Governadores erram ao criticar PEC da Segurança
O Globo
Objetivo da proposta não é tirar poder dos
estados, mas implantar combate eficaz ao crime organizado
São equivocadas as críticas dos governadores
do Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud) à Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) da Segurança, uma tentativa bem-vinda do governo federal de
ampliar sua participação no combate às organizações criminosas. Reunidos em
Florianópolis (SC) no final de novembro, os governantes de sete estados se
manifestaram contra o projeto apresentado pelo ministro da Justiça e Segurança
Pública, Ricardo
Lewandowski, alegando que ele enfraqueceria o poder estadual.
Na Carta de Florianópolis, afirmam que, se aprovada, a PEC trará “incertezas” às gestões estaduais. Dizem ser contra “qualquer proposta que enfraqueça os estados e reduza sua capacidade de agir de forma rápida e adequada às necessidades locais”. Acrescentam que a segurança deve ser implementada com cooperação, respeito às diferenças regionais e fortalecimento das capacidades locais, “e não por meio de estrutura centralizada, que limita a eficiência e amplifica a burocracia”.
Os governadores argumentam que as regiões Sul
e Sudeste já têm sistemas de segurança eficientes. E que em breve passarão a
construir uma plataforma de ação conjunta e integração dos dados de segurança,
Justiça, fiscalização e controle. Claro que é sempre louvável a cooperação,
especialmente em relação a bancos de dados que hoje não se comunicam. Mas o
Brasil tem 27 unidades federativas. Não custa lembrar que PCC e CV, as
poderosas facções do Sudeste, atuam em todo o país e no exterior. Não pode
haver integração parcial contra inimigos desse tipo.
Não é razoável afirmar que os estados já têm
sistemas de segurança eficientes. O poder das facções não pode ser
menosprezado. No mês passado, um empresário que delatara a estrutura criminosa
do PCC e corrupção policial foi executado na saída do Aeroporto de Guarulhos
(SP), o mais movimentado do país. No Rio, em outubro, uma operação policial no
Complexo de Israel, conjunto de favelas na Zona Norte, resultou na morte de
inocentes e num dia de caos. O governador Cláudio Castro (PL) cobrou ação
federal.
O principal mérito da PEC da Segurança é
justamente prever maior participação federal no combate às organizações
criminosas. Os estados sozinhos não dão conta de enfrentar facções fortemente
armadas, bem articuladas, infiltradas em instituições e empresas formais. A
proposta romperia a inércia do Planalto no combate à violência,
hoje uma das maiores preocupações dos brasileiros. Entre outros pontos, a PEC
amplia as atribuições da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal,
fortalece o Sistema Único de Segurança Pública e prevê compartilhamento de
informações.
É um erro dizer que a PEC tirará autonomia
dos governadores. A União não substituirá os estados em sua missão
constitucional de tratar da segurança. O plano é somar esforços, integrando
ações isoladas, hoje insuficientes. A PEC pode não ser ideal, e nada impede que
seja aperfeiçoada com sugestões dos governadores e dos parlamentares. Mas algo
precisa ser feito contra a grave crise na segurança. Medidas eficazes devem
envolver os três níveis de governo, com cooperação, compartilhamento de dados,
inteligência, tecnologia, recursos e um plano de segurança robusto, coordenado
pelo governo federal. Sem isso, os estados continuarão sua luta solitária e
inglória contra as poderosas multinacionais do crime.
Insistência em usar Petrobras para salvar
estaleiros é nociva para o país
O Globo
Estatal repete erro de favorecer indústria
naval ineficiente em detrimento de acionistas
Tentativas de usar a Petrobras para
reerguer a indústria naval já deram errado no passado. Mesmo assim, a estatal
acaba de anunciar novos investimentos com a mesma intenção: seis contratos de
R$ 16,5 bilhões para construção e afretamento de 12 embarcações. Desses, R$ 5,2
bilhões serão destinados a estaleiros nacionais, a maior encomenda nos últimos
dez anos. As empresas Bram Offshore e Starnav Serviços Marítimos operarão as 12
embarcações, construídas por seus próprios estaleiros em Santa Catarina. A
presidente da estatal, Magda
Chambriard, afirma que serão criados 11 mil empregos diretos e
indiretos.
