Valor Econômico
No ato deste domingo (21) no Rio de Janeiro,
o ex-presidente Jair Bolsonaro manteve a estratégia de terceirizar aos aliados
os ataques mais incisivos ao Supremo Tribunal Federal (STF), e reiterou
argumentos para se defender da investigação de participação na tentativa de
golpe de Estado em tramitação na Corte Constitucional.
Mais uma vez, Bolsonaro terceirizou a aliados os ataques diretos ao ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do inquérito sobre a tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, e ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
O pastor Silas Malafaia fez os ataques mais
veementes a Moraes e Pacheco. Voltou a chamar o ministro do STF de “ditador” e
“censor da democracia”, e o presidente do Senado de “frouxo” e “covarde”. O
objetivo é estimular os seguidores de Bolsonaro a pressionarem os senadores
para cobrarem de Pacheco a tramitação de pedidos de impeachment contra Moraes.
Também já se notam ajustes calculados no
discurso de Bolsonaro para não afrontar diretamente o STF e não agravar sua
situação como investigado. Por exemplo, ele deixou de questionar as urnas
eletrônicas e de acusar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de fraudar as
eleições.
Foram essas acusações sem provas que
ensejaram a sua inelegibilidade, condição que ele ainda tentará reverter, e
precisa do STF para isso. Ontem ele afirmou: “Não estou duvidando das eleições,
página virada”.
A convocação desses atos - primeiro em São
Paulo, depois no Rio de Janeiro - transformou-se na principal estratégia de
defesa do ex-presidente num momento em que o cerco investigativo vem se
fechando em torno dele. Nesses eventos, ele se diz vítima de perseguição, e
busca mostrar apoio político e força eleitoral.
A situação jurídica de Bolsonaro começou a se
agravar a partir da delação premiada de seu ex-ajudante de ordens, o
tenente-coronel Mauro Cid, no ano passado. As investigações deram um salto, em
seguida, com os depoimentos dos ex-comandantes do Exército Marco Antônio Freire
Gomes e da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Júnior, que confirmaram à
Polícia Federal a existência de uma minuta de decreto de estado de defesa para
invalidar as eleições de 2022.
O ponto de inflexão para Bolsonaro
transportar sua defesa dos autos para as ruas foi a Operação Tempus Veritatis,
da Polícia Federal, em 8 de fevereiro, que apreendeu seu passaporte. Alguns de
seus principais auxiliares foram alvos da ação, como os ex-ministros e generais
da reserva Augusto Heleno, Braga Netto e Paulo Sérgio Nogueira. O ex-assessor
internacional Filipe Martins foi preso.
Duas semanas depois, Bolsonaro, Malafaia,
governadores e demais lideranças do bolsonarismo discursavam sobre um palanque
montado na Avenida Paulista, desfiando ataques ao STF e a Moraes.
Na manifestação de ontem também ficou evidente a aposta do PL em amplificar as vozes de jovens lideranças do bolsonarismo. Bolsonaro disse que está plantando “sementes políticas”. Enquanto ele exaltou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), os deputados federais Nikolas Ferreira (MG) e Gustavo Gayer (GO), campeões de engajamento nas redes - e que o PL quer alçar ao patamar de lideranças nacionais - discursaram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário