ser de si mesmo."
O colunista poderia aprender um pouco com as colunas do Glenn Greenwald de ontem e com a do professor Cristovam Buarque, de hoje, neste blog.
Lula nunca ''relativizou o Holocausto''.
SIM:: PERFEITO !
O colunista critica supostos exageros de Lula, mas inventa suas próprias mentiras e deturpações para fazer isto. Mais um colunista MENTIROSO e totalmente PARCIAL nos seus textos.
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