O novo plano de negócios da Petrobras prevê
investimentos de US$ 111 bilhões até 2029, com contratação de 11 plataformas de
produção de petróleo e gás, 30 novas sondas de exploração e 90 equipamentos
submarinos de apoio às operações em alto-mar. É um vasto manancial de recursos,
que o governo tem tentado dirigir com o intuito de reerguer a indústria naval.
Em julho, a Transpetro, subsidiária da
Petrobras, anunciou a licitação de quatro petroleiros de pequeno porte para
navegação de cabotagem, também com reserva de mercado e subsídios. Está
previsto para 2026 o lançamento ao mar do primeiro. Ao todo, serão 25, para
transportar combustíveis pelo litoral (com investimento entre US$ 2 bilhões e
US$ 2,5 bilhões). Há ainda proposta para 12 embarcações de recuperação de óleo
derramado no mar e mais dez de apoio.
O financiamento ao setor naval vem do Fundo
de Marinha Mercante, administrado pelo BNDES. Os juros, subsidiados com
recursos públicos, variam de 2,3% a 3,3% ao ano. Podem cair ainda mais para
quem se comprometer a entregar navios com no mínimo 65% de conteúdo nacional.
No auge da última tentativa fracassada de
usar encomendas da Petrobras para financiar a indústria naval, no segundo
governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e na gestão de Dilma Rousseff,
os estaleiros empregavam 85 mil funcionários. Hoje restam 26 mil. O plano
desabou em meio à ineficiência crônica dos estaleiros nacionais diante dos
competidores externos e a denúncias de corrupção. A Sete Brasil, subsidiária da
Petrobras criada para arrendar sondas à estatal, não recebeu uma sequer das 29
que havia encomendado aos estaleiros. Sua falência foi decretada em 2019.
Em seus planos, Chambriard confirma estar de
acordo com a visão do governo para a Petrobras: usá-la como “indutora do
desenvolvimento”. Trata-se de uma visão anacrônica da política econômica,
baseada em reservas de mercado, deixando em segundo plano a busca pela
eficiência no uso dos recursos. A experiência demonstra que as empresas
nacionais não conseguem ser competitivas diante dos fornecedores externos, mas
insiste-se no erro, como se a insistência em algum momento pudesse gerar
resultado diferente. Não há preocupação com o custo para os acionistas da
Petrobras — o maior é a própria União — nem com as consequências que a má
alocação do capital trará para a economia brasileira.
Senado consegue avanços em marco regulatório
da IA
Valor Econômico
Câmara deve fazer adequações e marco aprovado
pelo Senado protege direitos fundamentais sem comprometer a inovação
A regulação da inteligência artificial (IA)
começou a ganhar corpo no Brasil com o marco aprovado pelo Senado para ditar
regras para a nova tecnologia, uma prioridade para o país. Ainda que sejam
necessárias melhorias pontuais, o texto traz avanços ao prever a remuneração de
direitos autorais de conteúdos usados no treinamento dos modelos e ao
estabelecer uma classificação de riscos para os diferentes sistemas. É preciso
agora que a base do projeto seja mantida sem grandes alterações na Câmara dos
Deputados, onde haverá maior pressão das big techs, com apoio da bancada
bolsonarista, para afrouxar importantes garantias incluídas pelos senadores.
A aprovação por votação simbólica foi
possível graças à atuação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MBD-MG),
que entrou em campo para conter manobras da oposição para protelar a tramitação
do projeto, cujos meandros técnicos vêm sendo discutidos com ampla participação
da sociedade civil desde março de 2022. Houve acordo para a retirada de
destaques por parte do governo e da oposição, dando pequenas vitórias aos dois
lados, o que permitiu que o texto final fosse classificado como nem “de
direita” e nem “de esquerda” pelo senador Eduardo Gomes (PL-TO), relator do
projeto.
