sábado, 6 de dezembro de 2025

O drama familiar do bolsonarismo, por Juliana Diniz

O Povo (CE)

Ela tem se mostrado mais carismática, ativamente engajada com os eventos do partido por todo o país, falando em nome de um Jair Bolsonaro agora inteiramente ausente, recolhido à prisão

A aliança entre o bolsonarismo e o grupo político de Ciro Gomes está em estado de espera desde que Michelle Bolsonaro deixou claro seu descontentamento em visita ao Ceará. Como escreveu Gualter George, é surpreendente que um político dado a respostas prontas tenha engolido a rejeição pública em silêncio.

Eduardo e Flávio Bolsonaro tentaram reagir e André Fernandes até ensaiou uma resposta, invocando a liderança de Jair. A verdade é que, com o líder preso e filhos tão incapazes, coube a Michelle Bolsonaro ocupar uma posição estratégica dentro do campo.

Esqueça o pragmatismo partidário, as conversas de bastidor capazes de unir um Capitão Wagner a um Ciro Gomes. Falo de outra força, cara ao bolsonarismo: a de conexão emocional com um eleitorado fortemente ideológico, carente de ídolos e aficionado por essa imagem da moralidade dedicada.

Com um filho antipatriota e outro mais comedido, quem melhor do que a esposa devota, sofrida e indignada para se conectar com o eleitor amante da imagem do Bolsonaro grande líder? Michelle Bolsonaro cuida de sua imagem como poucos.

Tem mostrado uma habilidade muito estudada na hora de se posicionar. É essa aparência de coerência com o discurso do bolsonarismo que torna Michelle Bolsonaro mais confiável à base e que justifica seu desempenho nas sondagens de intenção de voto. Só a miopia misógina explica a tolice de se ignorar ou subestimar importância dela no xadrez eleitoral de 2026.

Diz-se que os filhos políticos não se dão com a madastra, que a acham pouco leal e que preferem herdar o capital político do pai a compartilhá-lo com Michelle. Podemos atribuir essa cautela a um certo senso de sobrevivência.

Ela, afinal de contas, tem se mostrado mais carismática, ativamente engajada com os eventos do partido por todo o país, falando em nome de um Jair Bolsonaro agora inteiramente ausente. Os filhos, por incapacidade ou falta de brilho, não foram capazes de se firmar como nomes aptos a aglutinar a força do bolsonarismo.

No fim da tarde de ontem, Flávio Bolsonaro declarou-se candidato por escolha do pai. Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, confirmou a notícia, afirmando que "se Bolsonaro falou, está falado". Ainda é cedo para sabermos se a decisão se firmará, considerando que Tarcísio de Freitas é o nome preferido dos partidos de centro direita alinhados ao bolsonarismo, mas o anúncio só pode ser interpretado como uma reação dos filhos ao crescente protagonismo da madrasta.

É possível que o bolsonarismo, afinal, seja ferido de morte não por um antagonista forte, mas por sua própria disputa familiar. Sem unidade e pragmatismo, o que resta a Flávio, Bolsonaro ou Michelle é apenas o isolamento próprio da ambição pouco inteligente.

 

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