Folha de S. Paulo
Bom resultado de 2023 estimula onda de
propaganda enganosa e de ignorância
A economia
cresceu bem em 2023. Para a propaganda
oficial, foi o "PIBão do Lula".
Os replicantes da militância disseminaram o
slogan e saíram à caça mesmo de quem apenas discutia o
que é preciso fazer para que o crescimento seja maior. Tentavam
linchar quem recorresse a um "foi bom, mas..." na conversa. Tem de
haver rendição incondicional ao grande líder.
Se a besteira não tivesse consequências
práticas, seria cômica.
Um terço do crescimento de 2023 veio diretamente da agropecuária. No mundo Mad Max oligofrênico das redes sociais, a gente lia que o agro foi muito bem em 2023 porque Lula fez o "maior Plano Safra da história". Mas o plano para a safra que inflou o PIB de 2023 fora o de 2022, no governo das trevas.
Mais crédito não resulta necessariamente em
safra maior. A de 2024 será menor. Deve tirar pontos do PIB deste ano, por
causa de tempo ruim. Embora o lulismo-petismo acredite que Lula faça
chover e ventar, a safra não terá diminuído por causa do presidente.
O "PIBão do Lula" cresceu 2,9%
em 2023. Em 2022, sob Jair Bolsonaro, cresceu 3%. Foi o "PIBão
do Bozo"?
Nesses termos, a conversa é idiota. Um
governante até pode anabolizar o PIB de um ano, se não exagerar na dose (pois o
tiro sairia pela culatra). Mas logo efeitos colaterais aparecem. No curtíssimo
prazo, um ano, influências internacionais, acasos, momento do ciclo econômico e
estrutura da economia vão
ter mais impacto em resultados positivos do que a ação governamental naquele
momento. Boa parte do efeito duradouro de um bom governo em geral aparece
depois que um presidente deixou o cargo.
Militantes e crentes também faziam troça dos
erros de previsão dos economistas, a maioria ligada à finança, no caso. Até aí,
tudo bem, pois o vexame foi grande. Mas o crítico, que não sabe o que é PIB,
investimento ou aritmética, atribui o erro à conspiração de "o
mercado" contra Lula (de quem não gostam mesmo).
Pois bem. Para o ano do "PIBão do
Bozo", crescimento de 3%, "o mercado" previa alta de 0,36%. Para
o ano do "PIBão do Lula", de crescimento de 2,9%, "o
mercado" previa alta de 0,8%. Erraram mais com Bolsonaro. Conspiraram
contra o "mito" deles?
O Brasil voltou
a ser a "9ª economia do mundo", com "Lula bom de
serviço" (era a 11ª em 2022), comemora a propaganda. Esse ranking do PIB
em dólares correntes é baseado em dados do FMI, alguns deles ainda estimativas.
Note-se que, em PIB por poder de compra, o Brasil continua em 8º lugar.
É fácil perceber que a variação do PIB em
dólares depende das variações de taxa de câmbio e PIB. O PIB do Brasil em reais
cresceu em 2012, 2013 e 2014, mas nesses anos foi menor em dólar do que em
2011. Teria sido por culpa de "Dilmãe" Rousseff?
Quanto ao PIB per capita (corrente), uma
medida de padrão de vida, o Brasil está em 82º lugar, uma pobreza triste. O ano
de 2010, sob Lula 2, foi o melhor desde 1980. O Brasil ficou em 60º lugar.
Quanto a PIB, o Brasil logo deve passar a
Itália (8ª, que não cresce faz décadas). A fim de ultrapassar a França (7ª)
seria preciso haver uma composição de desvalorização do euro e alta relativa do
PIB do Brasil de mais de 43% —está longe. E daí? Nada. Isso é conversa
bananeira, "Brasil Grande".
Desde 2011, com Dilma, com tudo, o Brasil
encolhe, relativamente. O PIB per capita é apenas 14% do americano, 79% do
chinês, 64% do chileno, 19% do povo das "economias avançadas".
Mas a gente acha que o dedo de ouro de um
"painho" presidente é que resolve, metendo a mão
em empresas, gastando de modo ineficaz etc. A gente não discute
aumento de produtividade (que eleva o padrão médio de vida) e investimento;
detesta escola, ciência e educação infantil de criança pobre. A gente tem
delírio de grandeza e cultua líder.
2 comentários:
Excelente!
Pois é.
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