O Estado de S. Paulo
Presidente quer despolitizar quartéis, mas estratégia enfrenta oposição do PT
A cúpula do PT retomou a ofensiva para
reduzir o poder dos militares e pressiona o governo Lula a recriar a Comissão
de Mortos e Desaparecidos Políticos. Nos últimos dias, não foram poucas as
críticas na direção das Forças Armadas, mas não há acordo no Senado para
aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que proíbe a candidatura de
militares da ativa a cargos eletivos.
O coro das divergências não é puxado apenas
pelo senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS). Desde os atos golpistas de 8 de
janeiro de 2023 há embates no próprio governo e no PT sobre quais são as
mudanças mais eficazes para combater a politização dos quartéis.
“Botaram o bode na sala e agora não sabem o que fazer com ele”, disse à Coluna o general Mourão, que foi vice-presidente da República no governo de Jair Bolsonaro.
Na semana passada, o ministro da Defesa, José
Múcio Monteiro, chamou Mourão para um almoço com os comandantes das Forças
Armadas e com o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), autor da PEC
dos militares. O general saiu do encontro como chegou, discordando da proposta
que transfere os oficiais para a reserva no momento do registro de suas
candidaturas.
Mourão afirmou ali que, para ele, um
integrante da Força deve se aposentar somente quando for para o governo. Na
avaliação de uma ala do PT, porém, é preciso impedir que oficiais ocupem cargos
civis de qualquer natureza e disputem eleições.
A restrição consta de outra PEC, de autoria
do deputado Carlos Zarattini (PT-SP), com apoio de Rui Falcão, ex-presidente do
partido. Em março, na festa de aniversário do ex-ministro da Casa Civil José
Dirceu, Falcão disse a Múcio que ele vivia “passando pano” na cabeça dos
fardados. “Estou cumprindo a missão que o presidente me deu”, respondeu o
ministro.
Dirceu concordou com Falcão. “Os militares se
transformaram num grupamento da sociedade com muitos privilégios (...) e alguns
deles terão que ser revistos”, escreveu ele em artigo na revista Teoria e
Debate.
Foi mais uma voz no PT que engrossou o tom
contra a caserna. “O problema é que, se um militar não pode ser chamado pelo
presidente para assumir um ministério, você está interditando o presidente”,
observou Wagner, ex-ministro da Defesa.
Além desse impasse, o PT e o Ministério dos
Direitos Humanos cobram a volta da Comissão de Mortos e Desaparecidos, extinta
em 2022. “Nós não somos contra. Só precisamos ver se é o tempo certo”, amenizou
Múcio. O receio de Lula é que essa comissão abra nova frente de atrito. Era o
que faltava para um governo que enfrenta oposição até mesmo nas fileiras do PT.
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