O Globo
Donos e diretores dos principais institutos
de pesquisa divergem sobre o melhor caminho para o governador de SP
A melhora nos índices de popularidade nas
pesquisas Quaest e Ipec divulgadas
nos últimos dias levou o presidente Lula a
figurar novamente entre os raros líderes globais que hoje conseguem ter mais de
50% de aprovação popular em seus países, segundo o levantamento mensal da
empresa Morning Consult (em junho, apenas Narendra
Modi, da Índia,
Andrés Manuel López
Obrador, do México, Javier Milei,
da Argentina,
e Viola Amherd, da Suíça,
alcançaram o patamar num ranking de 25 chefes de Estado). Mesmo faltando mais
de dois anos para a corrida eleitoral de 2026, a principal pergunta que ronda
as conversas de quem mexe com política hoje não envolve Lula, mas o governador
de São Paulo,
Tarcísio de Freitas (Republicanos). Afinal, ele trocará a, em tese, tranquila
reeleição ao Palácio dos Bandeirantes e arriscará uma candidatura ao Planalto?
O tema divide donos e diretores dos mais relevantes institutos de pesquisa do
Brasil.
— O Tarcísio não tem necessariamente uma escolha a fazer. Se as condições se apresentarem, e ele virar o nome de consenso da direita para substituir Bolsonaro, ficará difícil não ser candidato. Pode parecer medo. Ele será levado, mesmo que não queira — diz Felipe Nunes, da Quaest, um dos autores do livro “Biografia do abismo”, que cunhou a expressão “polarização calcificada” para descrever o cenário político brasileiro desde as eleições de 2022.
Tanto Andrei Roman, do AtlasIntel, quanto
Márcia Cavallari, do Ipec, enumeram predicados de Tarcísio e dificuldades de
Lula para cogitar o voo mais alto do governador de São Paulo.
Desde o inicio do mandato, quebrou muito
pouco a polarização. Se o próximo candidato da direita não tiver rejeição tão
cristalizada como Bolsonaro, haverá mais condições de assegurar a migração
maior de votos de eleitores de centro, que estavam, por exemplo, com Simone Tebet.
Nesse contexto, Tarcísio tem chances muito boas — afirma Roman. — Por que ele
não iria para o Planalto? Depende da ambição política. Outros tiveram uma
reeleição tranquila e arriscaram. O quadro está totalmente aberto. Lula ainda
não tem maioria absoluta e inequívoca — diz Cavallari.
O dono do Ipespe, Antonio Lavareda, e o
fundador do Instituto Ideia, Maurício Moura, um dos autores do livro “A eleição
disruptiva: por que Bolsonaro venceu?, discordam dos colegas e acham que
Tarcísio deveria cumprir seu ciclo de oito anos em São Paulo:
— Se fosse hoje, entre uma disputa de
desfecho imprevisível e a grande probabilidade de sucesso como incumbente na
reeleição, a lógica aconselharia optar pela segunda opção. Não há adversário
para ele em São Paulo, e há Lula para o Planalto. — diz Lavareda. — Um
presidente em exercício com essa aprovação é bem difícil de ser vencido. Restam
nomes como os governadores de direita de segundo mandato, Romeu Zema (Novo)
e Ronaldo
Caiado (União
Brasil), que não acho que conquistarão o apoio de Bolsonaro. Como Michelle
também não será aceita pelo ex-presidente, o filho Flávio, que estará no meio
do mandato de senador, pode ser uma opção — afirma Moura.
Todos concordam que o candidato da direita
será competitivo, independentemente do nome.
— Lula até melhora, mas não consegue avançar
para além da bolha que o elegeu. O governo tem ótimos números na economia, mas
isso não se reflete no dia a dia das pessoas — diz Luciana Chong, do Datafolha.
Também há consenso sobre o encontro marcado
de Tarcísio com um nó político caso mire a Presidência. A Conferência de Ação
Política Conservadora (CPAC), em Balneário
Camboriú (SC) no último fim de semana, reafirmou a estratégia de
Bolsonaro de repetir o que Lula fez no passado e registrar candidatura, mesmo
sabendo que ela será impugnada pelo TSE.
Em 2018, um Fernando
Haddad recém-derrotado para a Prefeitura de São Paulo aceitou
participar do teatro protagonizado pelo PT sendo
vice de Lula por um período até assumir o comando da chapa. Se a direita
mantiver a ideia, estaria Tarcísio disposto a sair do cargo em abril,
participar do show de vitimização bolsonarista durante meses para, aí sim, ser
ungido ao posto de principal oponente de Lula? Ele desconversa, diz que não tem
interesse em 2026 e acumula palavras de lealdade a Bolsonaro. Na CPAC, dois
dias depois de o ex-presidente ser indiciado pela Polícia
Federal no caso das joias por peculato, lavagem de dinheiro e
associação criminosa, concluiu seu discurso chamando o ex-presidente de
“professor”.
*Thiago Prado é editor de Política e Brasil do GLOBO
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