O marco estabelece as bases para o
desenvolvimento e o uso da IA no Brasil pelos setores público e privado, além
de criar um mecanismo de supervisão da tecnologia. O Sistema Nacional de
Regulação e Governança da Inteligência Artificial (SIA), que será criado sob a
coordenação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANDP) com participação
de outros órgãos do Executivo, ficará responsável por fiscalizar o cumprimento
das regras e estabelecer regulações posteriores. Em caso de violações, o SIA
poderá advertir ou multar os infratores, com punições que podem chegar a R$ 50
milhões ou 2% do faturamento bruto da empresa em questão.
Um dos acertos do texto-base do Senado é a
adoção de uma classificação das IAs por diferentes níveis de risco, um padrão
já adotado pela União Europeia (UE), pioneira na regulação de tecnologias
emergentes. Segundo o projeto, haverá sistemas considerados de risco excessivo,
cujo desenvolvimento será proibido - é o caso, por exemplo, de armas autônomas
-, e os de alto risco, categoria que inclui, entre outros, os sistemas usados
na seleção de estudantes, no recrutamento de vagas de emprego e na concessão de
serviços públicos. Nestes casos, as empresas terão de seguir uma série de
obrigações, como a realização de testes para avaliação de segurança, além de
implementação de medidas para prevenir vieses e a discriminação de grupos
minoritários.
Outro ponto de destaque é a proteção dos
direitos autorais, uma reação aos inúmeros casos de violação da legislação já
ocorridos no Brasil e no mundo com o uso indevido de conteúdos para o
treinamento de sistemas generativos, popularizados com o ChatGPT, capazes de
criar textos, imagens, fotos e vídeos. Em vitória governista, apesar da
apresentação de diversas emendas por parte de deputados bolsonaristas para
defender a posição das big techs, que alegam que a cobrança pode “inviabilizar
o desenvolvimento da IA no Brasil”, o texto-base prevê a remuneração dos
titulares das obras, levando em consideração o porte da empresa desenvolvedora
e o impacto na concorrência. Também será preciso que as companhias informem
publicamente que materiais foram utilizados para alimentar os modelos.
Mas as negociações para permitir que o
projeto avançasse no Senado também resultaram em retrocessos em relação ao
texto original. A versão final votada no plenário estabeleceu que será
obrigatória apenas para os modelos generativos a necessidade de realizar
avaliações preliminares que determinarão o grau de risco do novo modelo. Na
opinião de entidades de defesa dos direitos digitais dos cidadãos, a lei
deveria exigir que tais medidas de segurança sejam obrigatórias, não de caráter
facultativo, conforme o risco de cada sistema.
Outra mudança que deve ser revertida é a
exclusão dos algoritmos das redes sociais da lista de sistemas considerados de
alto risco, um triunfo da aliança entre a oposição bolsonarista e as grandes
empresas de tecnologia. Já não resta dúvida de que estas ferramentas de
recomendação de conteúdo deveriam estar submetidas a regras mais rígidas e sob
maior escrutínio da sociedade, considerado o já conhecido impacto das
plataformas sobre o fluxo de informação e o debate público.
Mesmo que haja espaço para aprimoramentos, o
marco aprovado pelo Senado cumpre a missão de proteger os direitos fundamentais
sem comprometer a inovação, essencial para uma tecnologia em rápida evolução e
cujo futuro é imprevisível. Caberá à Câmara fazer as devidas adequações, sem se
submeter aos interesses de grandes grupos econômicos, para que o país possa
sair na frente na regulação e obter vantagem entre países em desenvolvimento
para a atracão de investimentos em IA.
A Justiça é para todos, inclusive generais
Folha de S. Paulo
Pesam sobre Braga Netto, que está preso,
suspeitas gravíssimas de golpismo; evitar impunidade depende de acusação sólida
A prisão
preventiva do general da reserva Walter Braga Netto, levada a cabo
no sábado (14), traz de imediato a percepção de ineditismo. Trata-se, afinal,
do oficial de mais alta patente a ir para detrás das grades, ainda que
temporariamente, desde o restabelecimento da democracia há quase 40 anos.
Mais que isso, toda a investigação
em torno das maquinações golpistas encabeçadas por Jair
Bolsonaro (PL), de quem Braga Netto
foi vice na chapa presidencial de 2022, alimentam a expectativa de que a
Justiça vá prevalecer sobre a impunidade.
