O Globo
Numa eleição em que o Brasil rumou para o
conservadorismo e a direita dominou o cenário, sobram interrogações sobre o dia
seguinte, especialmente sobre os efeitos desse novo cenário sobre a
configuração da direita e sobre a disputa pela presidência em 2026.
Uma das pistas para divisar uma resposta está
na derrota no segundo turno dos candidatos pelos quais Jair Bolsonaro mais se
empenhou —e que não por acaso ostentavam os discursos mais extremados. De Fred
Rodrigues (PL), com quem o ex-presidente foi votar em Goiânia, a Bruno Engler,
menino-prodígio do bolsonarismo em Belo Horizonte, passando por Cristina
Graeml, apelidada de “Ivermectina Graeml” em Curitiba, todos apostaram na
retórica agressiva ou na pauta de costumes para ganhar terreno e morreram na praia.
Duas derrotas em especial deram fôlego a desafiantes de Bolsonaro na direita: em Goiânia, onde Ronaldo Caiado emplacou Sandro Mabel (União), e Campo Grande, onde Teresa Cristina elegeu Adriane Lopes (PP). Ambos tem boas chances de chegar a 2026 como candidatos de seus partidos, justamente para aproveitar o apetite do eleitor pelo voto na direita e fazer boas bancadas para o Parlamento.
Candidatura para valer, porém, é outra coisa.
Nesse quesito, a eleição mostrou que só uma liderança da direita hoje tem
condições de fazer frente ao ex-presidente: Tarcísio de Freitas.
Num dos momentos mais críticos da campanha em
São Paulo, quando Ricardo Nunes suava frio com a ascensão de Pablo Marçal,
Bolsonaro recomendou que o governador largasse a mão do aliado e ele resistiu.
Ao se manter fiel ao prefeito e se tornar o
fiador da vitória, Tarcísio não demonstrou apenas que tem vida própria na
política. Com a eleição de Nunes e de 629 dos 645 prefeitos do estado, o
governador também demarcou uma linha clara, como quem diz a Bolsonaro que, da
divisa do estado para dentro, quem manda é ele.
A opção de Tarcísio de não se engajar e nem
opinar sobre as disputas fora de São Paulo —a exceção foi um vídeo que gravou
para Bruno Engler em Belo Horizonte —foi estratégica. O governador sabe que a
vitória em São Paulo reforça seu potencial para 2026, mas não pretende nem
decidir-se pela candidatura e nem comprar briga com Bolsonaro antes da hora.
O ex-presidente ainda acredita realmente que
pode reverter a inelegibilidade e, enquanto essa possibilidade não for
definitivamente sepultada —o mais provável hoje —, não vai ser Tarcísio quem a
desafiará.
Como já dizia Magalhães Pinto, política é
nuvem. Os ventos que sopraram na eleição municipal estão a favor do governador
paulista. Se ele vai aproveitá-los, é cedo para dizer. Mas, se o fizer, o resto
da direita (incluindo Bolsonaro) não terá alternativa a não ser seguir com ele.
3 comentários:
Ok
eu até lhe respeitava como jornalista depois de ler o livro `a organizacao` mas depois de "Cristina Graeml, apelidada de “Ivermectina Graeml” eu rebaixo sua estatura a reles jornalistinha da globo. tenha siso, nao eh a toa que alguns aludem a vc como `maluca gaspar.`
A jornalista se esforçou para omitir o crime eleitoral claro cometido pelo "moderado" Tarcísio.
Tarcísio se jogou - de vez - na lama bolsonarista.
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