Folha de S. Paulo
Na convenção democrata, recomendou ouvir as
'preocupações dos que não votam conosco'
O discurso de Barack Obama na
quarta-feira passada (21/8) foi o ponto alto da Convenção Nacional Democrata,
reunida para sacramentar a candidatura de Kamala Harris.
De todos quantos desfilaram no pódio para
reafirmar a união do partido em torno da substituta de Joe Biden, Obama se
destacou ao remeter a disputa com Donald Trump para
além do confronto entre legendas antagônicas —ou da defesa da democracia
contra o candidato republicano de comprovado apetite autocrático.
Com clareza e a costumeira elegância, Obama
projetou um caminho para superar a polarização política que o truculento Trump
fomenta em tempo integral.
Ex-presidente (de 2009 a 2016), argumentou que há base para a construção de uma maioria democrática ampla, unida por valores fundamentais da vida civilizada —a começar do respeito mútuo—, apesar das diferenças de credo, etnia, experiências e circunstâncias de vida; acima das escolhas e lealdades políticas.
Numa reunião partidária, o lógico seria ele
reforçar a identidade política própria e o espírito de corpo dos
correligionários. Mas Obama recomendou "ouvir as preocupações daqueles que
não votam conosco e, talvez, aprender algo no processo". Afinal, não se
combate a polarização extremando as diferenças e desprezando os eleitores do
adversário, mas invocando os valores compartilhados pela maioria que a política
divide e antagoniza.
Por aqui, no outro polo das Américas, os
céticos talvez se sintam tentados a desdenhar do discurso do 44º presidente
americano como puro exercício de retórica eleitoral —e, ainda por cima,
encharcado de mitos sobre o experimento democrático do Norte que nos são
alheios. Melhor fariam pensar duas vezes, pois o populismo de direita está de
há muito instalado no centro da vida política brasileira, com todas as suas
sequelas.
Na verdade, ao longo de sua história
democrática, o Brasil tem produzido populistas autoritários em profusão.
Adhemar, Jânio, Collor, Bolsonaro são apenas os que lograram projeção nacional.
E, por algum mecanismo pouco estudado, o mais novo populista sempre será pior
que o anterior —cada vez mais próximo da barbárie.
É, assim, fácil dedicar a seus seguidores o
mesmo desprezo que nos despertam os líderes. Não seriam dignos de desdém os
bolsonaristas que acamparam diante dos quartéis? Ou tachados de otários os que
hoje parecem dar vida à candidatura de Pablo Marçal?
Tão fácil como arriscado.
Melhor ouvir o que dizem, tratar de entender
o que os liga a lideranças tão destrutivas e buscar os valores e aspirações que
possam, talvez, aproximá-los do campo democrático.
3 comentários:
Muito bom! Ou tachados de otários os bagrinhos "patriotários" que tentaram dar golpe de Estado em 8/1/2023 e foram abandonados pelas lideranças bolsonaristas que estimularam e convocaram a manifestação antidemocrática. Seu líder canalha ficou meses vivendo nos EUA, gastando o que ganhou ilegalmente com a venda das muambas, antes de ter coragem de voltar ao país e enfrentar as tantas acusações a que responde na nossa Justiça.
Além de encarcerar centenas de peixes miúdos golpistas, tem que botar em cana os financiadores e principalmente os articuladores das tentativas de golpe. Mais de um ano e meio já se passou, e só pobres coitados foram julgados e condenados. Quanto tempo vão levar pra chegar no Bolsonaro e nos oficiais golpistas?
A colunista entende do riscado.
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