O trabalho pela frente, porém, é mais
complexo do que pode sugerir algum efeito catártico agora —assim o demonstra a
experiência da Lava Jato, que apesar de avanços notáveis na responsabilização
de políticos e grandes empresários, amargou não poucos malogros, seja por
apurações inconsistentes, abusos de poder, impropriedades processuais ou, não
menos importante, conveniência de autoridades.
Se não há dúvida de que Bolsonaro e
auxiliares desejaram afrontar a ordem democrática, como o ex-presidente nunca
fez questão de esconder, cumpre ao Estado de Direito, por meio do devido
processo legal, apontar até onde foram as tratativas e o papel de cada
personagem.
Por ora, os 37 indiciados pela Polícia
Federal são suspeitos formais. Há pela frente ainda a esperada
acusação por parte da Procuradoria-Geral da República, que pode também demandar
investigações adicionais, e o julgamento no Supremo Tribunal Federal, caso a
denúncia seja aceita como se imagina.
Pesam sobre Braga Netto, no inquérito da PF,
afirmações gravíssimas e chocantes. Ele teria participado de um plano para nada
menos que assassinar o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da
Silva (PT),
seu vice, Geraldo
Alckmin (PSB), e o
ministro Alexandre de
Moraes, que em 2022 comandava a Justiça Eleitoral.
Não se deveram a tais suspeitas, ainda a
serem examinadas pelo sistema de Justiça, a prisão do general —esta se deu em
razão de indícios de que ele procurava obstruir a apuração em curso, o que sua
defesa nega.
Qualquer que seja a evolução do caso,
as Forças
Armadas, e o Exército em particular, cumprirão seu dever se reagirem
com serenidade e disposição de colaborar com o esclarecimento dos fatos, como
ocorreu até aqui.
A passagem de Bolsonaro pelo Planalto
resultou em dano reputacional indelével para a corporação. Quadros importantes
se deixaram cooptar pelo capitão reformado, da ocupação anômala de cargos de
governo até a politização com ambições autoritárias.
A conspiração golpista se esvaziou na origem,
especialmente, porque o comando do Exército optou por se manter fiel à Constituição —alento
para um país que vive seu período mais longo de democracia plena. O processo de
pacificação não prescinde do rigor na punição das transgressões, que não podem
se repetir.
Brasil vai mal em mais uma avaliação global
da educação
Folha de S. Paulo
Resultado pífio no TIMSS soma-se aos do Pisa
e do Pirls; governos precisam ampliar ensino integral e combater a evasão
A ineficiência histórica de sucessivos
governos nas três esferas com a educação brasileira
produz mais um indicador internacional vexatório. Trata-se de novo alerta para
a necessidade de melhorias em gestão, ainda mais com a situação precária dos
Orçamentos federal, estaduais e municipais.
Em 2023, o Brasil participou pela primeira
vez do Estudo Internacional de Tendências em Matemática e
Ciências (TIMSS), sondagem realizada desde 1995 pela Associação Internacional
para a Avaliação do Desempenho Educacional (IEA). Alunos de 64 nações foram
avaliados.
Na prova de matemática para o 4º ano do
ensino fundamental, os
estudantes do Brasil obtiveram na média 400 pontos, numa escala de 0
a 1000.
Segundo a IEA, tal nota corresponde ao
conhecimento mínimo. Mas 51% dos brasileiros não conseguiram alcançá-lo, o que
significa, por exemplo, que não sabem fazer adição ou subtração com números
acima de três dígitos.
Ficamos à frente só de Marrocos,
Kwait e África do Sul.
O Chile,
único vizinho sul-americano no TIMSS, teve 444 pontos. A média global foi de
503 e o primeiro colocado, Cingapura, chegou a 615.
No 8º ano, na mesma disciplina, foi ainda
pior. O país ficou na última colocação, empatado com Marrocos, ao obter 378
pontos. Somente 38% dos nossos alunos alcançaram o mínimo necessário, ante 81%
na média internacional.
Nos testes de ciências, o Brasil vai
ligeiramente melhor, com 425 no 4º ano e 420 no 8º, mas ainda longe das médias
dos outros países (494 e 478, respectivamente).
