quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Bernardo Mello Franco - Abaixo da crítica

O Globo

Tucanos sofreram derrota histórica em SP e perderam metade das prefeituras no país

O poço do PSDB parece não ter fundo. Depois de definhar no Congresso e ser varrido do governo paulista, o partido levou novo tombo nas eleições municipais. Os tucanos viram seu número de prefeituras cair pela metade. Pela primeira vez, não vão administrar nenhuma capital.

O fracasso mais retumbante foi em São Paulo. A aposta em José Luiz Datena expôs a sigla a um vexame em sua antiga cidadela. Ele terminou com 1,8% dos votos, um desempenho de candidato nanico. Seu maior feito na campanha foi interromper um debate para dar uma cadeirada em Pablo Marçal.

A aventura com o apresentador ajuda a entender o declínio do PSDB. Esvaziado, o partido traiu sua origem social-democrata e tentou pegar carona na fama de um ícone do telepopulismo. Ao renegar o passado, espantou quem ainda acreditava em seu futuro. O que restava do eleitorado tucano se dispersou entre concorrentes de outras legendas, como Ricardo Nunes e Tabata Amaral.

O oportunismo já havia levado o PSDB a encolher em outros episódios — da contestação das urnas, após a derrota de 2014, à aliança com a extrema direita, no segundo turno de 2018. Na última corrida presidencial, a sigla se consumiu em disputas internas e desistiu de lançar candidato. Na tentativa anterior, com Geraldo Alckmin, terminou com menos de 5% dos votos.

“O PSDB é um caso terminal. Não há mais o que fazer”, sentencia o ex-senador Aloysio Nunes, que pediu desfiliação em janeiro. Ele decidiu apoiar Guilherme Boulos no embate com Ricardo Nunes. “Não tenho como votar em alguém que se atirou nos braços de Bolsonaro, renegou as vacinas e subiu no palanque para pedir anistia aos golpistas”, justifica.

No domingo, o PSDB viu seu número de prefeitos desabar de 523 para 273. Na capital paulista, não conseguiu fazer nenhum vereador. Restaram bolsões de poder em estados onde ainda controla a máquina, como Pernambuco e Mato Grosso do Sul.

Ao receber o resultado das urnas, Datena fez uma avaliação sincera: “Foi péssimo. Foi horrível. Foi muito abaixo da crítica”. Falava do próprio desempenho, mas vale para o partido que o acolheu.

 

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