Correio Braziliense
As críticas sobre a atuação coordenada do
ministro nas duas Cortes recrudesceram. Nos meios jurídicos, muitos questionam
a condução dos processos pelo ministro Alexandre de Moraes
O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), saiu em defesa do ministro Alexandre de Moraes, a propósito de reportagens publicadas pela Folha de S.Paulo na última terça-feira, na qual o ministro é apontado como autor de mensagens não oficiais que ordenaram à Justiça Eleitoral produzir relatórios com objetivo de embasar suas decisões no inquérito das fake news, o que seria ilegal. Segundo Barroso, “a ideia de que as iniciativas foram tomadas à margem da lei é equivocada”.
Nos bastidores, a denúncia foi o assunto da
abertura da sessão do Supremo. Segundo as reportagens de Fábio Serapião e Glenn
Greenwald, as trocas de mensagens entre o gabinete de Alexandre de Moraes no
STF e o órgão de combate à desinformação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral),
à época sob seu comando, indicam que os alvos de investigação eram previamente
escolhidos pelo ministro ou por seu juiz assessor. Greenwald, jornalista
norte-americano radicado no Brasil, é o mesmo que denunciou as relações promíscuas
entre o então juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, e os
procuradores federais da força-tarefa da Lava-Jato.
Os relatórios eram refeitos quando não
ficavam sob medida para decisões do ministro Moraes, como multas ou bloqueios
de contas e redes sociais. As mensagens foram trocadas entre Aírton Vieira,
juiz instrutor do gabinete de Moraes no STF; Marco Antônio Vargas, juiz
auxiliar de Moraes durante sua presidência no TSE; e Eduardo Tagliaferro, então
chefe da AEED (Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação). Esse
órgão que era subordinado a Moraes na Justiça Eleitoral.
O gabinete de Moraes no STF teria utilizado a
estrutura do TSE para produzir relatórios contra cerca de 20 aliados de
Bolsonaro. Um dos alvos foi o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), seu
filho. Conversas de novembro de 2022 entre Marco Antônio Vargas e Tagliaferro
mostram o pedido para relacionar o parlamentar com o argentino Fernando
Cerimedo, que disseminava fake news sobre a segurança das urnas eletrônicas.
“Ele quer pegar o Eduardo Bolsonaro”, “A
ligação do gringo com o Eduardo Bolsonaro”, escreveu o juiz, em 4 de novembro.
“Será que tem?”, respondeu Tagliaferro. Na manhã seguinte, voltaram ao tema:
“Tem um vídeo do Eduardo Bolsonaro com a bandeira do jornal que fez a live de
ontem, conseguimos aí relacionar ele àquilo”, informou Tagliaferro. “Bom dia!
Que beleza”, respondeu o juiz auxiliar de Moraes.
Bumerangue
As mensagens foram trocadas de agosto de
2022, no período eleitoral, a maio de 2023, ou seja, após o 8 de janeiro de
2023, quando bolsonaristas invadiram e depredaram os palácios dos Três Poderes,
em Brasília. Tagliaferro negou a não conformidade. “Cumpri todas as ordens que
me eram dadas e não me recordo de ter cometido qualquer ilegalidade”, disse
Tagliaferro.
Presidente do Supremo, Barroso expressou a
opinião majoritária entre os pares, mas certamente há vozes discordantes.
“Todas as informações que foram solicitadas pelo ministro Alexandre de Moraes
referiam-se a pessoas que já estavam sendo investigadas. Informações voltadas à
obtenção de dados referentes a condutas de reiteração de ataques à democracia e
de ataques de ódio”, justificou. Segundo o presidente do STF, diversas
determinações, requisições e solicitações foram feitas a inúmeros órgãos,
inclusive, ao TSE, que, “no exercício do poder de polícia, tem competência para
a realização de relatórios”.
O ministro Gilmar Mendes, decano da Corte,
também se manifestou. Disse que “a censura que tem sido dirigida” a Moraes
parte de setores que buscam “enfraquecer a atuação do Judiciário e, em última
análise, fragilizar o Estado Democrático de Direito”. O procurador-geral da
República, Paulo Gonet, também defendeu o ministro e elogiou a “diligência,
coragem, assertividade e retidão” nas manifestações, decisões e no modo de
conduzir os processos.
As críticas sobre a atuação coordenada do
ministro nas duas Cortes recrudesceram. Nos meios jurídicos, muitos questionam
a condução dos processos por Moraes, principalmente depois que acumulou as
investigações no TSE e compartilhou provas com o inquérito criminal. O ministro
agora é acusado de exorbitar nos seus poderes. Parlamentares da oposição se
mobilizam para pedir seu impeachment no Senado e aprovar uma anistia para os
envolvidos no 8 de janeiro. É um efeito bumerangue.
Um comentário:
Xandão está certo,eu só acho que devia diminuir a pena dos golpistas,17 anos é muito,apesar da gravidade do que fizeram.
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