O resultado pífio no TIMSS soma-se ao
mau desempenho no Pisa, que avalia o aprendizado de matemática,
ciências e leitura de jovens de 15 anos em 81 países, e no Pirls, que testa a
alfabetização de crianças de 9 ou 10 anos.
O problema mais premente não é falta de
verbas públicas. No Brasil, o montante direcionado para a educação em relação
aos serviços totais do Estado (11%) está um pouco acima da média da OCDE (10%),
que reúne os países mais desenvolvidos, e gasta-se relativamente muito no
ensino superior, que no arranjo federativo nacional fica a cargo principalmente
do governo federal.
Dado o envelhecimento da população, o número de matrículas na educação básica —a etapa a ser priorizada pela política pública— está em tendência de queda, o que facilita aumentar o gasto por aluno. Estados e municípios precisam ampliar o ensino integral, premiar a qualidade do aprendizado e combater a evasão. Sem isso, o Brasil continuará a passar vergonha.
A Lula o que é de Lula
O Estado de S. Paulo
O petista diz que o governo falha ao
comunicar suas conquistas à população e avisa que vai ‘falar mais’. Mas esse é
precisamente o problema: sempre que Lula fala, os problemas se agravam
Ao participar do encerramento de um seminário
do PT destinado a debater os rumos do partido – aquele tipo de encontro em que
o comissariado petista costuma reafirmar vícios do passado para aprimorá-los no
futuro –, o presidente Lula da Silva fez uma crítica contundente à comunicação
do governo. “Há um erro do governo na questão da comunicação e sou obrigado a
fazer as correções necessárias”, disse o presidente, em declaração interpretada
como um prenúncio de que em breve trocará o responsável pela área, o desgastado
ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da
Presidência da República. “Quero começar a resolver no começo de ano”, avisou.
Apoquentado com o que considera um abismo entre suas grandes realizações e a
tépida aprovação popular, Lula endossou e inflamou as queixas já recorrentes
num tema que ganha evidência toda vez que o demiurgo sente que seus poderes
divinos não estão sendo bem compreendidos.
A fala amuada de Lula contra a comunicação do
seu governo até adquiriu contornos inéditos pelas palavras duras que escolheu,
mas na prática ele só repetiu o velho hábito de terceirizar a responsabilidade
por problemas que nascem, no fundo, no próprio gabinete presidencial. A Lula o
que é de Lula: a despeito da inquestionável má qualidade da comunicação no
atual mandato e do baixo nível de conhecimento dos seus artífices sobre as
dinâmicas do ambiente digital, o defeito de origem está no produto, não no marketing
destinado a vendê-lo. O fato é que não há ministro, marketing político ou
estratégia de qualidade capaz de vender um produto ruim.
Ocorre que, com a fritura pública de Pimenta,
a bolsa de apostas para substituí-lo já tem até favorito: o marqueteiro do
presidente na eleição vitoriosa de 2022, Sidônio Palmeira, ideia que teria
ganhado corpo após o ruidoso anúncio que misturou, em rede nacional de rádio e
TV, o pacote de ajuste fiscal e a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil.
Coube a Sidônio a ideia de combinar as duas coisas e adornar a fala do ministro
da Fazenda, Fernando Haddad, convertida no primeiro ato de uma campanha institucional,
lançada com slogan marqueteiro e consistência duvidosa. A mistura, o timing e a
forma do anúncio provocaram estragos adicionais em um pacote que deveria
comprovar a alegada sobriedade econômica do governo, mas foi levado adiante
como peça de propaganda eleitoral. Ao que parece, contudo, Lula considerou a
operação um sucesso.
Não faltou nem mesmo a velha tática de afetar
humildade, quando Lula se incluiu entre os responsáveis pelos problemas de
comunicação: “Há um equívoco meu na comunicação. O Stuckert (referência a
seu fotógrafo oficial, Ricardo Stuckert) costuma dizer ‘presidente, o
senhor é o maior comunicador do nosso partido, o senhor tem que falar mais’. E
a verdade é que não tenho organizado as entrevistas coletivas”. Então estamos
combinados: Lula, que já fala pelos cotovelos, avisou que vai “falar mais”.
E talvez seja exatamente esse o problema.
Quando Lula fala, quase sempre de improviso, ou cria expectativas incompatíveis
com a capacidade do governo de realizá-las, ou constrange a equipe econômica
com discursos demagógicos que contrariam o compromisso com a saúde das contas
públicas. O resultado é a crescente falta de credibilidade do governo.
Mas Lula está convencido de que seu governo é
um primor e que a maioria dos brasileiros se convenceria disso se o presidente
concedesse “mais entrevistas” – sobretudo para meios escolhidos a dedo pelo
Palácio por deixarem Lula à vontade.
Enquanto isso, Lula não comenta sobre os
problemas de coordenação política (liderada por ele mesmo), ou sobre a falta de
um núcleo dirigente no Planalto capaz de corrigir os rumos ditados pelo
presidente, ou ainda sobre a malaise provocada por um governo
que chega envelhecido à metade do mandato. Como se vê, o que o presidente
espera da comunicação do seu governo é algo que diz respeito mais a ele
próprio. Uma certeza que só escancara a inutilidade do debate proposto na reunião
do PT.
Justiça companheira
O Estado de S. Paulo
Se fosse estadista, Lula se empenharia em
desarmar o círculo vicioso de politização da Justiça e judicialização da
política. Como não é, está colonizando a Justiça com leais servidores
Há tempos as pesquisas de opinião registram
que a credibilidade do Judiciário junto à população, em especial a do Supremo
Tribunal Federal (STF), diminuiu na exata proporção em que cresce a percepção
de seu protagonismo político. Há pelo menos dez anos está em curso um círculo
vicioso e antirrepublicano que não dá sinais de arrefecer: a judicialização da
política retroalimentada pela politização da Justiça.
Há razões estruturais para isso. A
Constituição de 1988 é um documento excessivamente abrangente e prolixo que,
como já notou o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, “constitucionalizou
inúmeras matérias que, em outras partes do mundo, são deixadas para a
política”.
Mas há razões conjunturais. Os freios e
contrapesos estão estiolados. Sob chefes do Executivo fragilizados, o Congresso
assumiu para si prerrogativas exorbitantes, mormente sobre o Orçamento,
gestando uma espécie de parlamentarismo bastardo, em que os caciques têm muito
poder e pouca responsabilidade. Com o colapso do presidencialismo de coalizão,
ante um Legislativo indócil, o Executivo tem buscado no Judiciário um fiador da
governabilidade.
Chamada para a dança política, a Suprema
Corte não se fez de rogada, e tomou gosto em atuar ora como poder moderador da
República, ora como poder tensionador, seja ditando políticas públicas às
instâncias executivas, seja legislando a pretexto da “omissão” das Casas
Legislativas. Na Lava Jato, instâncias inferiores do Judiciário se
auto-outorgaram uma espécie de “competência universal de combate à corrupção”.
Hoje, é o STF quem assume para si uma “competência universal de defesa da
democracia”.
Os próprios representantes eleitos contribuem
para a politização da Justiça. Partidos nanicos, sobretudo de esquerda, abusam
do tapetão judiciário para reverter ou impor nas cortes causas que perderam no
voto. “Nós temos culpa de tanta judicialização”, confessou ninguém menos que o
presidente Lula da Silva, no início de seu mandato, num raro surto de
sinceridade. “A gente perde uma coisa no Congresso Nacional e, ao invés de a
gente aceitar a regra do jogo democrático de que a maioria vence e a minoria cumpre
aquilo que foi aprovado, a gente recorre a uma outra instância para ver se a
gente consegue ganhar.”
Se fosse o estadista que finge ser, Lula
teria buscado sanear esse estado de coisas, desestimulando seus partidários de
recorrerem ao tapetão sempre que perdem no voto e fazendo indicações técnicas
para a Justiça. Ao contrário, Lula mandou às favas o pudor e o notório saber
jurídico e indicou para o STF seu amigo e advogado Cristiano Zanin e o também
amigo e correligionário Flávio Dino, realizando um “sonho antigo” de instalar
nele alguém com “cabeça política”.
A colonização da Justiça não para por aí.
Como mostrou reportagem do Estadão, Lula tem se dedicado com afinco a
forrar não só o Executivo, mas tribunais superiores e regionais, além de órgãos
e autarquias com leais servidores. As nomeações ligadas ao grupo de advogados
militantes de esquerda Prerrogativas chegam às dezenas.
Respeitadas as prioridades técnicas, seria
natural indicar figuras que compartilhem de uma visão progressista sobre a
coisa pública. Mas não se trata apenas de alinhamento ideológico. Se fosse, a
indicação de Joaquim Barbosa ao STF, em 2003, não seria considerada
“desastrosa”, como disse um interlocutor próximo ao presidente à reportagem. Do
que se sabe de suas manifestações públicas, Barbosa comunga dos ideais
progressistas, mas seu pecado foi ter aplicado a lei no julgamento do mensalão
petista.
“Estou convencido que tentar mexer na Suprema
Corte para colocar amigo, para colocar companheiro, para colocar partidário é
um atraso”, disse o então candidato Lula na disputa presidencial de 2022. Já o
presidente Lula parece convencido de que se trata de um avanço. “A gente ganhou
mais malícia”, disse o advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do
Prerrogativas e amigo de Lula. Quando a malícia é critério para indicações na
Justiça, o corolário, por necessidade lógica, é um só: más escolhas e más consequências
para a legitimidade do Judiciário.
Coração de mãe
O Estado de S. Paulo
Ao que parece, sempre cabe mais um custo na
conta de luz para satisfazer lobbies
Originalmente elaborado no Senado, o projeto
de lei que torna viável o programa de instalação de usinas eólicas em alto-mar
(offshore) ganhou oito emendas na passagem pela Câmara dos Deputados, com
potencial para encarecer o custo da energia em R$ 25 bilhões ao ano, calculou a
PSR Energy. De volta ao Senado, uma emenda foi retirada, a consultoria refez os
cálculos e chegou à conclusão de que o estrago diminuiu, mas ainda é de R$ 21
bilhões ao ano, o que representa acréscimo de 9% nas contas de luz. E foi incorporando
esse adicional aos consumidores que o projeto foi aprovado.
O pior, como lembrou reportagem do Estadão,
é que as emendas são jabutis, ou seja, nada têm a ver com as usinas offshore
que aproveitarão a força dos ventos para produzir energia. Algumas, ao
contrário, têm como objeto beneficiar geradoras fora do escopo de fontes
renováveis e limpas do processo de transição energética, como o acionamento de
térmicas a gás mesmo que não haja necessidade – os chamados contratos
inflexíveis –, e a extensão do subsídio para geração a carvão, a mais poluente
de todas, até 2050. Tudo financiado com o dinheiro extra pago nas tarifas.
Virou rotina enxertar nas contas de luz
custos que os usuários de eletricidade nem imaginam estar bancando, todos
autorizados por lei. De vez em quando alguns são barrados no Congresso.
Recentemente, a Câmara abateu outro jabuti pendurado no projeto do “combustível
do futuro” por um senador interessado em estender desnecessariamente os
subsídios à energia solar. No Senado, o “jabuti solar” retornou, agora inserido
no projeto das eólicas, e a prorrogação foi aprovada.
Os “jabutis elétricos” atendem grupos com
grande influência entre os parlamentares e, em muitos casos, com interesses
conflitantes entre si. A declaração do relator do projeto, senador Weverton
Rocha (PDT-MA), chega a surpreender pela naturalidade com que trata a matéria.
“Todos competem com o outro setor de forma muito dura, mas nenhum veio me pedir
para abrir mão dos subsídios que tem. Nenhum!”
A forma como os variados lobbies do setor
elétrico atuam e a receptividade que encontram entre os parlamentares aviltam o
Congresso e achincalham todos os usuários de eletricidade. Por vezes, até
parecem fazer sentido, como o incentivo à geração solar, justificável de
início, mas não agora, com o mercado consolidado. Com a marca histórica de 50
gigawatts (GW) de potência instalada de energia solar, o Brasil passou a
integrar o grupo dos seis países com maior produção fotovoltaica do mundo. Os
subsídios não fazem mais sentido, muito menos aqueles custeados pelos
consumidores.
Há dois anos, em coluna publicada neste
jornal, a economista e advogada Elena Landau, especialista no setor de energia,
já atestava que a tarifa de energia elétrica, naquela época, não refletia “nem
a abundância de fontes nem o avanço tecnológico e de produtividade que as
renováveis atingiram no País”, mas sim o poder de lobbies setoriais.
E com isso o consumidor paga um adicional dobrado: pela energia limpa e também pela poluente.
Remuneração e competitividade
Correio Braziliense
Com uma economia evoluindo rapidamente,
concomitantemente aos impactos que esse avanço ocasiona, estar atento ao
bem-estar dos colaboradores é uma prática fundamental nos tempos atuais
A tecnologia impacta de forma contínua e
acelerada os modos de produção e o mercado de trabalho. Nesse quesito, a gestão
de remuneração torna-se uma estratégia essencial dentro das empresas, já que
visa valorizar, reconhecer e atrair os talentos. No Brasil, a implementação
desse tipo de organização ainda é um desafio que precisa ser superado para que
o país permaneça competindo no mundo dos negócios.
Com uma economia evoluindo rapidamente,
concomitantemente aos impactos que esse avanço ocasiona, estar atento ao
bem-estar dos colaboradores é uma prática fundamental nos tempos atuais. Diante
de um cenário complexo, reter funcionários qualificados é um diferencial que
vem se mostrando condição de sucesso dos grandes conglomerados.
Na realidade dos empregadores brasileiros, em
que alguns setores por vezes sentem a escassez de determinados profissionais, a
diretriz de gestão de remuneração precisa ser desenvolvida, encarando,
inclusive, ações corretivas sobre a equidade salarial de gênero e de raça.
Nesse campo, novamente a tecnologia aparece
de maneira determinante. A inteligência artificial (IA), com sua capacidade
precisa de levantamento de dados, é uma ferramenta que faz a diferença no amplo
processo de busca de soluções personalizadas de remuneração.
Hoje, o engajamento da força de trabalho é
cada vez mais dinâmico e reúne uma gama de especificidades por parte dos
colaboradores, indo muito além da relação entre produtividade e salário. A
expertise dos parceiros encabeça essa equação, mas é preciso considerar muitos
outros aspectos para motivar e cativar as aspirações dos novos profissionais.
Em um ambiente de ampla concorrência
proporcionada pelo trabalho remoto, no qual o empregador pode estar em qualquer
lugar do planeta, modelos eficientes de remuneração são atrativos para os
talentos, já que eles têm a oportunidade de escolher globalmente.
No Brasil, assim como em outros países
latino-americanos, empresas internacionais recrutam cada vez mais pessoas para
ocupar posições importantes em seus quadros, estendendo as possibilidades para
o trabalho realizado a distância até mesmo em funções de CEO. Essa mudança
transforma também a expectativa dos funcionários sobre a política que define
como serão recompensados, determinada pela crescente valorização de estruturas
salariais personalizadas e flexíveis. Componentes variáveis, como bônus ou
prêmios vinculados a ações, são condições que ocupam espaço crescente em
diversas áreas. Sem contar a garantia da qualidade de vida, com a adequação de
jornadas e a entrega da estrutura ideal para a execução do serviço.
Com pressões diárias sobre o resultado final e uma concorrência sem fronteiras, as empresas no país têm de ser mais criativas no plano da recompensa salarial, construindo laços diferenciados com os funcionários. A busca por incentivos deve ser uma rotina na gestão de remuneração, assim como a introdução de planos capazes de dar respostas rápidas às demandas do trabalhador. Para não perder seus talentos, o empregador no Brasil precisa criar mecanismos de maior velocidade e flexibilidade, assegurando a satisfação do funcionário. A geração que está entrando no mercado demonstra determinação para decidir os próximos passos sem abrir mão dos seus anseios. As empresas não podem ignorar esse fato se quiserem ter habilidades no quadro de pessoal que aumentem a competitividade em âmbito global.
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